Um par de estudos recentes mostram que a conversão da matriz energética global às renováveis em meros 35 anos é perfeitamente viável tanto de um ponto de vista técnico quando do econômico. E, a observar a expansão das energias solar, eólica e hidrelétrica em países tão díspares como Ruanda, Chile e Jamaica, é possível antever o cumprimento dessa meta num horizonte ainda mais próximo.
Pesquisadores das universidades de Stanford e da California acabam de divulgar um balanço da situação atual de 139 países e qual a projeção de seu consumo de energia nos transportes, aquecimento e condicionamento de ar, agricultura, indústria e eletricidade em 2050. Eles também mapearam as opções renováveis disponíveis e seus custos. A conclusão é que o barateamento está tornando as energias alternativas altamente competitivas e que a mudança de paradigma gerará muito mais empregos que o modelo atual. O trabalho deu origem a um mapa interativo que permite visualizar melhor o tamanho dessa revolução. Ele foi produzido pela campanha 100.org, que promove a universalização das energias limpas.
“Aqueles que tentam evitar a mudança argumentariam que [as renováveis] são muito caras, ou que não geram energia suficiente. Ou eles tentarão dizer que elas não são confiáveis, que utilizarão muito espaço ou recursos”, diz Mark Jacobson, diretor do Programa de Atmosfera e Energia da Stanford University, um dos coordenadores do trabalho. “Mas todos esses argumentos são fictícios.”
Um segundo estudo, “[R]evolução Energética 2015: Como Atingir 100% de Energias Renováveis para Todos até 2050”, produzido pelo Greenpeace e divulgado em setembro, vai por caminho semelhante e detalha os custos e os benefícios da transição energética. Conclui, por exemplo, que o investimento global necessário, cerca de US$ 1,03 trilhão por ano até 2050, seria mais do que coberto pela economia do desinvestimento nos combustíveis fósseis. Com isso, já nos próximos 15 anos, seria possível triplicar a participação das renováveis na geração elétrica, passando dos atuais 21% para 64%.
O noticiário recente dá razão ao Greenpeace e às duas universidades americanas. Os países da União Europeia estão a caminho de cumprir a meta de 20% de geração renovável de eletricidade até 2020. No Chile, a presidente Michelle Bachelet, anunciou que seu governo trabalha para que pelo menos 70% da matriz energética seja renovável até 2050. A Jamaica, com 72 megawatts de geração solar, eólica e hidráulica instalados, é a líder caribenha nesse movimento. Ela estabeleceu uma meta de ter 20% de geração por fontes renováveis até 2030, viabilizada por meio de incentivos e isenção fiscal. É uma tendência que poderá transformar a economia do país, já que 95% da eletricidade jamaicana advém de termelétricas a petróleo, cuja importação consome 9% do seu Produto interno Bruto, ou US$ 1,3 bilhão anual. Finalmente, o diário britânico The Guardian descreve a impressionante expansão da geração solar em Ruanda, que em investiu US$ 23,7 milhões em uma fazenda de painéis solares de 17 hectares. A unidade, com capacidade de gerar 8,5 megawatts, aumentou em 6% a geração no país e criou 350 empregos locais. O objetivo do governo é levar eletricidade a metade da população até 2017.