A Atina é a única fornecedora do cobiçado óleo essencial alfabisabolol, extraído de árvore nativa da Mata Atlântica, com a devida certificação
A candeia, árvore nativa da Mata Atlântica, tem sido explorada à exaustão em virtude de sua madeira resistente, considerada útil para fabricação de mourões para cercas, e de seu óleo essencial, rico em alfa-bisabolol, um composto muito apreciado pela indústria cosmética dadas as suas propriedades cicatrizantes e anti-irritantes. No início dos anos 2000, a demanda da indústria pelo fármaco estava levando ao corte sem controle da espécie, o que fez o biólogo Eduardo Roxo vislumbrar uma oportunidade de negócios.
Na época, Roxo trabalhava como consultor em gestão ambiental e foi contratado pela fabricante de cosméticos Natura para realizar diagnósticos de sustentabilidade de ativos da biodiversidade brasileira utilizados pela empresa, entre os quais o alfa-bisabolol. Ao identificar a ilegalidade da cadeia produtiva da candeia, a Natura suspendeu o uso do bisabolol e o substituiu por um similar sintético. Estimulado pelas características únicas da planta e pelas propriedades do bisabolol, Roxo teve a ideia de produzir o óleo de candeia com certificação e garantia de rastreabilidade. Chamou a amiga Cristina Saiani, agrônoma que trabalhava na área de marketing de uma grande empresa, para ser parceira no empreendimento.
Assim, os dois elaboraram um plano de negócios, defenderam a ideia perante investidores e, por fim, conseguiram viabilizar o projeto. Em 2005, a Atina iniciou sua operação com uma fábrica em Pouso Alegre (MG), obteve a certificação do FSC para o bisabolol de candeia e conquistou a Natura como primeiro cliente.
Apesar do início promissor, a empresa deparou-se com um cenário desanimador: o alfa-bisabolol era considerado commodity, e o mercado vinha sendo dominado por distribuidores europeus, que compravam o produto brasileiro sem nenhuma exigência de rastreabilidade ou sustentabilidade. “A indústria cosmética não se dispunha a pagar um prêmio pela garantia de origem”, relembra Roxo.
As dificuldades eram tantas que a empresa paralisou as atividades em 2009. Após conseguir um novo sócio, em maio de 2010, a Atina voltou a produzir alfa-bisabolol regularmente, agregou a certificação orgânica Ecocert, o que agrada ao mercado cosmético, e iniciou uma série de investimentos em estrutura, equipamentos e pessoal.
Depois de uma década de trabalho duro para desenvolver a cadeia produtiva sustentável da candeia, a Atina é hoje reconhecida como a única empresa do segmento a oferecer o produto certificado com alto grau de pureza (95%). Agora, está se voltando para novos ativos. A grande aposta da empresa é o babaçu: do fruto da palmeira que é quase um símbolo do Norte e Nordeste brasileiros, a Atina desenvolveu um pó que tem grande potencial para ser utilizado em cosméticos. Batizado de wawhite [1], o produto é um substituto natural para o Nylon12, ativo sintético usado em grandes volumes pela indústria cosmética, com a função de reter a oleosidade em cremes, protetor solar e maquiagem de efeito matificante, ou seja, que corrige o aspecto oleoso da pele.
[1] Junção entre uauaçu, o nome indígena do babaçu, e white, branco em inglês
Seguindo o plano de diversificar o portfólio de ativos, a Atina também aposta na pesquisa e produção de matérias-primas para a indústria de cosméticos, como extratos de aroeira e jatobá. Com 70% da produção voltada para a exportação (os principais países são França, Alemanha, China, Irã e Turquia), os sócios da empresa agora miram o mercado americano, especialmente as marcas de cosméticos naturais do estado da Califórnia.
Atualmente o maior desafio da empresa, além de garantir a sustentabilidade da cadeia produtiva dos ativos que produz, é o de convencer clientes das vantagens socioambientais das matérias-primas certificadas. “A maior parte das indústrias do segmento de cosméticos têm um discurso que enaltece a sustentabilidade, mas se recusam a desembolsar um valor extra pelo produto certificado”, afirma Roxo. Apesar das incertezas, a produção anual é hoje da ordem de 20 toneladas de alfabisabolol e, com o babaçu, a meta é chegar a 50 toneladas/ano.
FICHA – ATINA
Pequena empresa
Setor: Química verde (ingredientes naturais)
− Faturamento 2015: R$ 7 milhões
− Funcionários: 56
− Fundação: 2004
O que faz: Produz ingredientes naturais e certificados para a indústria cosmética a partir da biodiversidade brasileira.
Inovação para a Sustentabilidade: Os principais produtos da Atina são óleos essenciais, como o alfa-bisabolol de candeia, extratos vegetais, como a farinha do babaçu, e óleos vegetais extraídos de amêndoas e de sementes de frutas, por processo de prensagem a frio. Para isso, a empresa identifica novos produtos em plantas da flora nativa do Brasil, organiza e formaliza a cadeia de fornecimento, busca escala, regularidade e padronização do fornecimento da matéria-prima e do produto final. A regularização da cadeia produtiva do alfa-bisabolol de candeia contribui para a transparência, formalização da mão de obra e exploração pelo manejo sustentável e certificado.
Potencial: Os ingredientes naturais como o alfa-bisabolol e a farinha de babaçu têm vasto potencial para substituir as matérias-primas sintéticas na indústria de cosméticos.
Destaques da Gestão: Possui ações de governança, prestação de contas e comunicação sobre as práticas de sustentabilidade. Destaca-se pelo investimento em pesquisa para gerar insumos com atributos verdes. Assume compromissos com o público interno, como práticas de desenvolvimento profissional.