Estudo da OCDE aponta que a implementação dos objetivos de redução de emissões previstos pelo Acordo de Paris pode elevar a produção econômica nas 20 maiores economias do mundo em até 2,8% nas próximas décadas
Integrar medidas para combater a mudança do clima à política de desenvolvimento pode trazer impacto positivo para o desempenho econômico no médio e longo prazo. Esta é a principal conclusão de um relatório recém-publicado pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) para a próxima cúpula do G20, o grupo das 20 maiores economias do mundo (entre elas, o Brasil), que acontecerá na Alemanha no mês de julho.
Se os governos alinhassem as agendas de desenvolvimento econômico e de mudança do clima, ao invés de tratar a questão climática de maneira segregada, isto poderia agregar 1% à produção econômica no G-20 até 2021 e 2,8% até 2050. Este desempenho melhora ainda mais se considerarmos os benefícios econômicos de evitar impactos climáticos graves, como inundações costeiras e danos causados por tempestades.
O estudo aponta que os países do grupo – que corresponde a 85% do produto interno bruto global e 80% das emissões mundiais de gases de efeito estufa (GEE) – poderiam adotar uma combinação de políticas de desenvolvimento reforçadas por objetivos de redução de emissões, como precificação de carbono e investimentos em infraestrutura de baixo carbono e resiliente à mudança do clima.
“Longe de ser um obstáculo ao crescimento, a integração da ação climática nas políticas de desenvolvimento pode ter impacto econômico positivo nas economias”, argumentou Angel Gurría, secretário-geral da OCDE, durante a apresentação do estudo na semana passada em Berlim, na Alemanha. “Não há desculpa econômica para não agir contra a mudança do clima, e a urgência para agir é alta”.
Os investimentos em infraestrutura nos próximos 10 a 15 anos serão determinantes para tirar do papel os objetivos de redução de emissões previstos pelo Acordo de Paris. Adiar qualquer medida para além deste prazo pode ter consequências graves para a economia internacional no longo prazo.
De acordo com o relatório, se deixarmos para agir após 2025, o desempenho econômico dos países do G-20 pode ser reduzido em 2% até 2035 se comparado com os resultados baseados em medidas imediatas. Isto porque a demora pode implicar em políticas climáticas mais restritivas, além dos impactos negativos de eventos climáticos extremos mais frequentes.
Para limitar o aquecimento do planeta em 2 graus Celsius, conforme defendido pelo Acordo de Paris, os países do G-20 precisarão investir US$ 6,9 trilhões anuais em infraestrutura até 2030, montante apenas 10% maior do que business as usual. Além disso, a infraestrutura preparada para a mudança do clima pode resultar na economia de US$ 1,7 trilhão anuais por conta da redução do consumo de combustíveis fósseis.
Mesmo em países onde a transição para uma economia de baixo carbono pode ser economicamente mais desafiadora, como nações exportadoras de energia fóssil (petróleo, carvão e gás natural), a combinação correta de políticas de desenvolvimento e medidas de mitigação pode compensar possíveis custos associados à redução da atividade econômica do setor fóssil.