A Poli Óleos, que busca insumos na biodiversidade brasileira, funciona como um elo entre as comunidades extrativistas e as grandes indústrias de cosméticos e fármacos
Açaí, acerola, andiroba, buriti, copaíba, cupuaçu, guaraná, maracujá, murumuru, pracaxi, tucumã, castanha-do-Brasil, café verde. A riqueza natural presente nos principais biomas brasileiros foi mais que uma inspiração para a empresária Evelyn Steiner criar a Poli Óleos, localizada em Vinhedo (SP), em 2006. Com o empreendedorismo no sangue, Steiner, psicóloga por formação, já havia se aventurado em vários tipos de negócios – do agronegócio à escola de informática. Mas após realizar vivências e trabalhos voluntários com o marido Fabio Magnani, hoje sócio na empresa, foi crescendo o desejo de criar um negócio com propósito social.
A operação da Poli Óleos é centrada em duas frentes: no B2B (business to business), atua com o fornecimento de ingredientes da biodiversidade brasileira para a indústria cosmética e também intermediando relações com comunidades extrativistas; e no B2C (business to consumer) tem a marca de cosméticos orgânicos Ikove Organics, adquirida em 2010 e voltada à exportação [1].
[1] Até 70% dos produtos da marca são comercializados fora do Brasil
Nos últimos anos, a Poli Óleos vem ajudando grandes empresas do setor químico e de cosméticos a fazer negócios com comunidades ribeirinhas e extrativistas dos principais biomas brasileiros. “Como somos pequenos, as indústrias nos procuram como um apoio nas negociações com comunidades”, afirma Steiner. Isso ocorre porque algumas delas têm certo receio de fazer negócios com multinacionais e preferem se relacionar com empresas pequenas.
Por outro lado, as grandes empresas passaram a confiar nos ativos produzidos pela Poli Óleos devido ao alto grau de pureza dos óleos e manteigas, fator essencial para a qualidade de cosméticos e fármacos – mesmo que custem mais caro. O óleo de maracujá produzido pela Poli Óleos, por exemplo, é comercializado a R$ 38 o quilo, mais que o dobro da média de mercado (R$ 16). Os óleos são obtidos através do processo de prensagem a frio, sem uso de nenhum tipo de aditivo sintético.
As parcerias com grandes empresas estão ganhando novo impulso com a mudança no marco regulatório no acesso à biodiversidade, sancionado em maio deste ano. A nova lei, que substituiu uma medida provisória de 2001, simplificou as regras para o acesso aos recursos da biodiversidade brasileira por pesquisadores e pela indústria, além de regulamentar o direito dos povos tradicionais à repartição dos benefícios pelo uso de seus conhecimentos, com a criação de um fundo voltado para esses pagamentos.
Outro empurrão foi dado pela recente alta da moeda americana, que atingiu o patamar de R$ 4 em outubro e tem favorecido as exportações. “Estamos vendo oportunidades na crise. A alta do dólar tem ajudado a floresta, pois levou a um aumento da procura pelos óleos da biodiversidade brasileira”, diz a empresária.
A expansão da marca Ikove Organics é outro desafio. São cosméticos de alta qualidade, com 99% dos ingredientes certificados como orgânicos (selo IBD) e comércio justo (Fairtrade), o que garante que são livres de agrotóxicos e não contêm matéria-prima sintética ou geneticamente modificada.
Como marca premium, a estratégia desenhada pela empresa consiste em crescer no mercado internacional, onde a cultura de valorização dos produtos com atributos sustentáveis é mais forte. Com uma linha de 30 produtos para cabelo, pele, cuidados com o corpo e aromaterapia, a marca já tem presença forte na França, com 88 pontos de venda e também em países como Estados Unidos (onde negocia a entrada dos produtos no supermercado de produtos naturais Whole Foods), Canadá, Austrália e Emirados Árabes.
Não que o mercado brasileiro não seja interessante – aos poucos, a marca está estruturando sua distribuição, ainda limitada a pontos de venda em salões de beleza e spas e uma loja no formato pop-up (sazonal) em Campinas (SP).
Um agravante é que no Brasil ainda não existe regulamentação oficial da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para cosméticos orgânicos, como ocorre em outros países
Em novembro de 2014, foi traçada também a formatação das franquias da marca, que deve auxiliar na conquista do mercado nacional. Esse posicionamento pode ajudar a empresa a ganhar escala no Brasil e a gerar maior fluxo de caixa, um desafio que precisa ser superado – tal como convencer o consumidor brasileiro de que sim, a biodiversidade tem seu valor e precisa ser reconhecida dentro do próprio País.
FICHA – POLI ÓLEOS
− Pequena empresa
− Setor: Química verde (ingredientes naturais e cosméticos)
− Faturamento 2015: R$ 3.200.000
− Funcionários: 12
− Fundação: 2006
− Principais clientes: Croda, Basf, Iguatemi
O que faz: Fornece ingredientes vegetais da biodiversidade brasileira para a indústria cosmética nacional e internacional. Com a maior parte de seus produtos certificados, a Poli Óleos garante a procedência de origem e cultivo orgânico de suas matérias-primas
Inovação para a Sustentabilidade: A compra dos óleos vegetais possui uma cadeia de fornecedores oriundos de cooperativas rurais comprometidas com a conservação ambiental e o comércio justo. São sete cooperativas extrativistas da Região Amazônica, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica e dos Pampas. Os ativos têm o selo socioambiental Rainforest Alliance. Já a linha de cosméticos da marca Ikove Organics é adequada às normas europeias e possui certificação do Instituto Biodinâmico (IBD).
Potencial: O mercado de fornecimento de matérias-primas e insumos para a indústria de cosméticos é dominado pela indústria química, que produz matérias-primas sintéticas com valores competitivos. Já a venda dos produtos diretamente ao consumidor final no Brasil ainda é considerada um nicho de mercado com concorrência acirrada, pois muitas marcas praticam marketing verde mesmo nos produtos convencionais.
Destaques da Gestão: A empresa participou do ICV Global (iniciativa de FGVces e Apex) e, após o processo de formação oferecido pelo projeto, passou a dar mais atenção ao planejamento estratégico e aos canais regulatórios necessários. Está formalizando práticas como o programa de gestão de pessoas, técnicas para o reaproveitamento do descarte de matérias-primas e melhorias no atendimento ao cliente.