Por Bruno Toledo
O Painel Intergovernamental da ONU sobre Mudanças do Clima (IPCC, sigla em inglês), o principal órgão científico do mundo na questão climática, está sob novo comando. Hoesung Lee, professor e economista sul-coreano, é o novo presidente do IPCC, eleito no último dia 06 para ocupar a vaga deixada pelo indiano Rajenda Pachauri.
O novo presidente, que trabalha com o IPCC desde 1992, ocupava até então uma das vice-presidências do Painel. Lee venceu a disputa em segundo turno contra o belga Jean-Pascal van Ypersele, pelo placar de 78 a 56, em votação realizada na cidade de Dubrovnik, na Croacia. Favorecido por uma campanha intensa por parte de Seul e pela sua proximidade com outro proeminente sul-coreano no cenário internacional – o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon – Lee era o favorito na disputa, reunindo apoio da maior parte dos países em desenvolvimento.
Hoesung Lee assume o IPCC num momento crucial para o esforço global contra as mudanças do clima: em menos de dois meses, chefes de Estado do mundo todo se reunirão em Paris para fechar um novo acordo internacional, com compromissos de redução de emissão para todos os países. O 5º relatório de avaliação do Painel, publicado entre 2013 e 2014, é a principal referência de negociadores, cientistas e de representantes da sociedade civil para pressionar os governos em torno de um acordo viável e efetivo para conter o aumento da temperatura média do planeta em dois graus Celsius neste século.
Além da presidência do IPCC, as três vagas da vice-presidência também foram disputadas nessa eleição. Uma das candidatas eleitas é a brasileira Thelma Krug, cientista do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e ex-secretária nacional de mudança climática da gestão Lula (2003-2010). Junto com Krug, foram eleitos a norte-americana Ko Barrett (cientista da Agência Nacional de Oceanos e Atmosfera dos EUA/NOAA) e o malês Youba Sokona (diretor de desenvolvimento sustentável do South Centre, na Suíça).
As escolhas atendem a um velho anseio de países em desenvolvimento por maior representatividade dentro do IPCC. É a primeira vez em que a maior parte de sua direção é composta por cientistas de nações não-Anexo I (aquelas que o Protocolo de Quioto não considera como desenvolvidas, por isso, sem compromissos compulsórios de redução de emissões). Em comunicado divulgado após a vitória, Lee reforçou essa percepção, apontando como uma de suas prioridades na liderança do IPCC o aumento da participação de especialistas de países em desenvolvimento e uma preocupação mais evidente com as relações entre redução de emissões e combate à pobreza.