De Paris – Geralmente, quando se pensa nos impactos mais negativos das mudanças do clima no mundo, um dos lugares apontados como sendo o mais vulnerável é a região que abriga milhares de ilhas entre o Sudeste Asiático e a Austrália. Muitas dessas ilhas são estados-nação constituídos, com soberania estabelecida pelo direito internacional, ainda que não passem das dezenas de milhares de habitantes. Muitas delas são ilhas atol, nascidas a partir de corais, com menos de 2 metros de altitude com relação ao nível do mar, e que dependem de um delicado equilíbrio para manter seus estoques de água potável e terra agriculturável.
As mudanças climáticas ameaçam perigosamente este equilíbrio. Com o aumento do nível do mar, fontes naturais de água doce poderão ser irremediavelmente contaminadas, e a terra agriculturável pode perder nutrientes, inviabilizando a produção de alimentos. Em última análise, o oceano pode engolir ilhas inteiras, fazendo desaparecer países inteiros e comunidades milenares.
Por isso, nas Conferências do Clima, um dos grupos mais vocais na luta por compromissos ambiciosos para conter o aquecimento global são esses pequenos países. Nesta COP 21, isso não é diferente. Agrupados na Aliança de Pequenos Países Insulares (AOSIS, sigla em inglês), esses países são os principais defensores da adoção de 1,5 grau Celsius como limite para o aumento da temperatura média do planeta neste século.
Mais do que pedir ação, esses países começam a se articular para agirem por conta própria. Uma dessas iniciativas foi apresentada ontem, em coletiva de imprensa que contou com a presença do Príncipe Alberto II de Mônaco e da ex-presidente da Irlanda, Mary Robinson. Quatro nações insulares – Kiribati, Maldivas, Ilhas Marshall, e Tuvalu, além do território de Tokelau (pertencente a Nova Zelândia) – se uniram para a iniciativa “Pacific Rising”, com o objetivo de unificar as medidas que cada um está tomando com relação aos desafios das mudanças do clima na região do Pacífico.
Com apoio da Fundação Príncipe Alberto II e da Fundação Mary Robinson – Justiça Climática, esta iniciativa buscará atuar em três frentes de trabalho em prol da proteção de vidas, comunidades e culturas no Pacífico: desenvolvimento de tecnologia, incluindo energia renovável e acesso à internet; apoio ao empreendedorismo, a partir de parcerias com instituições e empresas internacionais, com o objetivo de construir resiliência nessas ilhas; e preservação da cultura através da educação, capacitação, saúde e gestão da herança cultural das diferentes comunidades que vivem nessas ilhas.
“Os desafios enfrentados pelas comunidades das nações insulares destacam as terríveis injustiças das mudanças do clima”, apontou Mary Robinson durante a coletiva. “Estas são as nações que menos contribuíram para o aquecimento do planeta, mas as que sentem mais diretamente as suas consequências”.
Para os líderes dessas nações, a iniciativa surge como um esforço complementar àquele esperado no futuro acordo do clima, a ser finalizado nesta COP 21. “Precisamos que o novo acordo nos ajude a salvar as ilhas mais vulneráveis e os países menos desenvolvidos”, defendeu Enele Topoaga, primeiro-ministro de Tuvalu. “Se quisermos ter um pacto legal global, que proteja e salve as ilhas, e que considere os direitos humanos de quem vive nessas ilhas, ainda temos muito trabalho pela frente aqui em Paris”.
O objetivo é o mesmo: preservar a vida nas regiões mais vulneráveis do mundo. “Não gosto de ver as crianças e os mais jovens com medo do mar” reflete Tony de Brum, ministro do Exterior das Ilhas Marshall, uma das lideranças mais destacadas das nações insulares em negociações climáticas. “Quando eu era pequeno, a maré alta era o momento em que a gente se jogava na água. Agora, nossos filhos e netos fogem dela, consideram-na uma ameaça. Precisamos lutar contra isso”.