Por Bruno Toledo
A menos de um mês do início da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima em Paris, a COP 21, milhares de pessoas em todo o mundo já se mobilizam para pressionar governos e negociadores em favor de um acordo climático ambicioso, efetivo e justo para todos os países – e prometem fazer bastante barulho, principalmente se as negociações na capital francesa se encaminharem para o mesmo fracasso visto há seis anos, quando chefes de Estado do mundo inteiro foram incapazes de chegar a um novo acordo na Conferência de Copenhague, a COP 15.
Para muitos grupos, a Conferência de Paris é a última chance de os países conseguirem chegar a um acordo efetivo e viável para combater as mudanças climáticas e impedir que o aumento da temperatura média do planeta supere os 2 graus ainda neste século. Assim, estão previstas ações e campanhas de ruas e redes sociais nos dias que antecedem a abertura da COP 21 em diversas cidades do mundo, além de manifestações populares em Paris durante a conferência.
Uma iniciativa que já realiza ações desde meados de agosto passado é a chamada People’s Pilgrimage, que tem como figura-de-proa o ex-negociador filipino Yeb Saño, uma das vozes mais estridentes nas últimas conferências do clima, sempre em favor de ações e medidas mais ambiciosas e efetivas e trazendo relatos emocionados sobre os recentes desastres climáticos que acometeram as Filipinas desde o começo desta década.
A ideia por trás dessa peregrinação é unir as mais diferentes religiões e crenças em torno de um chamado global por mais ação contra a mudança climática. Dezenas de grupos de todo o mundo se reuniram no começo de outubro em Roma e iniciaram uma marcha de conscientização até Paris, uma jornada que durará quase dois meses, com a chegada ao destino final prevista para a véspera da abertura da COP 21. Na capital francesa, a proposta desse grupo é entregar uma carta aos chefes de Estado que estarão reunidos no Le Bourget, antigo aeroporto da região de Paris que servirá como sede da COP 21, pedindo mais coragem, imaginação e generosidade por parte das lideranças políticas globais em favor de um acordo climático justo.
Outra iniciativa importante é a Marcha Climática Global, organizada pela 350.org e por outros grupos responsáveis pelas grandes manifestações populares na cidade de Nova York em setembro do ano passado, durante a Cúpula do Clima da ONU.
Com ações previstas em mais de 40 cidades em todo o globo entre os dias 28 e 29 de novembro, véspera da COP 21, a Marcha também defende um acordo climático justo e efetivo, que reafirme o compromisso assumido pelo G7 em agosto passado pela “descarbonização” da economia global neste século, e que dê condições financeiras para que a transição completa da matriz energética mundial para fontes renováveis seja feita até 2050.
Em 12 de dezembro, último dia programado da COP 21, os grupos em torno da Marcha planejam realizar uma grande ação em Paris para avaliar os resultados da Conferência e para reafirmar suas demandas. A ideia é que, independente do resultado final da COP 21, a mobilização da sociedade civil em torno de mais ambição na luta contra a mudança climática precisa persistir e se intensificar nos próximos anos.
No Brasil, essa iniciativa está sendo liderada por grupos como Avaaz, Ashoka Brasil, Engajamundo, Greenpeace Brasil, Instituto Socioambiental/ISA, Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor/IDEC, e WWF-Brasil, entre outras dezenas de organizações. Em São Paulo, principal palco da mobilização no Brasil, estão previstas para o dia 29 ações como instalações e performances artísticas, intervenções de coletivos urbanos, além de passeata a partir da Avenida Paulista em direção ao Parque do Ibirapuera. Também estão programadas manifestações em cidades brasileiras como Rio de Janeiro, Porto Alegre, Brasília, Fortaleza, Manaus, Salvador, Curitiba e Florianópolis. Saiba mais aqui.
Preocupação com segurança na França
Em Paris, a principal preocupação dos organizadores da COP 21 é evitar que manifestações mais agressivas aconteçam nos arredores do Le Bourget antes e durante a conferência, particularmente em seus primeiros dias, quando os chefes de estado deverão dar o pontapé inicial na última etapa de negociação do novo acordo climático. Ainda sob o trauma dos atentados terroristas que aconteceram na França em janeiro (contra a revista satírica Charlie Hebdo, em Paris) e junho (contra uma usina de gás em Lyon), a segurança é prioridade máxima durante a COP 21.
Um documento divulgado pela imprensa francesa na semana passada aponta o temor das autoridades do país de que as manifestações de rua programadas durante a COP 21 sejam infiltradas por black blocs, grupos radicais que ficaram bastante conhecidos no Brasil nos últimos anos. Militares e policiais estarão de prontidão e em alerta total durante toda a conferência, inclusive para evitar as cenas vistas em Copenhague, durante a COP 15, quando milhares de pessoas tentaram invadir o Bella Center, o centro de convenções onde as negociações aconteciam na época.