De Paris – Le Bourget, sábado dia 05, começo da tarde. No corredor central do complexo montado pelo governo francês para sediar as negociações da Conferência do Clima de Paris (COP 21), 20 jovens brasileiros da ONG Engajamundo se reúnem perto de um palco. Alguns com roupa mais descolada; outros, com roupas mais formais. Cartazes espalhados pelo chão, junto com uma caixa de som.
A “brincadeira” começa. Ao som do hip-hop, os jovens simulam uma batalha dançante entre a juventude e os negociadores na COP. Os jovens defendem energia limpa, descarbonização do planeta e o limite do aquecimento global em 1,5 grau Celsius neste século. Os negociadores defendem (ou tentam defender) os combustíveis fósseis, a indústria do petróleo e o limite de aquecimento acima dos 6 graus.
O som e a agitação dos dançarinos chamam a atenção das pessoas. Logo, uma roda se forma, assistindo à “batalha”. Alguns poucos se animam e se entregam à brincadeira: até um segurança da ONU, geralmente pouco simpáticos, troca uns passos de dança com uma das jovens.
No final da “batalha”, os negociadores se juntam aos jovens e todos gritam: “Do the right move” – faça o movimento correto. O movimento, no caso, é a incorporação do limite de aquecimento em 1,5 grau Celsius dentro do novo acordo climático, uma das bandeiras defendidas pela juventude global presente na Conferência de Paris.
Outro exemplo aconteceu um dia antes, também no Le Bourget, quando jovens da Engajamundo convidaram negociadores e observadores para passarem “debaixo da cordinha” dos 1,5 grau Celsius, relembrando uma música famosa no auge do pagode brasileiro, no final dos anos 1990. Além do humor, que quebra o protocolo sisudo da ONU e dos escritórios diplomáticos em geral, a analogia faz sentido dentro do tabuleiro de negociação em clima: se você se contorcer um pouquinho, você consegue passar “debaixo da cordinha” – ou seja, se você se esforçar mais um pouquinho, você consegue limitar o aquecimento global em 1,5 grau Celsius.
Para quem enxerga do lado de fora, a ação dos jovens parece ser pura brincadeira. No entanto, a brincadeira não poderia ser mais séria, e os jovens não poderiam ser mais contundentes.
Geralmente, o espaço para manifestação de grupos sociais dentro das COPs é bastante limitado. Nesta COP 21 em particular, a disponibilidade caiu ainda mais, principalmente do lado de fora do Le Bourget, por causa das restrições impostas pelo estado de emergência que vigora na França desde os ataques terroristas de 13 de novembro passado. Num contexto tão restritivo, os jovens precisam buscar alternativas mais chamativas e impactantes para mandar o seu recado para os negociadores.
Para a juventude, este é o tipo de brincadeira com um fundo bastante sério. Os jovens de hoje são a primeira geração que poderá sentir mais agudamente os efeitos das mudanças do clima, e sua sobrevivência depende diretamente das decisões tomadas pelos líderes globais. “Precisamos que o acordo tenha esse limite máximo de 1,5oC, senão os jovens sofrerão as consequências”, aponta Raquel Rosenberg, coordenadora geral do Engajamundo.
Na falta de espaço formal, os jovens precisam recorrer a ações de impacto para chamar a atenção da mídia, da sociedade civil e, finalmente, dos negociadores. Numa das ações realizadas na semana passada em Paris, os jovens deitaram no chão do corredor central do Le Bourget, simbolizando os mortos pelas mudanças climáticas em todo o mundo (os que já morreram e aqueles que morrerão no futuro), com uma simples mensagem: não pisem em nós.