Por Bruno Toledo, de Paris
Com apenas uma noite para fechar a proposta final de texto para o novo acordo climático, os negociadores correm contra o tempo na Conferência do Clima de Paris (COP 21). Depois de cinco dias de trabalho e avanços milimétricos, as expectativas em torno de uma proposta final até amanhã (05/12) são pequenas.
Para evitar que a discussão técnica em torno do novo acordo adentre no segmento de alto nível, previsto para a semana que vem em Paris, o grupo de negociação para o novo tratado resolveu fragmentar a discussão, criando subgrupos informais (denominados “spin-offs”) de debate sobre os diferentes dilemas que afligem a construção do texto final do acordo, como financiamento, objetivo de longo prazo, perdas e danos, etc. Esses grupos, liderados por “facilitadores” e compostos por um número mais reduzido de negociadores, têm como objetivo focar em pontos problemáticos específicos do texto e avançar numa proposta de resolução, que posteriormente será avaliada pelo conjunto dos negociadores.
A estratégia, até certo ponto, surtiu efeito: nesta sexta-feira (04/12), duas propostas de texto final emergiram na mesa de negociação no Le Bourget (espaço que sedia a COP 21 na capital francesa). Ainda assim, o debate em torno do texto não será fácil amanhã.
“Esta é uma boa tentativa de avanço”, avaliou o embaixador José Carvalho Marcondes, diplomata que lidera o time de negociadores brasileiros na COP 21, em coletiva de imprensa nesta sexta-feira. “Alguns pontos evoluíram mais que outros [nas últimas horas], mas alguns dos pontos hoje em discussão são realmente mais complexos do que os demais”. Ainda assim, ressaltou Marcondes, “os facilitadores não serão quem decidirá” o texto final.
A ideia do governo da França, anfitriã e presidente da COP 21, ainda é fechar essa proposta final de texto até o sábado, de forma a encaminhá-la para discussão no segmento de alto nível (no qual as delegações serão lideradas por ministros ou chefes de governo) a partir da próxima segunda. Esse cronograma facilitaria as discussões políticas, aliviando as questões técnicas do acordo de Paris e, principalmente, afastando a possibilidade das conversas em Paris adentrarem no pântano de desentendimentos que marcou as negociações da ONU há seis anos, em Copenhague, durante a COP 15.
Ministra Izabella Teixeira se reúne com sociedade civil brasileira em Paris
A sexta-feira também foi movimentada na Embaixada Brasileira na capital francesa. A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, se encontrou com representantes de organizações da sociedade civil do Brasil presentes na COP 21 para ouvir suas demandas e discutir a posição brasileira em diferentes temas das negociações em Paris.
Izabella Teixeira, que é chefe da delegação brasileira na COP 21, defendeu os compromissos apresentados pelo país no contexto do novo acordo e destacou a necessidade de avançar nas conversas diplomáticoas em Paris. “O texto de negociação ainda está muito pulverizado”, assinalou Izabella.