A Recomércio oferece um destino muito mais nobre para aquele velho celular que está jogado no fundo da gaveta. E até paga por ele
O Brasil tem mais celulares do que habitantes. Com 284 milhões de aparelhos em operação, segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), o País tem avançado em inclusão digital graças principalmente aos smartphones, que permitem fácil acesso à internet. O destino dos aparelhos obsoletos ou seminovos, porém, quase sempre é o fundo da gaveta. Atento a essa realidade, o francês Amaury Bertaud, que por anos atuou no mercado financeiro e de telecomunicações na Europa, fez as malas com a família e decidiu empreender no Brasil com um negócio novo: o de compra e venda de celulares usados e seminovos.
Quando estão em boas condições, os celulares são recondicionados e colocados à venda no site www.redial.net.br, um e-commerce criado com essa finalidade. Já os celulares mais antigos ou quebrados são encaminhados para a reciclagem e reaproveitamento dos componentes, por meio de parcerias com uma cooperativa de reciclagem.
A inspiração para o negócio veio da experiência europeia – é comum na França, por exemplo, os sites de e-commerce de grandes varejistas como Fnac ou Amazon oferecerem a opção de venda de celulares recondicionados, com preços até 60% mais amigáveis ao consumidor. “O mercado de smartphones usados é robusto há algum tempo na Europa, mas ainda não está estruturado no Brasil. O que existe aqui é a compra e venda não formalizada de aparelhos”, explica Bertaud.
O mercado internacional de celulares usados movimenta anualmente US$ 14 bilhões e tem potencial para chegar a US$ 17 bilhões até 2017, segundo estudo da consultoria Gartner
Segundo o empresário, em média o brasileiro troca de smartphone a cada 12 meses, embora a vida útil de um aparelho seja de quatro anos. Unindo um site de e-commerce confiável e o aumento da oferta de celulares recondicionados com garantia, o empresário acredita que o negócio tem tudo para ganhar a confiança dos brasileiros e ainda viabilizar um descarte ambientalmente correto para os aparelhos que foram substituídos.
Os smartphones chegam à Recomércio por dois principais caminhos. O cliente faz um pedido de entrega pelo site e envia pelos Correios sem custo; ou a empresa coleta esse resíduo diretamente, por meio de um parceiro de logística – operação mais usada no caso de clientes corporativos, com grandes volumes. Ao serem recebidos, os aparelhos (carregadores, baterias, fones etc.) passam por uma análise técnica de mais de 20 itens de funcionalidade para definir o valor de compra ou para direcioná-los à destinação adequada, em casos de inutilidade. Quando em bom estado, o aparelho é recondicionado para revenda pelo site. Já no descarte, o celular passa pela descaracterização apropriada, em um processo que pode ser rastreado.
Em seu primeiro ano de operação, a Recomércio tem encaminhado em torno de 80% dos aparelhos usados para reúso e 20% para a reciclagem. Quando a operação é de coleta – geralmente grandes volumes enviados por clientes corporativos – ocorre o inverso: 80% de sucata e 20% de recompra. A pessoa física ou jurídica que optar por vender seu aparelho, ou o lote deles, pode optar ainda por doar o valor para uma das cinco instituições filantrópicas parceiras da microempresa. A logística de coleta de grandes volumes e o processamento da sucata fica a cargo da Coopermiti, única cooperativa credenciada pela Prefeitura de São Paulo para manusear o lixo eletrônico e separar os componentes como bateria, plásticos e metais dos circuitos eletrônicos.
Um dos próximos passos da Recomércio será iniciar uma operação de coleta em lojas que vendem smartphones e eletrônicos. Dessa forma, vislumbra Bertaud, será possível tanto conciliar os objetivos da Recomércio de aumentar o volume de aparelhos para reúso e reciclagem quanto ajudar os comerciantes do segmento a cumprirem a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) [1]. “A cadeia logística reversa dos eletroeletrônicos é o ponto mais sensível da lei de resíduos, que dá o mesmo tratamento para o smartphone e para a geladeira, que são produtos completamente diferentes, com logísticas ímpares”, afirma Bertaud.
[1] Sancionada em 2010, prevê um acordo setorial para logística reversa e destinação final adequada dos eletroeletrônicos, mas sua operacionalização ainda é fruto de longas discussões entre indústria e varejo
FICHA – Recomércio
Microempresa
Setor: Comércio (smartphones usados)
Faturamento 2015: R$ 615.000
Funcionários: 9
Fundação: 2013
‒ Principais clientes: Clientes pessoa física e jurídica que querem dar destinação final a aparelhos usados ou que buscam comprar um aparelho recondicionado a menor preço
‒ O que faz: Compra, faz o recondicionamento e a revenda de smartphones usados ou garante o descarte e gerenciamento adequado desses resíduos
Inovação para a Sustentabilidade: A solução da Recomércio reduz a velocidade do descarte dos smartphones no País e desenvolve aqui um mercado ainda pouco explorado de compra de aparelhos usados a um preço competitivo. Além disso, contribui para os desafios da logística reversa e possui um atrativo para que empresas que comercializam esses aparelhos possam se adequar à PNRS, pois a Recomércio se encarrega de toda a operação de recompra, revenda e descarte. Em relação à pegada de carbono, a operação da empresa ajuda a evitar a emissão de seis a 50 kg de CO2 pela produção de cada novo celular.
Potencial: Só no ano de 2014, foram vendidos 64 milhões de aparelhos no Brasil, o que aponta que há espaço para o desenvolvimento desse mercado no País. Na Europa, quase 20% dos smartphones são recondicionados. A empresa pretende explorar outros canais de venda para aumentar o volume de aparelhos coletados e revendidos.
Gestão: Oferecem ao cliente a possibilidade de encaminhar a instituições sem fins lucrativos o valor que seria pago pela compra do aparelho usado. Possuem um processo detalhado de triagem dos aparelhos que recebem para teste das funcionalidades e um sistema de rastreamento dos envios de recompra e revenda.