O uso abusivo de fertilizantes e dos arados destruiu 33% das terras cultiváveis ao longo das últimas quatro décadas, num ritmo que suplanta em dezenas de vezes a capacidade de regeneração do solo. É um quadro que pode ser “catastrófico” para a agricultura de escala industrial, segundo pesquisadores do Grantham Centre for Sustainable Futures, da universidade britânica de Sheffield. Eles divulgaram hoje estudo a respeito, durante COP 21, em Paris. Trata-se de uma revisão da literatura científica dos últimos 10 anos.
“O solo é perdido rapidamente, mas leva milênios para ser substituído, e isso representa uma das maiores ameaças globais à agricultura”, comentou um dos autores do trabalho, Duncan Cameron, professor de Biologia de Plantas e Solo. “A formação de 2,5 centímetros de solo superficial leva cerca de 500 anos nas condições agrícolas convencionais”. O estudo sugere uma estratégia de substituição da agricultura intensiva por modelos agrícolas tradicionais, com menos irrigação, aragem e consumo de energia. Ele fala também na necessidade de rotações no uso do solo, alternado a sua ocupação pela agricultura e a pecuária. Propõe, ainda, a reciclagem do esgoto doméstico para que o excremento humano seja utilizado como fertilizante orgânico. “Um modelo sustentável de agricultura intensiva poderia combinar lições de História com os benefícios da biotecnologia moderna”. No caso, ele faz referência à seleção de cultivares capazes de prescindir de fertilizantes químicos e de estabelecer simbioses produtivas com os microrganismos presentes no solo.