Há um ano, ao lançar a primeira edição do Guia de Inovação para Sustentabilidade em Micros e Pequenas Empresas, resumimos em uma frase os atributos dos empreendimentos que o GVces e a revista Página22 buscam identificar com esta iniciativa:
“Para aliar-se à força transformadora da nova economia e se tornar realmente um sucesso, não basta um negócio ser inovador, ter potencial de escalabilidade e excelentes práticas de gestão (econômica, ambiental, social e de governança). É preciso, também, criar e cultivar uma relação de benefício recíproco com o elemento central da nova economia: atender às demandas das pessoas e, ao mesmo tempo, produzir contribuições relevantes para aliviar a pressão sobre os sistemas sociais e naturais”.
Hoje, ao completar o segundo ciclo anual do Guia, já é possível lançar um olhar retrospectivo sobre a experiência realizada, buscando reflexões e aprendizados adicionais. Desse exercício, destacamos dois aspectos principais: o processo de formação de massa crítica e o perfil das empresas selecionadas.
É sabido que as perspectivas de florescimento de um negócio dependem, além de seus atributos individuais, em grande medida do ecossistema em que está inserido. A formação desses ecossistemas – lastreados em organizações conectadas por relações produtivas porém integradas e, também, por inúmeros outros elementos e atores – tem entre suas condições essenciais a existência de uma “massa crítica” inicial de empresas. Ou seja, de um conjunto de negócios cujo porte, diversidade e perfil é capaz de atrair pessoas e organizações interessadas em ali alocar seus múltiplos recursos.
Idealmente, com a disponibilidade desses capitais (financeiros, humanos, materiais, informacionais), o ambiente de negócios tende a tornar-se mais pujante e um círculo virtuoso pode se estabelecer.
Ao selecionar e apresentar as 22 empresas integrantes de seu portfólio (11 selecionadas em 2015 e outras 11 em 2016), cremos que este Guia contribui para identificar e dar visibilidade a um conjunto de empresas que, no Brasil de hoje, aposta em um futuro impulsionado pela sinergia com a sustentabilidade.
Nossa experiência mostra que não são poucas: em dois anos, 138 empresas se inscreveram no processo seletivo, e dessas 46 qualificaram-se na primeira fase de avaliação. Esperamos que, assim motivados, mais e mais negócios surjam e se apresentem nos próximos anos, fomentando um ecossistema pujante e capaz de contribuir para a prosperidade do Brasil e do mundo.
Além disso, o perfil dos negócios selecionados traz um interessante vislumbre das atividades que hoje se destacam nesse contexto, por seu potencial e consistência com os critérios deste Guia.
Considerando que estabelecer uma economia circular é uma das mais evidentes demandas da sustentabilidade, não é surpresa que a destinação de resíduos esteja presente nos modelos de negócio de 10 das 22 empresas selecionadas. Em 5 delas esta é a própria atividade-fim da empresa, como no caso das recicladoras e recuperadoras de produtos. Nas demais, resíduos de outras empresas são utilizados como um dos insumos para o seu processo produtivo.
Também crucial para a nova economia, o desenvolvimento de equipamentos e processos produtivos inovadores e em sinergia com a sustentabilidade é o centro do negócio de 11 das empresas selecionadas, tendo em vista que muitas delas são desenvolvedoras de tecnologias específicas nas áreas da química, da mecânica e mesmo da biotecnologia.
Finalmente, 6 empresas têm como objetivo principal a prestação de serviços – inclusive educacionais –, em muitos casos apoiados na aplicação de tecnologia da informação e voltados para a solução de desafios de gestão em logística ou monitoramento de processos e cadeias de valor.
Esperamos que este brevíssimo olhar sobre o portfólio do Guia de Inovação para Sustentabilidade em Micros e Pequenas Empresas, criado em 2015, dê uma ideia da riqueza, diversidade e potencial da massa crítica em formação no Brasil, e que motive cada vez mais atores a conhecer e fortalecer esse importante ecossistema em formação.
*Vice-coordenador do GVces ** Coordenador do Programa Desempenho e Transparência do GVces