É simples assim. Desmatou ilegalmente ou sem planejamento, as consequências não tardam a chegar. Nos últimos 14 anos, as bacias hidrográficas do mundo todo perderam até 22% de suas florestas e isso não está saindo nada barato. Em São Paulo, por exemplo, a reação ao desmatamento das bacias hidrográficas veio travestida de clima seco, nos Himalaias chegou em forma de inundações, e em Sumatra (Indonésia), de poluição das águas. E o resultado final foi o mesmo nas três regiões: crise de abastecimento.
De acordo com a Conservação Internacional a situação é muito mais grave do que se pode imaginar: mais de 50% das cidades do mundo e 75% de todas as fazendas irrigadas estão experimentando escassez de água de forma recorrente.
A mais recente contribuição do World Resources Institute (WRI) para ajudar na mitigação do problema ou em estratégias de adaptação é uma ferramenta on-line, o Global Forest Watch Water (GWF Water), um mapa-múndi interativo que consegue fazer a conexão entre a degradação das florestas em bacias hidrográficas e a qualidade dos recursos hídricos no mundo.
Não é preciso ser pós-graduado para entender que florestas a montante, assim como outras “infraestruturas naturais”, desempenham um papel fundamental no fornecimento de água potável a jusante. Se as florestas nos pontos chaves forem preservadas, manterão a estabilidade do solo e impedirão a erosão do solo e as crises de abastecimento.
Mas a ferramenta do WRI vai além dessa conexão entre causa e efeito. É também uma base de dados que permite visualizar e explorar em detalhes a saúde hídrica das 230 grandes bacias hidrográficas do mundo todo. Basta marcar a região que se queira buscar as informações e automaticamente surgem avaliações sobre perdas florestais históricas, perdas recentes e risco de erosão e de queimadas.
Também é possível fazer um refinamento e aprofundamento dos dados (neste link, você encontra um tutorial para usar o GFW Water) que poderão ser úteis aos setores do governo responsáveis por políticas públicas voltadas à conservação florestal, às empresas que possuem cadeias de produção muito intensivas no uso de água, e à da sociedade civil e pesquisadores, seja no auxílio ao monitoramento da degradação, seja em propostas de mitigação. Segundo o WRI, instituições financeiras e de desenvolvimento também poderão coletar dados, explorar tendências e obter insights sobre as regiões com oportunidades para investimentos mas que exigem esforços em segurança hídrica.
Qualquer pessoa com acesso a internet pode acessar o GFW Water e buscar respostas sobre os melhores investimentos para a proteção de uma determinada infraestrutura regional.
No caso de Sumatra, por exemplo, a derrubada das florestas para outros usos da terra, diminuiu a capacidade da natureza de ao mesmo tempo regular o fluxo da água e mantê-la purificada, além de colocar as comunidades em risco de inundação, seca, aumento dos custos de tratamento de água e uma maior incidência de contaminação da água potável. O GFW Water sugere que abordagens de infraestrutura natural nas bacias hidrográficas de Sumatra serão suficientes para mitigar e prevenir mais danos. “O estabelecimento de zonas de conservação, a prática de sistemas agroflorestais e florestais sustentáveis, além da criação de uma regulação para controlar a abertura de novas estradas, poderão ajudar a resolver o problema em Sumatra”.