O empresário Donald J. Trump, do Partido Republicano, venceu ontem a eleição presidencial nos Estados Unidos e será o sucessor de Barack Obama no comando da Casa Branca a partir de janeiro de 2017.
O presidente eleito frequentemente se coloca como um cético sobre a ciência da mudança do clima e, durante a campanha eleitoral, prometeu revisar ou “cancelar” o Acordo de Paris. Desde segunda passada, negociadores e observadores de todo o mundo estão no Marrocos para a Conferência do Clima de Marrakech (COP 22), encontro que tinha a expectativa de iniciar o processo de implementação do Acordo, formalmente em vigor desde o último dia 04.
Algumas lideranças e especialistas presentes em Marrakech se pronunciaram a respeito da vitória de Trump e as perspectivas futuras sobre o papel dos Estados Unidos na luta contra a mudança do clima. Confira abaixo algumas dessas manifestações.
Annaka Peterson, Oficial de Programa Sênior, Oxfam América:
“O mundo não vai esperar pelos EUA, nem o clima. Este ano, os impactos da mudança climática custaram aos EUA centenas de bilhões de dólares e colocaram 40 milhões de pessoas em risco de fome somente na África do Sul. O próximo presidente precisa trabalhar com o Congresso para avançar mais rápido para reduzir as emissões e proteger os direitos de homens e mulheres na linha de frente da crise climática.”
Michael Brune, Diretor Executivo, The Sierra Club:
“Donald Trump agora tem a distinção pouco favorável de ser o único chefe de Estado em todo o mundo a rejeitar o consenso científico de que a humanidade está dirigindo a mudança climática. Não importa o que aconteça, Donald Trump não pode mudar o fato de que a energia eólica e solar estão se tornando rapidamente mais acessíveis e disponíveis do que os combustíveis fósseis sujos. Tanto os mercados como a defesa ambiental estão nos movendo em direção à energia limpa, por isso ainda há um caminho forte para a redução da poluição climática mesmo sob uma presidência Trump. Trump deve escolher se ele será um presidente lembrado por colocar a América e o mundo em um caminho para o desastre climático ou por ouvir o público americano e nos manter no caminho para o progresso do clima.”
Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima:
“A eleição de Donald Trump, pelos interesses que ele representa, deve ter impacto sobre a ação climática dos Estados Unidos. Isto posto, a agenda climática deixou de depender de apenas um país, como no passado. O Acordo de Paris já tem 102 ratificações, além da americana, e esses países não vão esperar pelos EUA para agir, porque isso é interesse deles. Uma economia inteira baseada em energias renováveis está em movimento no mundo, e representa uma fatia crescente do PIB e da geração de empregos nos próprios EUA. As convicções pessoais de Trump terão, em alguma medida, de se enquadrar a essa realidade.”
André Ferretti, gerente de Estratégias de Conservação da Fundação Grupo Boticário e coordenador-geral do Observatório do Clima:
“Por mais chocante que seja o resultado da eleição, e por mais que o vencedor já tenha professado seu desamor por diversos valores da democracia, um sistema democrático inclui a alternância de poder, e isso é saudável. Esta eleição, num momento em que a ação contra as mudanças climáticas no mundo finalmente começou a atingir a economia real, dá aos republicanos a chance de se reconciliarem com o resto do mundo e com a vida real. E, na vida real, continuamos batendo recordes de temperatura e de eventos extremos, que atingem democratas e republicanos sem distinção.”
Presidente Hilda Heine Presidente da República das Ilhas Marshall:
“O presidente eleito Donald Trump tem sido a fonte de muita discussão sobre as mudanças climáticas no último ano, mas agora que a campanha eleitoral já passou e as realidades da liderança se instalam, espero que ele perceba que a mudança climática é uma ameaça para seu povo e para países inteiros que partilham mares com os EUA, incluindo o meu. O Acordo de Paris sobre as alterações climáticas tornou-se lei tão rapidamente porque há um interesse nacional significativo para cada país na busca de uma ação climática agressiva e esse fato não mudou por causa das eleições norte-americanas. Para as Ilhas Marshall, uma forte ação climática significa sobreviver e prosperar. Eu espero ansiosamente ver o Sr. Trump assumir sua responsabilidade de proteger o seu povo e outros em todo o mundo, para lhes proporcionar oportunidades inerentes à transição para baixa emissão de carbono, de mais e melhores empregos a uma economia mais próspera e melhor saúde.”
Christiana Figueres, ex-secretária executiva da Convenção Quadro das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas (UNFCCC):
“Além da política nacional, a modernização do sistema energético e da infra-estrutura básica é boa para a economia norte-americana, para o emprego e para o crescimento.”
Tina Johnson, Diretora de Política, Rede de Ação Climática dos EUA:
“O presidente eleito Trump tem a oportunidade de catalisar mais ações sobre o clima que enviem um sinal claro para os investidores para manter a transição para uma economia renovável. China, Índia e outros concorrentes econômicos estão competindo para serem as superpotências em energia limpa global e os EUA não querem ser deixados para trás.”
Boeve May, diretora executivo, 350.org:
“De infra-estrutura à ajuda externa, cada decisão que o próximo presidente faz deve ser feita através da lente de uma ação climática ousada. Não basta apenas admitir que a mudança climática é real, precisamos de um presidente que acelere dramaticamente a transição dos combustíveis fósseis para 100 % de energia renovável para todos.”
Maya Golden-Krasner, Advogada Sênior, Centro para a Diversidade Biológica:
“O novo presidente deve proteger as pessoas que ele serve do caos climático. Nenhuma crença pessoal ou afiliação política pode mudar a dura verdade de que cada novo poço de petróleo e oleoduto nos aproxima da catástrofe. A administração tem obrigações morais e legais de cumprir compromissos internacionais e ir mais longe para reduzir a poluição e manter os combustíveis fósseis sujos no solo.”
Carroll Muffett, Presidente, Centro de Direito Ambiental Internacional (Ciel)
“O Acordo de Paris foi assinado e ratificado não por um Presidente, mas pelos próprios Estados Unidos. Como uma questão de direito internacional, e como uma questão de sobrevivência humana, as nações do mundo podem, devem e vão manter os Estados Unidos em seus compromissos climáticos.”
Nathaniel Keohane, Vice-Presidente, Clima Global, Fundo de Defesa Ambiental:
“O próximo presidente será capaz de fazer uma enorme diferença na nossa luta para proteger a saúde a longo prazo e prosperidade dos Estados Unidos e do mundo. A liderança americana e a diplomacia climática foram fundamentais para os sucessos climáticos alcançados em Paris e nosso próximo presidente terá a responsabilidade de estabelecer a meta de emissão dos EUA para 2030 – uma oportunidade para demonstrar uma liderança contínua colocando o país num caminho para zero emissões líquidas no mais tardar neste século.”
Ryan Camero, Coordenador da Equipe de Mídia e Comunicação, SustainUS:
“Ao representar a juventude dos EUA nas Nações Unidas, exigimos que a próxima presidência dos EUA use o Acordo de Paris como um catalisador para reconhecer o papel de nossa nação na crise climática. Como maior emissor per capita de gases de efeito estufa, devemos construir soluções sistêmicas a partir de um entendimento fundamental de que a mudança climática é um produto do capitalismo colonial.”
Mariana Panuncio-Feldman, diretora sênior do Fundo Mundial para a Vida Selvagem (WWF) da cooperação climática internacional:
“Temos uma nova administração e uma nova oportunidade para avançar na ação climática. A administração Obama moveu montanhas para reunir o mundo em torno do combate à mudança climática. Nosso novo presidente precisa levar adiante esse legado e cumprir a promessa de fazer da América a superpotência de energia limpa do mundo. A liderança dos EUA é necessária para transformar o consenso internacional do Acordo de Paris em ação global concreta, e começa por traçar nosso próprio caminho para um futuro de baixo carbono.”