A Methanum, de Minas Gerais, desenvolve sistema adaptado ao Brasil para tratar resíduos urbanos, agrícolas e industriais e gerar energia a partir do metano
A gestão deficiente do lixo urbano no Brasil e seus problemas associados – chorume, gases de efeito estufa, proliferação de animais, odores – sempre inquietou o engenheiro ambiental Luiz Felipe Colturato, que buscou se aprofundar no tema ao fazer um mestrado em Barcelona, na Espanha, no começo dos anos 2000. Lá, percebeu que os resíduos gerados eram muito semelhantes aos das cidades brasileiras, com grande volume de matéria orgânica e pouca separação, mesmo nas lixeiras destinadas à coleta seletiva. Durante dois anos, Colturato trabalhou no Ecoparc 2, maior planta de tratamento de resíduos do mundo até então, onde aprendeu sobre o potencial de geração de energia a partir dos gases que emanam do lixo em decomposição, especialmente o metano.
De volta ao Brasil, o engenheiro uniu-se a outros três sócios – Felipe Gomes, um amigo da faculdade; seu irmão, Thiago Colturato; e Tathiana Almeida, que conheceu em Barcelona – para fundar a Methanum Engenharia Ambiental, em 2009. A empresa projeta e desenvolve equipamentos e sistemas para tratamento de diversos tipos de resíduos, de lixo urbano a resíduos agrícolas e industriais, como a vinhaça [1] das usinas de açúcar e álcool e rejeitos da suinocultura, com geração de energia do biogás.
[1] Vinhaça, ou vinhoto, é um resíduo da produção de álcool obtido da cana-de-açúcar. Antes despejado diretamente nos rios, passou a ser reaproveitado como fertilizante ou como fonte de energia
Os diferenciais de mercado da microempresa, sediada em Belo Horizonte, são justamente o know-how dos fundadores, todos especialistas em gestão de resíduos, e os projetos customizados, desenvolvidos lado a lado com os clientes.
Soma-se a isso o imenso potencial de geração de energia do biogás com o aproveitamento do lixo no País: além dos aterros sanitários, existem cerca de 3 mil plantas para tratamento dos resíduos da suinocultura – equipamentos que foram instalados com a promessa de geração de créditos de carbono e que hoje operam aquém da capacidade.
A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) prevê o fim dos lixões até 2018 e, embora muitos municípios ainda façam o descarte inadequado do lixo urbano, será necessário investir em soluções de tecnologia. “O Brasil tem tudo para ser um dos grandes produtores de energia à base de biogás no mundo. Mas só vamos mudar a realidade do tratamento de resíduos no País com tecnologias locais, caso contrário ficamos reféns de multinacionais”, diz Colturato.
As tecnologias da Methanum foram subsidiadas por recursos destinados exclusivamente à inovação por órgãos de fomento e estão em processo de obtenção de patentes. Um dos projetos piloto, que deve entrar em operação até o fim de 2016, conta com a participação da Comlurb, empresa responsável pela gestão dos resíduos na cidade do Rio de Janeiro. A Methanum vai operar uma planta na qual a produção de gás metano será feita em biodigestores, com bactérias cultivadas sem presença de oxigênio e a seco, ou seja, sem adição de água ao material tratado. A rota tecnológica é fruto de uma parceria entre a Methanum e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e conta com suporte financeiro do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A planta piloto será abrigada nas imediações da estação de transbordo do Caju, no Rio, e o contrato prevê o tratamento de resíduos e obtenção de subprodutos, como energia e composto orgânico, até 2017.
Outra frente de atuação são os clientes do segmento industrial e do agronegócio. A Methanum está construindo uma unidade para tratar a vinhaça, da empresa Adecoagro, no município de Ivinhema (MS), com previsão de gerar até 20 MW de energia elétrica à base de biomassa. Segundo a Methanum, a maior parte dos resíduos ricos em matéria orgânica tem potencial para produzir biogás – a exceção são resíduos florestais, que ainda requerem mais pesquisas para sua transformação. “O trabalho da Methanum consiste em agregar valor ao resíduo, de modo que ele deixe de ser um passivo ambiental para a empresa e se torne um ativo capaz de gerar receita”, diz Colturato.
Methanum Engenharia Ambiental
www.methanum.com.br
Microempresa
Setor: Energia
Faturamento em 2015: R$ 450 mil
Funcionários: 2
Fundação: 2009
Principais clientes: Órgãos de fomento (Finep, BNDES, Feam, GIZ) e as empresas Efficientia (Cemig), Rotária do Brasil, GE Global Research, AngloGold.
O que faz: Projeta e desenvolve equipamentos e sistemas para tratamento de efluentes e resíduos com aproveitamento do biogás e geração de energia elétrica. Também oferece consultoria técnica especializada nesta área.
Inovação para a sustentabilidade: Soluções de saneamento em resíduos urbanos, agrícolas e industriais, associadas à obtenção de subprodutos (composto orgânico e energia elétrica). Suas tecnologias contribuem para a redução do passivo ambiental de empresas e permitem melhorar as condições sanitárias de aterros. A geração de energia, por sua vez, reduz os custos de produção e amplia a eficiência energética. A empresa inova ao adaptar tecnologias internacionais em biodigestores para o cenário brasileiro.
Potencial: As tecnologias da Methanum foram subsidiadas por recursos destinados à inovação por órgãos de fomento do País e estão em processo de obtenção de patentes. Os sistemas permitem tratar uma gama ampla de resíduos, do lixo urbano até rejeitos da suinocultura e efluentes industriais. Em razão da necessidade de cumprimento da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), pode contribuir com soluções adaptadas à realidade brasileira. A empresa também realiza parcerias, por exemplo com a alemã Union e a americana GE, para assistência técnica ou revendedores de equipamentos.
Destaques da gestão: Oferece treinamento de segurança em instalações de biogás, tanto para equipe interna como para clientes, de acordo com normas internacionais. Os projetos de maior escala contam com uma matriz de risco relacionada à sua execução. Periodicamente, realizam-se reuniões com a equipe sobre possibilidades de melhoria da governança, do planejamento e da gestão estratégica da empresa. No escritório, separam e destinam corretamente resíduos, pilhas, baterias e cartuchos.