O diário britânico The Guardian e a Ben & Jerry’s, uma das maiores fabricantes de sorvete dos EUA, cuja marca é sinônimo de irreverência e sustentabilidade, acabaram de lançar uma série de vídeos humorísticos sobre o impacto que as mudanças climáticas terão sobre a paisagem. Num deles, uma corretora de imóveis tenta passar adiante uma propriedade que ela sabe que estará mais sujeita a furacões:
O vídeo ilustra uma preocupação que está começando a influenciar o mercado imobiliário americano. Acadêmicos, investidores e indivíduos com capacidade de planejamento estão tentando se antecipar ao aguçamento da crise climática e identificar áreas que não serão muito afetadas ou que se beneficiarão de alguma forma. A pergunta de 1 milhão de dólares é: onde procurar refúgio quando as temperaturas se elevarem, os oceanos subirem e os furacões se tornarem mais frequentes e violentos?
Nenhum lugar do planeta estará imune aos impactos das mudanças climáticas. Mesmo áreas elevadas ou distantes da costa, com clima hoje temperado e abundância de água, certamente vão receber levas de refugiados ambientais deslocados dos seus locais de origem. Mas é certo que quem se mobilizar antes conseguirá minimizar ou pelo menos adiar suas perdas pessoais e financeiras.
Eu mesma tentei fazer esse exercício de futurologia há quatro anos, quando convenci minha família a empacotar todos os nossos bens e atravessar metade dos Estados Unidos de carro, para trocar o árido Novo México pelo chuvoso Oregon, na costa do Pacífico. Eu tinha bem claro que precisávamos sair de um estado com verões escaldantes e praticamente sem fontes hídricas. Escolhi a cidade de Portland após calcular que uma elevação de um punhado de graus seria benéfica a um lugar onde chove sem parar durante a metade do ano. Na época, conheci uma família que fez o caminho inverso. Perguntei porque se mudaram para o Novo México: “Porque acreditamos na Profecía Maia”. Eu ri e dei uma piscadinha: “Pois nós acreditamos em mudanças climáticas e queremos correr daqui”.
Vários cientistas têm me dado razão. Cliffor Mass, professor de climatologia da University of Washington, considera o Pacific Northwest, os dois estados americanos da costa do Pacífico mais próximos do Canadá, Washington e Oregon, como uma das melhores áreas dos EUA para se escapar do pior. Melhor que isso, só mudando para o Alasca ou o Canadá. Conscientes dessa tendência, os viticultores californianos estão comprando terras no Oeste do estado de Washington para criar ali uma nova Meca dos vinhos, que se tornará viável quando a área aquecer e se tornar um pouco menos úmida. Em entrevista ao The New York Times, Matthew Kahn, professor de economia ambiental da University of California em Los Angeles sugere que outra opção seria migrar para as cidades em plantaltos (menores temperaturas) no miolo do país (longe de furacões), como Minneapolis, Salt Lake City, Milwaukee e Detroit.
No mês passado, essa discussão chegou à revista americana The Atlantic, que especula se “Há algum lugar na Terra seguro quanto às mudanças climáticas?” James Hansen, diretor de Ciência Climática do Earth Institute da Columbia University, ouvido pela reportagem, põe suas fichas na Suíça (longe da costa, fria, com muita neve capaz de disponibilizar água potável e isolada pelos Alpes das massas de migrantes climáticos). Seguindo tal lógica, qual seriam as melhores opções no Brasil? Teríamos de descartar toda a costa (elevação dos oceanos e furacões, temperaturas geralmente altas), todo o Centro-Oeste (aridez, calor) e São Paulo (seria perfeita se não tivesse tamanha população, temperaturas elevadas pelo excesso de edifícios e impermeabilização do solo, e falta d’água). Também tenho minhas dúvidas sobre a Amazônia, devido à altas temperaturas. Eu apostaria nas cidades em planaltos do interior dos estados do Sul, Sudeste e até do Nordeste, como Piatã e Vitória da Conquista, na Bahia, Guaraciaba, no Ceará, e Martins, no Rio Grande do Norte.
Outra forma de olhar para o problema é buscar áreas mais preparadas para amenizar os efeitos das mudanças climáticas (em outras palavras, que têm recursos financeiros e estão botando a mão na massa desde já). O mapa abaixo dá algumas pistas nesse sentido:
Qual a sua opinião a respeito? Faz realmente sentido investir na transferência de sua residência e investimentos para áreas supostamente mais protegidas, ou seria este um exercício fútil?