O homem como guardião da Terra
Por Monica C. Ribeiro
Foto: Mohamed Nohassi/ Unsplash
Em boa parte das tradições religiosas a humanidade seria responsável por cuidar da Terra e de todas as outras criaturas vivas para o Criador. O Homo sapiens seria uma espécie privilegiada pela razão, e por isso teria essa predominância sobre as demais criaturas.
A crise ambiental levou todos os setores, inclusive as religiões, a ficar alerta. Em 1986, da Basílica de São Francisco de Assis, na Itália, saiu o documento A Declaração de Assis , assinada por representantes do Budismo, Cristianismo, Hinduísmo, Islamismo e Judaísmo. O encontro dos líderes dos cinco maiores sistemas de crença foi proposto pelo príncipe Philip, duque de Edimburgo, então presidente do WWF International, que nove anos depois fundaria a Aliança das Religiões e Conservação (ARC). A partir daí, a ARC reuniu, além das declarações destas cinco crenças, outras sete .
A adaptação dos ensinamentos religiosos para reavaliar a natureza e minimizar sua destruição pôde marcar uma nova fase no pensamento religioso – assim avaliou Thomas Berry, historiador das religiões e “ecoteólogo” americano morto em 2009. Ele considerava necessária uma reavaliação abrangente das relações do ser humano com a Terra se quiséssemos que nossa espécie continuasse viável em um planeta cada vez mais degradado.
Isso exigiria a adoção de visões de mundo diferentes das que capturaram a imaginação das sociedades contemporâneas industrializadas, que veem a natureza como um objeto a ser explorado. O desafio é descobrir como as diferentes tradições religiosas podem contribuir para essa discussão.
Budismo
Embora a imagem de Buda sob a árvore da iluminação não tenha sido interpretada tradicionalmente como paradigma para o pensamento ecológico, ambientalistas budistas apontam que o Buda nasceu, alcançou a iluminação e morreu sob árvores.
O Budismo defende uma atitude simples e não agressiva para com a natureza. Os conceitos de Karma e Renascimento apontam uma conexão entre todas as formas de vida sencientes. Na visão do monge tailandês Buddhadasa Bhikkhu (1906-1993), o Cosmos inteiro é uma cooperativa. O Sol, a Lua e as estrelas vivem juntos, e o mesmo é verdadeiro para os seres humanos e animais, árvores e a Terra.
No mito budista das origens, o organismo humano destrói a ordem natural das coisas, afetando diretamente os processos naturais em razão da sua moralidade. Ao começar a olhar para nós mesmos e a vida que vivemos, podemos vir a reconhecer que a verdadeira solução para a crise ambiental começa em nós mesmos.
O Budismo no mundo
Os budistas hoje são aproximadamente meio bilhão de pessoas no mundo (7% da população mundial). Até 2050, deverão ser 5,2%, segundo projeção do Pew Research Center. A justificativa para essa redução são as baixas taxas de fertilidade e envelhecimento de populações em países como China, Japão e Tailândia.
Cristianismo
A cosmologia do Cristianismo mostra o homem como a imagem e semelhança de Deus, confiando-lhe domínio exclusivo sobre todas as outras criaturas. Isso confere certa duplicidade ao ser humano: ao mesmo tempo que tem esse domínio, encontra-se submetido aos desígnios de Deus. É o mesmo dilema moral que aparece em quase todas as religiões monoteístas.
Por conta dessa dualidade, a dominação do homem não poderia ser tomada como licença para abusar, esbanjar ou destruir o que foi criado por Deus. Os cristãos acreditam que a recusa do primeiro homem em viver de acordo com os pressupostos divinos trouxe desarmonia em sua relação com Deus e as outras criaturas. Essa rebelião perpetuou-se na História, tomando várias formas de injustiça, dominação e exploração, o que teria tornado praticamente impossível para os homens viver em concórdia entre si e com o resto da criação.
Em uma acepção contemporânea – bastante presente no catolicismo do papa Francisco –, a humanidade deveria mostrar responsabilidade por lugares e espécies, ser o “mordomo” da continuidade da vida, cuidar da Terra como criação de Deus, ser responsável pelo bem comum e para as gerações futuras, promover uma visão de consumo de recursos menos predatória.
O Cristianismo no mundo
Hoje os cristãos, em suas diversas correntes, são 2,17 bilhões de pessoas no mundo (31,4% da população mundial). Em 2050, este número deve aumentar para 2,92 bilhões de pessoas, mas a fatia continuará a mesma diante do crescimento das outras manifestações de fé.
Hinduísmo
Para o Hinduísmo, todas as vidas têm a mesma importância e desempenham papéis fixos, mas em conjunto. Se algum elo dessa cadeia é perdido, todo o equilíbrio ecológico será perturbado. Todos os tipos de vida – insetos, pássaros e animais em geral – contribuem para a manutenção do equilíbrio ecológico. No entanto, todos os animais desempenham suas funções sem precisar refletir sobre o que estão fazendo. Por isso, a contribuição da humanidade nessa cadeia deveria ser maior.
De acordo com a tradição Vaishnava, a evolução da vida neste planeta é simbolizada por encarnações divinas, começando por peixes, passando a anfíbios, animais mamíferos até a encarnação em humanos. Isso conduz a uma reverência pela vida animal, da qual teríamos evoluído.
O ambiente natural também tem destaque nas antigas escrituras hindus. Florestas e bosques são considerados sagrados. Assim como animais foram associados com deuses e deusas, plantas e árvores também foram relacionadas ao panteão hindu. O Mahabharata, texto sagrado monumental em tamanho e importância no hinduísmo, diz que, “mesmo se houver apenas uma árvore cheia de flores e frutos em uma aldeia, esse lugar se torna digno de adoração e respeito”.
Além dessa reverência às árvores, os rios também são parte integrante da prática religiosa hindu. Apesar da contaminação, a água do Ganges desempenha um papel importante na vida ritual da Índia.
Um antigo ditado hindu diz: “A Terra é nossa mãe e todos nós somos seus filhos. A Terra alimenta, abriga e veste. Sem ela não nos é possível sobreviver. Se a humanidade, como filha, não cuidar dela, ela diminuirá sua capacidade de cuidar dos seres humanos”.
O hinduísmo no mundo
Os hindus são hoje 1,03 bilhão de pessoas no mundo (15% da população). Em 2050 as projeções são de que aumentem, em números absolutos, para 1,38 bilhão (14,9%).
Islamismo
A essência do ensinamento islâmico é que o universo inteiro é criação de Alá. A humanidade é considerada muito especial, porque foi criada com a razão e o poder de pensar, e até mesmo os meios para se voltar contra seu Criador.
Para o Islamismo, o papel da humanidade na Terra é de um “curador” de Deus. A Terra pertence a Deus, e à humanidade foi confiada a sua guarda. Manter a integridade da Terra seria, então, tarefa do homem como guardião do planeta.
Maomé, o profeta do Islã, teria declarado: “Quem planta uma árvore e diligentemente cuida dela até que amadureça e produza frutos é recompensado”. A humanidade precisa se posicionar em relação a temas diversos – incluindo os ambientais – e preparar-se para fazer escolhas, pois em outra vida será responsável por aquilo que fizer aqui na Terra.
Acima de tudo, para o Islamismo a humanidade deve preservar o equilíbrio. Em virtude de nossa inteligência, o homem deveria ser a única criação de Deus com a responsabilidade global de manter o planeta no equilíbrio ecológico encontrado quando da criação da Terra.
O IslamIsmo no mundo
Os muçulmanos hoje são aproximadamente 1,6 bilhão de pessoas no mundo (23,2% da população). Em 2050, esse número deverá aumentar para 2,76 bilhões de pessoas (29,7%). Esta é a religião que deverá ter o crescimento mais vertiginoso, atingindo quase o mesmo número de cristãos nas próximas décadas, com possibilidade de ultrapassagem em 2070.
Judaísmo
Na atitude clássica judaica, a natureza é consequência direta da crença de que o universo inteiro é o trabalho de Deus, criado para a humanidade. É, portanto, errado desperdiçá-la.
A base para toda a ética judaica – ama o teu próximo como a ti mesmo – se aplicaria à proteção do ambiente. Para os judeus, Deus disse que os primeiros seres humanos foram feitos para dominar a Terra e todas as coisas vivas. Mas isso não significaria uma “carta branca” divina para explorar a natureza sem remorsos. Deus situa o homem no jardim e diz a ele para trabalhá-lo e vigiá-lo. Estas seriam as implicações desse domínio. Tal mandamento, de vigiar o jardim, caracterizaria a Terra como propriedade de Deus, não dos homens.
A narrativa da criação, que abre a Torá, é bem clara nesse sentido: “Preserve este belo mundo para seus descendentes, porque, se você deixar de fazê-lo, não haverá mais chances para restaurá-lo”.
Quando Deus criou o mundo colocou ordem no caos primordial. O Sol, a Lua, as estrelas, as plantas, os animais e, finalmente, o homem foram criados com um lugar legítimo e necessário no Universo. Na tradição cabalística, Adão deu nome a todas as criaturas de Deus, ajudando a definir sua essência. E jurou viver em harmonia com aqueles a quem ele havia nominado. Assim, no início dos tempos, o homem aceitou a responsabilidade, diante de Deus.
O judaísmo no mundo
Os judeus são hoje em torno de 13,8 milhões de pessoas no mundo (0,2% da população). Haverá um ligeiro crescimento até 2050, passando a 16 milhões – o que em números relativos não muda, pois permanecerá representando 0,2% da população.[:en]
O homem como guardião da Terra
Em boa parte das tradições religiosas a humanidade seria responsável por cuidar da Terra e de todas as outras criaturas vivas para o Criador. O Homo sapiens seria uma espécie privilegiada pela razão, e por isso teria essa predominância sobre as demais criaturas.
A crise ambiental levou todos os setores, inclusive as religiões, a ficar alerta. Em 1986, da Basílica de São Francisco de Assis, na Itália, saiu o documento A Declaração de Assis , assinada por representantes do Budismo, Cristianismo, Hinduísmo, Islamismo e Judaísmo. O encontro dos líderes dos cinco maiores sistemas de crença foi proposto pelo príncipe Philip, duque de Edimburgo, então presidente do WWF International, que nove anos depois fundaria a Aliança das Religiões e Conservação (ARC). A partir daí, a ARC reuniu, além das declarações destas cinco crenças, outras sete .
A adaptação dos ensinamentos religiosos para reavaliar a natureza e minimizar sua destruição pôde marcar uma nova fase no pensamento religioso – assim avaliou Thomas Berry, historiador das religiões e “ecoteólogo” americano morto em 2009. Ele considerava necessária uma reavaliação abrangente das relações do ser humano com a Terra se quiséssemos que nossa espécie continuasse viável em um planeta cada vez mais degradado.
Isso exigiria a adoção de visões de mundo diferentes das que capturaram a imaginação das sociedades contemporâneas industrializadas, que veem a natureza como um objeto a ser explorado. O desafio é descobrir como as diferentes tradições religiosas podem contribuir para essa discussão.
Budismo
Embora a imagem de Buda sob a árvore da iluminação não tenha sido interpretada tradicionalmente como paradigma para o pensamento ecológico, ambientalistas budistas apontam que o Buda nasceu, alcançou a iluminação e morreu sob árvores.
O Budismo defende uma atitude simples e não agressiva para com a natureza. Os conceitos de Karma e Renascimento apontam uma conexão entre todas as formas de vida sencientes. Na visão do monge tailandês Buddhadasa Bhikkhu (1906-1993), o Cosmos inteiro é uma cooperativa. O Sol, a Lua e as estrelas vivem juntos, e o mesmo é verdadeiro para os seres humanos e animais, árvores e a Terra.
No mito budista das origens, o organismo humano destrói a ordem natural das coisas, afetando diretamente os processos naturais em razão da sua moralidade. Ao começar a olhar para nós mesmos e a vida que vivemos, podemos vir a reconhecer que a verdadeira solução para a crise ambiental começa em nós mesmos.
O Budismo no mundo
Os budistas hoje são aproximadamente meio bilhão de pessoas no mundo (7% da população mundial). Até 2050, deverão ser 5,2%, segundo projeção do Pew Research Center. A justificativa para essa redução são as baixas taxas de fertilidade e envelhecimento de populações em países como China, Japão e Tailândia.
Cristianismo
A cosmologia do Cristianismo mostra o homem como a imagem e semelhança de Deus, confiando-lhe domínio exclusivo sobre todas as outras criaturas. Isso confere certa duplicidade ao ser humano: ao mesmo tempo que tem esse domínio, encontra-se submetido aos desígnios de Deus. É o mesmo dilema moral que aparece em quase todas as religiões monoteístas.
Por conta dessa dualidade, a dominação do homem não poderia ser tomada como licença para abusar, esbanjar ou destruir o que foi criado por Deus. Os cristãos acreditam que a recusa do primeiro homem em viver de acordo com os pressupostos divinos trouxe desarmonia em sua relação com Deus e as outras criaturas. Essa rebelião perpetuou-se na História, tomando várias formas de injustiça, dominação e exploração, o que teria tornado praticamente impossível para os homens viver em concórdia entre si e com o resto da criação.
Em uma acepção contemporânea – bastante presente no catolicismo do papa Francisco –, a humanidade deveria mostrar responsabilidade por lugares e espécies, ser o “mordomo” da continuidade da vida, cuidar da Terra como criação de Deus, ser responsável pelo bem comum e para as gerações futuras, promover uma visão de consumo de recursos menos predatória.
O Cristianismo no mundo
Hoje os cristãos, em suas diversas correntes, são 2,17 bilhões de pessoas no mundo (31,4% da população mundial). Em 2050, este número deve aumentar para 2,92 bilhões de pessoas, mas a fatia continuará a mesma diante do crescimento das outras manifestações de fé.
Hinduísmo
Para o Hinduísmo, todas as vidas têm a mesma importância e desempenham papéis fixos, mas em conjunto. Se algum elo dessa cadeia é perdido, todo o equilíbrio ecológico será perturbado. Todos os tipos de vida – insetos, pássaros e animais em geral – contribuem para a manutenção do equilíbrio ecológico. No entanto, todos os animais desempenham suas funções sem precisar refletir sobre o que estão fazendo. Por isso, a contribuição da humanidade nessa cadeia deveria ser maior.
De acordo com a tradição Vaishnava, a evolução da vida neste planeta é simbolizada por encarnações divinas, começando por peixes, passando a anfíbios, animais mamíferos até a encarnação em humanos. Isso conduz a uma reverência pela vida animal, da qual teríamos evoluído.
O ambiente natural também tem destaque nas antigas escrituras hindus. Florestas e bosques são considerados sagrados. Assim como animais foram associados com deuses e deusas, plantas e árvores também foram relacionadas ao panteão hindu. O Mahabharata, texto sagrado monumental em tamanho e importância no hinduísmo, diz que, “mesmo se houver apenas uma árvore cheia de flores e frutos em uma aldeia, esse lugar se torna digno de adoração e respeito”.
Além dessa reverência às árvores, os rios também são parte integrante da prática religiosa hindu. Apesar da contaminação, a água do Ganges desempenha um papel importante na vida ritual da Índia.
Um antigo ditado hindu diz: “A Terra é nossa mãe e todos nós somos seus filhos. A Terra alimenta, abriga e veste. Sem ela não nos é possível sobreviver. Se a humanidade, como filha, não cuidar dela, ela diminuirá sua capacidade de cuidar dos seres humanos”.
O hinduísmo no mundo
Os hindus são hoje 1,03 bilhão de pessoas no mundo (15% da população). Em 2050 as projeções são de que aumentem, em números absolutos, para 1,38 bilhão (14,9%).
Islamismo
A essência do ensinamento islâmico é que o universo inteiro é criação de Alá. A humanidade é considerada muito especial, porque foi criada com a razão e o poder de pensar, e até mesmo os meios para se voltar contra seu Criador.
Para o Islamismo, o papel da humanidade na Terra é de um “curador” de Deus. A Terra pertence a Deus, e à humanidade foi confiada a sua guarda. Manter a integridade da Terra seria, então, tarefa do homem como guardião do planeta.
Maomé, o profeta do Islã, teria declarado: “Quem planta uma árvore e diligentemente cuida dela até que amadureça e produza frutos é recompensado”. A humanidade precisa se posicionar em relação a temas diversos – incluindo os ambientais – e preparar-se para fazer escolhas, pois em outra vida será responsável por aquilo que fizer aqui na Terra.
Acima de tudo, para o Islamismo a humanidade deve preservar o equilíbrio. Em virtude de nossa inteligência, o homem deveria ser a única criação de Deus com a responsabilidade global de manter o planeta no equilíbrio ecológico encontrado quando da criação da Terra.
O IslamIsmo no mundo
Os muçulmanos hoje são aproximadamente 1,6 bilhão de pessoas no mundo (23,2% da população). Em 2050, esse número deverá aumentar para 2,76 bilhões de pessoas (29,7%). Esta é a religião que deverá ter o crescimento mais vertiginoso, atingindo quase o mesmo número de cristãos nas próximas décadas, com possibilidade de ultrapassagem em 2070.
Judaísmo
Na atitude clássica judaica, a natureza é consequência direta da crença de que o universo inteiro é o trabalho de Deus, criado para a humanidade. É, portanto, errado desperdiçá-la.
A base para toda a ética judaica – ama o teu próximo como a ti mesmo – se aplicaria à proteção do ambiente. Para os judeus, Deus disse que os primeiros seres humanos foram feitos para dominar a Terra e todas as coisas vivas. Mas isso não significaria uma “carta branca” divina para explorar a natureza sem remorsos. Deus situa o homem no jardim e diz a ele para trabalhá-lo e vigiá-lo. Estas seriam as implicações desse domínio. Tal mandamento, de vigiar o jardim, caracterizaria a Terra como propriedade de Deus, não dos homens.
A narrativa da criação, que abre a Torá, é bem clara nesse sentido: “Preserve este belo mundo para seus descendentes, porque, se você deixar de fazê-lo, não haverá mais chances para restaurá-lo”.
Quando Deus criou o mundo colocou ordem no caos primordial. O Sol, a Lua, as estrelas, as plantas, os animais e, finalmente, o homem foram criados com um lugar legítimo e necessário no Universo. Na tradição cabalística, Adão deu nome a todas as criaturas de Deus, ajudando a definir sua essência. E jurou viver em harmonia com aqueles a quem ele havia nominado. Assim, no início dos tempos, o homem aceitou a responsabilidade, diante de Deus.
O judaísmo no mundo
Os judeus são hoje em torno de 13,8 milhões de pessoas no mundo (0,2% da população). Haverá um ligeiro crescimento até 2050, passando a 16 milhões – o que em números relativos não muda, pois permanecerá representando 0,2% da população.