Enquanto as discussões climáticas em Bonn (Alemanha) acontecem num ritmo lento neste começo de junho, cresce o movimento para que os negociadores definam uma meta de longo prazo para reduzir as emissões globais, o que ajudaria a salvar as negociações climáticas da ONU na próxima Conferência do Clima, que acontecerá no final do ano em Paris.
Atualmente, 127 países concordam com uma meta de redução de longo prazo para limitar o aquecimento global em até 2⁰C até o final deste século. No entanto, existem questões controversas sobre quão ambicioso esse objetivo pode ser e qual seria o ano limite para tal meta ser alcançada pelos países.
Muitas das nações mais vulneráveis do planeta, como as Ilhas Samoa, a Etiópia e as Maldivas, assim como os presidentes e fundadores de algumas das maiores empresas do mundo, como a Unilever, a Natura e a Tata, têm demonstrado forte apoio para uma rápida redução de emissões, de forma a alcançar uma meta de emissão zero até 2050. Já outros países apoiam a ideia de um objetivo de longo prazo global de emissão zero em algum período da segunda metade deste século. Entretanto, isso limitaria significativamente as chances de o mundo impedir o aquecimento global acima dos 2⁰C.
De acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), qualquer atraso pode colocar a saúde do planeta em perigo. Se as emissões globais forem reduzidas a zero somente por volta de 2075, os cientistas preveem que teremos apenas 66% de chances de manter o aumento da temperatura média global dentro desse limite.
Os países que são a favor de um objetivo global de longo prazo são aqueles que já possuem metas nacionais de longo prazo em execução. Nesse grupo temos grandes nações desenvolvidas, como o Reino Unido e os Estados Unidos, que possuem metas de redução de longo prazo entre 80% e 83% até 2050. Contudo, muitos países já planejam zerar suas emissões até a metade deste século, como Butão, Costa Rica, Dinamarca, Etiópia, Maldivas, Mônaco, Noruega e Suécia.
A Costa Rica almeja ser neutra em carbono antes de 2050 – planeja atingir esse objetivo em até seis anos. No começo de 2015, a nação caribenha tornou-se o primeiro país do mundo a suprir suas necessidades energéticas com 100% de energia renovável por 75 dias seguidos. Este investimento em energias renováveis permitiu que o governo costarriquenho reduzisse o preço de sua energia entre 7% e 15% no ano passado.
Do mesmo modo, a Dinamarca se comprometeu a transformar sua matriz energética. Atualmente, o país recebe 19% de sua energia de fontes renováveis. No entanto, já existem planos de descarbonização dessa matriz, com metas para 2020, 2025 e 2050. Inicialmente, o governo dinamarquês tem como objetivo aumentar a geração de energia por fonte eólica e de biomassa, de forma a atingir a meta de 33% de energia renovável no país até 2020.
Somado a isso, a cidade de Copenhague também se comprometeu com a neutralização de suas emissões até 2025, combinando medidas de eficiência energética com os atuais 400 km de ciclovias e uma rede de tubos de aquecimento e arrefecimento de edifícios que reduz as emissões de carbono em cerca de 70%, e o consumo de energia em 80%.
“Nós queremos mostrar que é possível combinar crescimento e aumento da qualidade de vida enquanto reduzimos as emissões de carbono”, argumenta Frank Jenson, prefeito de Copenhague. O discurso é semelhante ao de seu colega na capital norueguesa, Oslo, Fabian Stang, que planeja mudar a cidade do baixo carbono para o zero carbono. Isso reforça a importância da articulação de ações envolvendo diferentes âmbitos, do local ao nacional, como uma solução coletiva poderosa para reduzir as emissões nacionais.
Mas, e o Brasil? O governo brasileiro ainda não submeteu à ONU o seu compromisso climático nacional, revelando sua meta de redução de emissões e o período em que pretende alcançá-la. O país, que na década passada conseguiu reduzir suas taxas de desmatamento de forma significativa e, consequentemente, suas emissões de gases do efeito estufa, está passando hoje por um momento inverso: o desmatamento voltou a subir nos últimos anos, além do aumento recente da participação das usinas termelétricas na matriz elétrica nacional.
Outro ponto preocupante para o Brasil é o pré-sal, a “menina dos olhos” do governo nos últimos anos, que já vem drenando fortes investimentos para sua exploração e produção, colocando o país na contramão do movimento internacional em prol das fontes renováveis de energia. O governo ainda se vangloria pela extração no pré-sal, mas isso pode se configurar em um tremendo abismo econômico, pois as perspectivas são que nos próximos dez anos as energias renováveis, principalmente a solar, estejam mais baratas do que os combustíveis fósseis.
Não basta fazer investimentos pontuais e esporádicos, com políticas públicas contraditórias que nos levam a lugar nenhum. O paradigma que orientará as nações neste século será o da redução das emissões; se o Brasil demorar muito para entender isso, ficará para trás nessa transição.