Quase um terço das áreas inscritas no Patrimônio Natural da Humanidade, lista criada pela Unesco para destacar áreas particularmente importantes do ponto de vista biológico, têm seu futuro comprometido pelas indústrias de extração mineral e de combustíveis fósseis. Estudo divulgado esta semana pelo WWF do Reino Unido e os fundos de investimentos Aviva e Investec indica que 70 unidades de conservação, num universo de 229 áreas protegidas, estão expostas a derramamentos de petróleo e depósitos de resíduos de mineração (Este é o sumário executivo; o WWF chegou a divulgar na web uma versão completa, que foi tirada do ar no fim da noite de hoje). O estudo “Safeguarding Outstanding Natural Value” lembra que essas unidades de conservação representam menos de 1% da superfície terrestre, mas abrigam espécies icônicas e extremamente ameaçadas, como os gorilas das monhas, os tigres de Sumatra, tartarugas gigantes e rinocerontes brancos.
O Grand Canyon, nos Estados Unidos, a Grande Barreira de Corais, no noroeste da Austrália (rota do transporte marítimo de carvão), o Delta do Okavango, em Botsuana, e o Parque nacional de Virunga, na República Democrática do Congo, estão entre as áreas citadas no trabalho. Rico em petróleo, o santuário de gorilas de Virunga esteve em vias de ser amplamente explorado por duas empresas petrolíferas, a britânica Soco e a francesa Total, que desistiram da empreitada nos últimos dois anos, devido à pressão internacional. Segundo o relatório do WWF, as áreas naturais da África são as mais ameaçadas – 61% das áreas de Patrimônio Natural da Unesco do continente estão na mira de mineradoras e indústrias petrolíferas. Cerca de 13% das unidades na América Latina e no Caribe correm risco similar.
O levantamento consolida dados sobre concessões e atividades extrativistas nessas reservas, produzida desde o início desta década pelo Pnuma, a UICN e outras organizações internacionais. Ele também faz uma declaração política, lamentando que muitos governos ignorem sua responsabilidade de coibir a degradação dessas áreas e autorizem concessões; sugerindo que os investidores se recusem a adquirir ações de empresas que promovem o extrativismo em áreas do Patrimônio Natural da Humanidade; e recomendando que o setor minerador assuma o compromisso de manter distância dessas áreas protegidas (compromisso este já extraído de algumas gigantes do setor, como Anglo American, Rio Tinto, Shell e BHP Biliton).