Os pesquisadores do Projeto Coral Vivo estão atentos aos dados distribuídos pelo NOAA (serviço oceanográfico e atmosférico do governo americano) sobre a possibilidade de branqueamento de corais na costa brasileira até maio deste ano. Os mapas gerados atualmente apontam Alerta Nível 2 para o Sul da Bahia e Búzios, e Alerta Nível 3 na região próxima a Búzios.
Há 4 níveis de alerta, explica o geólogo José Carlos Seoane, professor do Instituto de Geociências da UFRJ e membro da Rede de Pesquisas Coral Vivo. ”Os níveis flutuam diariamente, com o objetivo de acompanhar as mudanças e variações. Quando tudo está normal, não há alerta. Quando se atinge o alerta máximo, o branqueamento passa a ser quase certo.”
“Todos os dias, os satélites adquirem informações sobre a temperatura da superfície do mar. A confiança da previsão é de 90%, e estamos observando continuamente”, explica Seoane.
O Coral Vivo faz parte da Rede Biomar (Rede de Projetos de Biodiversidade Marinha), que reúne também os projetos Tamar, Baleia Jubarte, Golfinho Rotador e Albatroz.
Em 2011, Seoane conseguiu que o NOAA instalasse no Brasil “bóias virtuais”, que guardam as informações adquiridas pelos satélites, para monitorar o efeito das mudanças climáticas nas seis áreas mais significativas com recifes de coral e comunidades coralíneas: Maracajaú (RN), Fernando de Noronha e Atol das Rocas (PE), Costa dos Corais (PE e AL), Recife de Fora (BA), Abrolhos (BA) e Búzios (RJ). A iniciativa gera dados contínuos da temperatura da superfície do mar nesses pontos-chave. Desde então foram também criadas “bóias virtuais” na Bahia de Todos os Santos (BA) e na Ilha da Trindade (ES).
“A previsão de branqueamento, que gera o alerta, é feita a partir da temperatura da superfície da água do mar, comparada a média da temperatura esperada para cada dia do ano, chamada de ‘climatologia’, e leva também em conta quantos dias a temperatura está acima do normal, e se a água está circulando ou parada (pela medição dos ventos)”, informa.
O branqueamento ocorre quando as microalgas simbiontes – chamadas de zooxantelas e que dão cor ao tecido quase transparente do coral – são expulsas por conta de estresses como aquecimento, acidificação da água ou poluição. Assim, o esqueleto calcário fica visível atrás do tecido quase transparente. “Quanto mais intenso e duradouro for o evento estressante, maior é a chance de a colônia de coral adoecer e morrer”, explica o coordenador geral do Projeto Coral Vivo e professor do Museu Nacional/UFRJ, o biólogo marinho Clovis Castro.
O doutorando Gustavo Duarte chama a atenção para o fato dos corais que ocorrem no litoral brasileiro muitas vezes conseguirem sobreviver a estresses crônicos. “Enquanto os do exterior têm alta taxa de mortalidade, os daqui conseguem se recuperar em seis meses, com o retorno das algas zooxantelas à colônia”, diz.
Com o intuito de estudar o comportamento dos corais que ocorrem no Brasil diante das mudanças climáticas, o Projeto Coral Vivo desenvolveu um mesocosmo marinho. “É um sistema com dezesseis tanques alimentado constantemente pela água do mar, que funciona como uma máquina do tempo simulando as previsões do IPCC da ONU para os próximos 100 anos, por exemplo”, descreve o biólogo marinho Emiliano Calderon, coordenador de pesquisas do Coral Vivo. Nele, são realizados experimentos com a participação de diferentes universidades e institutos de pesquisa públicos na base de pesquisas localizada no Arraial d’Ajuda Eco Parque, em Porto Seguro (BA). A região tem uma das maiores biodiversidades marinhas do Atlântico Sul. “Esses dados gerados pelo mesocosmo marinho do Coral Vivo contribuirão para tomadas de decisão de políticas públicas, principalmente”, completa Duarte.