Nos dias 23 e 24 de novembro aconteceu o 2º World Forum on Natural Capital em Edimburgo (Escócia) que se propunha a reunir líderes e compartilhar os últimos desenvolvimentos, aprendizados e casos reais para contribuir para o diálogo consistente sobre capital natural.
As sessões paralelas e conversas de corredor durante o Fórum deixaram evidente que a discussão no âmbito internacional sobre capital natural moveu do “se devemos medir e valorar o capital natural” para “quais os meios de gerenciá-lo de forma inteligente e qual o papel dos diversos atores”. Philipe Joubert (CEO da Green Option) conclui que não precisamos ter receio de valorar monetariamente pois os recursos naturais hoje já tem um preço, e esse preço é zero – o que significa que estamos mandando a conta para as próximas gerações.
Assim, o evento jogou luz às diversas iniciativas, programas, relatórios, casos, guias, ferramentas que buscam compreender e gerenciar o uso do capital natural pela sociedade de uma melhor forma.
Iniciativas pelo mundo
Os Objetivos Desenvolvimento Sustentável (ODS) foram claramente pano de fundo para diversas conversas já que muitos deles são relacionados diretamente com o capital natural.
Pavan Sukhder, Líder do estudo do TEEB (The Economics of Ecossystems and Biodiversity), falou sobre um novo estudo em desenvolvimento – TEEB for Agriculture & FOOD – que reunirá diversos atores para fazer uma avaliação econômica global da complexa tríade ecossistema-agricultura-alimentos. O objetivo é demonstrar que o ambiente econômico em que os agricultores operam é distorcido por externalidades significativas, tanto negativas como positivas, além da falta de consciência da dependência do capital natural.
Pushpam Kemar, Coordenador do Ecosystem Services Economics Unit da UNEP, falou sobre a necessidade de descolar o crescimento do consumo de capital natural e o projeto VANTAGE (Valuation & Accounting of Natural Capital for Green Economy).
No hall de índices que buscam ir além das métricas financeiras, foram citados: i) Índice do Capital Natural contido na Estratégia Nacional para o Capital Natural da Escócia que visa monitorar as mudanças anuais no capital natural baseado na avaliação do potencial de serviços ecossistêmicos; e ii) o Inclusive Wealth Index, que mede a riqueza de um país em termos de progresso, bem-estar e sustentabilidade no longo prazo, a partir da medida do estoque de condições indutoras de riqueza.
A discussão chegou também âmbito da International Organization for Standardization (ISO) que começa agora a discutir a ISO 14008 sobre Valoração monetária de impactos ambientais de emissões específicas e recursos naturais.
Movimento empresarial
O discurso neste âmbito foi marcado pela inovação para uma economia verde como meio de garantir competividade e boa reputação. Philipe Joubert (CEO da Green Option) acredita que “nós mudamos o mundo se mudarmos os negócios”. Ele afirma que o setor privado é parte da solução e enfatizou que em um ambiente extremamente competitivo, devemos mudar a maneira que se mede sucesso dentro das empresas para mudar o comportamento delas.
Phillipe entende que as empresas não estão esperando pela regulação e que parte delas já estão se preparando para pagar um premium por capital natural. Para ele, o dinheiro existe e é uma questão de alocá-lo nos caminhos certos. Ainda, comentou que as grandes empresas já estão gerenciando o capital natural nas suas cadeias de valor.
Um exemplo é a Desso, uma empresa líder no mercado de carpetes que optou por uma estratégia diferenciada de valorar o capital natural do “cradle to cradle” (berço ao berço), e então focando esforços nos elos mais relevantes em termos de impactos para o capital natural – que não são os mais evidentes à primeira vista. A madeira, por exemplo, representa 2% da sua matéria prima e 50% do seu impacto sobre o capital natural!
Outros mostraram como a parceria com outros setores pode ser muito produtiva. É o caso da Dow Chemical que em conjunto com a TNC desenvolveu a ferramenta ESII (Ecosystem Service Identification and inventory tool) para auxiliar na mensuração e valoração dos SEs como inputs para a estratégia de conservação da empresa. Uma das soluções foi incluir um “filtro” na análise dos projetos para checar como este influencia nos SEs (Nature´s Future Value – NFV).
No setor de seguros, Jayne Plunkett da Swiss Re falou sobre o desafio da precificação dos riscos futuros – uma vez que o mundo está mudando e os riscos são complexos e interconectados. Ela falou sobre o estudo “Shaping climate-resilient development: a framework for decision-making” que auxilia na mensuração dos riscos climáticos.
Ferramentas
Uma das sessões de discussão tratou de Inovação & Ferramentas – onde a TeSE (Tendências em Serviços Ecossistêmicos, projeto do GVces) foi apresentada como uma das iniciativas para as empresas compreenderem sua relação com os SE.
Katherine Garrett da Alliance Trust, falou da grande diversidade de ferramentas existentes para empresas medirem seu capital natural como um movimento normal em um momento de inovação. No entanto, entende que existe a necessidade de padronizar a forma como capital natural é medido.
Neste contexto, a provocação sobre se a existência de tantas ferramentas contribui ou atrapalha dividiu a plateia igualmente entre aqueles que acreditam que é bom, tendo em vista a diversidade de necessidades das empresas; e aqueles que acham ruim, dada a dificuldade de comparar e entender qual a melhor abordagem.
Em meio a tantas ferramentas, foram apresentados “guias para os guias”, isto é, guias sobre como escolher a melhor abordagem para medir o capital natural, por exemplo o Eco – 4Biz (WBCSD) e Natural Capital Accounting for Business: Guide to selecting an approach (Programa de Business and Biodiversity da UE).
O evento também foi palco para o lançamento da consulta pública do The Natural Capital Protocol, que visa contribuir para a padronização em nível global da abordagem para valoração qualitativa, quantitativa e monetária das dependências e impactos das empresas no capital natural a partir da sistematização das fermentas existentes e preenchimento dos gaps encontrados no processo.
Disclosure – o que e para quem
Concordado em medir e valorar, falou-se na necessidade de reportar informações sobre o capital natural. Os acionistas estão esperando estas informações? O que os financiadores e acionistas querem saber? Jane Stevensen, Diretora da Climate Disclosure Standards Board (CDSB), ressalta o desafio de que a informação disponibilizada seja usada e que é difícil comparar empresas. Comentou que neste momento é importante a possibilidade de comparar as empresas com elas mesmas (no tempo e em relação a metas) e não necessariamente com outras. Ainda trouxe que os fundos de investimento começaram a entrar na discussão.
Do discurso inspirador da primeira ministra da Escócia Nicola Sturgeon sobre a relevância da união dos conhecimentos de dois pensadores escoceses John Muir e Adam Smith ao panorama trazido pelo Fórum, ficou evidente que a discussão sobre capital natural se tornou uma tendência mundial. Mais do que isso, há um desejo claro de que a gestão inteligente do capital natural pela sociedade seja o “novo normal”.
Natalia Lutti