Em menos de um mês, a China registrou dois acidentes industriais de enormes proporções que disseminaram contaminantes tóxicos na água e na atmosfera, ampliando o problema crônico de poluição e expondo o descaso com as normas de segurança na produção, transporte e venda de produtos perigosos. O episódio mais recente, ocorrido numa indústria de materiais adesivos em Dongying, na costa da província de Shandong, no leste do país, ontem, matou uma pessoa. Seis executivos da Shandong Binyuan Chemical, empresa responsável pela unidade, foram presos.
Dongying fica a apenas 300 quilômetros de Tianjin, a cidade que teve sua vida transtornada há três semanas, em 12 de agosto, quando duas explosões destruíram um depósito de produtos químicos de enormes proporções. O acidente matou ao menos 158 pessoas e feriu cerca de 600, na sua maioria bombeiros. O impacto foi tão violento que o centro chinês de monitoramento de terremotos, em Beijing, indicou que a primeira explosão foi equivalente à de um abalo sísmico de 2,3 na escala Richter. A segunda explosão foi ainda mais poderosa, chegando a 2,9 – com impacto similar ao da detonação de 21 toneladas de dinamite, pelas estimativas da agência de notícias chinesa Caixin. Este vídeo doméstico dá bem uma dimensão do drama.
Os depósitos ocupavam cerca de 45 mil metros quadrados e estavam num raio de menos de um quilômetro de inúmeros imóveis residenciais, inclusive alguns arranha-céus e uma estação de metrô, em desrespeito às normas de segurança locais. Cerca de 17 mil apartamentos foram danificados. Dentre os produtos estocados nos depósitos havia 700 toneladas de cianureto de sódio, 800 toneladas de nitrato de amônia e 500 toneladas de nitrato de potássio. Espuma tóxica, arrastada pela chuva que varreu a cidade dias após as explosões foi encontrada a 5,5 quilômetros de distância da área de estocagem. Coleta de amostras de água realizadas em 29 pontos nas redondezas 24 horas após o incidente revelaram alto teor de contaminação por cianureto de sódio.
A empresa de logística Ruihai International, proprietária dos depósitos, está sendo investigada e 12 funcionários e executivos, bem como 11 autoridades governamentais, já foram presos por sua suposta responsabilidade. Um executivo de logística ouvido pela agência Caixin, que preferiu manter-se anônimo, disse que o porto de Tianjin ganhou popularidade como entreposto de estocagem e transporte de substâncias químicas justamente porque as autoridades locais são notórias por negligenciarem a fiscalização.