O crime ambiental de Mariana, que refrescou nossa memória quanto aos imensos riscos ambientais associados à mineração, coincide com o início do que pode vir a ser um novo boom minerário. Areia, ouro, alumínio e diamantes têm sido extraídos dos leitos de rios e regiões costeiras há séculos, mas a exploração de minérios de águas profundas é um fenômeno novo e que está prestes a tomar enormes proporções.
O website Huffington Post acaba de publicar um ótimo artigo do biólogo Richard Steiner, que faz um balanço dos interesses envolvidos nessa indústria e os riscos que ela representa. Ele cita 13 grupos com concessão de exploração de nódulos de manganês, amálgamas metálicos encontrados em fossas abissais de até 6 mil metros de profundidade entre a California e o Havaí. Esses minérios têm o tamanho de batatas e são compostos de manganês, níquel, cobalto, cobre e lítio, dentre outros elementos altamente valorizados. Outros grupos têm a intenção de explorar depósitos de cobre, ouro, prata e zinco encontrados em fendas marinhas de áreas com atividade vulcânica no meio do Atlântico, no Oceano Índico e na Polinésia.
A lista de oportunidades extrativas marinhas é longa e enfrenta alguma resistência local. Steiner menciona que a Namíbia e a Nova Zelândia estão resistindo a autorizar a extração de fosfato marinho, usado como fertilizante. E algumas organizações, inclusive o Greenpeace e a Deep Sea Mining Campaign, começaram a se mobilizar para que esse tipo de atividade seja controlado.
Mas a resistência é pouca frente ao ritmo em que as licenças de operação são emitidas. É uma tendência que será difícil reverter. A Alemanha e a França, por exemplo, assinaram em outubro um memorando de cooperação bilateral para a exploração em águas profundas, com vista a minerar jazidas de sulfetos polimetálicos.
O projeto minerário em alto-mar mais próximo de efetivação é tocado pela canadense Nautilus Minerals, que obteve licença para extrair cobre e ouro da crosta oceânica perto de Papua Nova Guiné. Ele é acompanhado com interesse pelo mercado, que aguarda uma confirmação da viabilidade técnica e financeira do negócio.
“As águas profundas representam o maior e mais desconhecido dentre todos os habitats da Terra”, diz Steiner. “É um mundo de extremos de Alice no País das Maravilhas, com adaptações extraordinárias, organismos bizarros, beleza e mistério”. Ele continua, descrevendo os impactos da mineração, que podem levar à degradação do leito dos oceanos, à extinção de espécies, à redução da complexidade dos habitats, à suspensão de sedimentos e à dispersão de poluição.