A RedeResíduo, além de desviar toneladas de entulho dos aterros, cria soluções para que o rejeito das construções retorne à empresa geradora como matéria-prima
A despeito das caçambas abarrotadas, os resíduos da construção civil não recebem muita atenção de prefeituras e cooperativas quando o assunto é sua destinação final. Aos poucos, os grandes geradores, tais como construtoras, buscam soluções para reduzir o desperdício nas obras e transformar o que era resíduo em matéria-prima. E às vezes esse caminho pode ser rentável – a construtora Camargo Corrêa em quatro anos conseguiu desviar dos aterros mais de um milhão de toneladas de resíduos gerados nos canteiros de obras, e obteve um ganho de R$ 4,2 milhões com a comercialização daquilo que seria considerado lixo.
Isso foi possível graças ao trabalho de uma pequena empresa que nasceu no Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec), incubadora de empresas de base tecnológica do Estado de São Paulo, instalada na USP. Concebida pelo engenheiro Isac Wajc com o propósito de propor soluções inovadoras para a gestão do lixo, a RedeResíduo cria redes facilitadoras de negócios para recicladores e geradores de resíduos que desejam comercializar ou destinar corretamente os rejeitos usando ferramentas de comercialização e leilão on-line.
“Mais do que a gestão dos diferentes elos dessa cadeia, somos uma empresa de logística reversa com o conceito da economia circular – em que o que é resíduo para uma empresa se transforma na matéria-prima de outra, fechando o ciclo com resíduo zero”, explica Francisco Luiz Biazini Filho, sócio de Wajc na RedeResíduo.
A rede hoje conecta mais de 300 empresas cadastradas, entre compradores e vendedores de diferentes materiais, dos resíduos sólidos urbanos convencionais (plástico, papel, vidro) até os industriais
O primeiro contrato, com a Camargo Corrêa, veio em 2011, logo após a sanção da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), quando o mercado começou a se mobilizar para cumprir a nova lei. A construtora, naquela época, já realizava a gestão dos resíduos em suas obras e comercializava os materiais recicláveis nelas gerados. Mas pediu à RedeResíduo que concebesse uma ferramenta para coletar, concentrar e agilizar as informações da gestão de resíduos de forma integrada.
A ferramenta piloto foi aplicada em três plantas da construtora levando o nome de Bolsa de Resíduos. Um dos benefícios imediatos da parceria foi o aumento de receita com a comercialização dos rejeitos: alta de 54% da receita na venda dos materiais e de 80% no valor da sucata metálica. Só com o canteiro de obras da Usina Hidrelétrica de Jirau, em Rondônia, foi quantificado um aumento de 78% da receita com a venda dos resíduos.
Outros clientes do segmento de construção vieram, como a Odebrecht, que fechou parceria com a RedeResíduo para a gestão dos resíduos das obras da construtora no Panamá. Este ano, a empresa de Wajc e Biazini passou também a adaptar a plataforma para atender a gestão de resíduos em grandes eventos.
A tecnologia de comercialização dos rejeitos pode ser aplicada para setores e organizações de diferentes portes e estruturas, tais como empresas, cooperativas e redes. “Não existe um modelo padrão para a gestão de resíduos, e sim soluções customizadas para cada segmento”, explica Wajc. A rede hoje conecta mais de 300 empresas cadastradas, entre compradores e vendedores de diferentes materiais, dos resíduos sólidos urbanos convencionais (plástico, papel, vidro) até os industriais.
Outra vertente de atuação da empresa é encontrar soluções para resíduos de baixo valor comercial, caso do poliestireno expandido, conhecido pelo nome comercial de isopor, um plástico geralmente rejeitado por cooperativas de catadores devido ao grande volume com baixo peso. Neste caso específico, a RedeResíduo atua com a logística reversa, coletando o isopor descartado pelos grandes geradores e revendendo direto ao fabricante do material, em Santa Catarina.
O suporte de instituições de fomento à pesquisa foi fundamental na trajetória da RedeResíduo – além do Cietec, a pequena empresa recebeu apoios da Fapesp e CNPq, Finep e Apex. Mas para uma microempresa de base tecnológica como a RedeResíduo, um dos principais desafios é alcançar a maturidade financeira e fazer com que o mercado “compre” a ideia. Neste segmento específico, a maior dificuldade da microempresa é convencer outros empresários a investir em gestão de resíduos e logística reversa, que, a despeito da lei, ainda “patinam” – os acordos setoriais para a logística reversa estão sendo concluídos de forma lenta e as prefeituras conseguiram prorrogar a extinção dos lixões para 2018.
“Vamos continuar trabalhando como nicho dos resíduos da construção civil, que possui grande potencial, e também buscar soluções viáveis para a montanha de lixo orgânico que está indo parar em aterros, mas poderiam passar por compostagem”, conclui Wajc.
FICHA – REDERESÍDUO
‒ Microempresa
‒ Setor: Resíduos (plataformas de gestão)
‒ Faturamento em 2015: R$ 246.000
‒ Funcionários: 15
‒ Fundação: 2005
‒ Principais clientes: Camargo Corrêa, Odebrecht Panamá, Urbam/SJC/SP
‒ O que faz: Oferece soluções integradas para a gestão de resíduos. Cria redes facilitadoras de negócios para recicladores e geradores de resíduos que desejam comercializar ou destinar corretamente os rejeitos, com ferramentas tecnológicas de compra e venda e leilão on-line. Também elabora modelos customizados para logística reversa de materiais de difícil reciclagem.
Inovação para a Sustentabilidade: À maneira de uma bolsa de mercadorias e serviços, o banco de dados é acessado por recicladores ou indústrias que procuram matéria-prima para seus processos. A rede é personalizada de modo que as próprias empresas geradoras podem comercializar o material e acompanhar a venda por georreferenciamento. Administra a plataforma e oferece consultoria e treinamento para o cliente gerir as transações.
Potencial: Os benefícios para os clientes incluem a economia no descarte e tratamento dos resíduos, com possibilidade de aferir receita com a comercialização e atender à PNRS.
Destaques da Gestão: Ações de boa governança, como reuniões periódicas entre os sócios para divulgação interna dos atos de gestão relevantes ou definição de questões estratégicas. Também possui práticas de planejamento estratégico, a exemplo da adoção de um sistema de gestão de desempenho baseado no acompanhamento de indicadores relacionados a seus objetivos e metas.