Diante do avanço da mancha urbana, estudo de paisagem promovido por instituto busca reconectar fragmentos de Mata Atlântica entre Serra do Mar e Serra do Itapety. Ecoturismo e educação ambiental também fazem parte da estratégia de conservação
A cada nova inspeção, mais espécies da biodiversidade são identificadas entre as 1.250 já catalogadas nos 6 mil hectares que formam o Parque das Neblinas, a apenas cerca de 100 quilômetros de São Paulo, nos municípios paulistas de Mogi das Cruzes e Bertioga. Na última delas, em setembro, entraram para a lista de “moradores” oficiais – entre os quais estão o macaco muriqui, a onça parda e a anta – o sapinho da barriga vermelha (Paratelmatobius yepiranga), o sapinho da garganta preta (Adenomera ajurauna) e uma nova espécie de formiga ainda sem nome científico.
Visto de dentro, tudo vai muito bem na reserva ambiental da Suzano Papel e Celulose, reconhecida pelo Programa Homem e Biosfera da Unesco como Posto Avançado da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica. Gerida pelo Instituto Ecofuturo, a área que repousa sobre a bacia do Rio Itatinga possui longos trechos de florestas conservadas e protegidas, outros em processo de recuperação, e mais de 400 nascentes. Ali realizam-se pesquisas científicas na área de manejo sustentável de madeira, atividades de visitação, projetos de educação ambiental e de participação comunitária.
Visto do alto, é nítida a ameaça que ronda o bem-cuidado Parque das Neblinas (destacado nos mapas). Na apresentação com que o diretor de sustentabilidade do Instituto Ecofuturo, Paulo Groke, recepciona os visitantes, imagens de satélite exibem numa linha do tempo, desde 1990, a mancha urbana de Mogi das Cruzes se tornando mais densa e se aproximando, perigosamente, da reserva. Entre a região central do município e o Parque das Neblinas fica o distrito de Taiaçupeba, que ainda mantém características rurais mas sente a pressão do crescimento urbano.
O Ecofuturo está desenvolvendo um estudo de paisagem, em parceria com a Universidade de Mogi das Cruzes, para indicar os principais remanescentes de Mata Atlântica na região e propor formas de usar essa ocorrência de fragmentos para estabelecer corredores ecológicos como uma parte da estratégia do Plano Diretor do município. “Estamos pensando em uma conexão entre a Serra do Mar e Serra do Itapety [Mogi das Cruzes está localizada entre essas duas serras], aproveitando a matriz florestal ainda existente. Se conseguirmos ajudar o município a estabelecer esses corredores, vai diminuir muito o desmatamento em Taiaçupeba”, explica Groke.
Outras iniciativas do Instituto são o apoio a uma participação mais intensa dos órgãos fiscalizadores no combate ao desmatamento e um programa de educação ambiental para crianças e jovens do local. O Parque das Neblinas é aberto ao público para visitações agendadas com alguma antecedência. Há 5 opções de trilhas, autoguiadas ou com acompanhamento de monitores, que podem variar de 30 minutos a 4 horas de caminhada.
Para quem gosta de passar a noite em contato direto com a natureza, há a opção um camping com instalações convidativas até para quem não é muito afeito à prática. Outras atividades esportivas são a canoagem nas águas cristalinas do Itatinga, e o cicloturismo, que conta com um circuito de 10 quilômetros de antigas estradas às margens do rio. A alimentação também é especial. O cardápio desenvolvido por uma empresa da comunidade de Taiaçupeba, inclui receitas artesanais com ingredientes nativos da Mata Atlântica, como o cambuci e frutos da palmeira juçara.
Acesse mais informações sobre o Parque, saiba mais em reportagem publicada em 2015 e compare o aumento da mancha urbana, marcada em rosa: