A Plataforma Parceiros pela Amazônia acaba de lançar um programa de aceleração voltado a startups amazônicas. Quinze empreendimentos participam dessa primeira edição
Na Amazônia, cada vez mais surgem iniciativas de inclusão de comunidades ribeirinhas, indígenas, quilombolas e agricultores familiares em processos produtivos e novos mercados. Esses negócios trazem a possibilidade de alavancar uma nova economia na região, contrária ao desmatamento e às atividades predatórias e valorizando a sociobiodiversidade.
Ciente desse quadro, a Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA) deu início, em fevereiro, a um Programa de Aceleração voltado a startups amazônicas. Participam dessa primeira edição do Programa 15 empreendimentos, selecionados em meio a 81 inscritos em uma Chamada de Negócios realizada em 2018. A iniciativa inclui a realização de oficinas, workshops, mentorias, assessoria jurídica e contábil, bolsas de estudo e a viabilização de espaços de coworking para as startups e empreendedores selecionados em seu portfólio.
A primeira atividade realizada foi a Oficina de Inovação em Modelos de Negócios e Construção de Indicadores de Impacto, que apresentou o Modelo C aos empreendedores participantes do Programa, estimulando cada um deles a trabalhar ao mesmo tempo no desenho dos negócios e da cadeia de gestão de impacto, integradamente.
Em grupo, os empreendedores avançaram na modelagem individual de seus negócios, ao mesmo tempo em que interagiram entre si em eventuais dúvidas e similaridades. O Modelo C foi desenvolvido pelo Sense-Lab e pela Move Social, com apoio do Instituto de Cidadania Empresarial (ICE) e da Fundação Grupo Boticário.
Para Andreas Ufer, do Sense-Lab, o chamado de trabalhar com a aceleração desses negócios adotando o Modelo C desde o início do processo contribui para a qualidade do Programa ao longo do ano, ao mesmo tempo em que também ajuda a validar a própria ferramenta. “O potencial disso é muito grande, em duas direções. Primeiro, no sentido de construir uma alternativa robusta para a Amazônia, e segundo, como essa visão pode contaminar o resto do movimento de negócios de impacto. E tem também uma visão diferente para nós, porque a Amazônia tem um contexto diverso, temos aqui um aprendizado de como lidar com tudo isso”.
O Programa, coordenado pelo Instituto de Conservação e Desenvolvimento da Amazônia (Idesam) com apoio da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid) e do Centro Internacional de Agricultura Tropical (Ciat) e parceria de diversas outras instituições, vai ajudar os negócios a alcançarem novos estágios de desenvolvimento, contribuindo para ampliar sua capacidade de gerar impacto socioambiental positivo na Amazônia.
Essas 15 startups, localizadas em municípios nos estados do Amazonas e do Pará, iniciaram também conexões e trocas que podem proporcionar novas oportunidades de negócios. Embora o grupo participante dessa primeira edição do Programa de Aceleração da PPA tenha perfis diversos, tem também a consciência de sua força como uma espécie de showcase capaz de inspirar iniciativas semelhantes, catapultando uma nova economia para a região.
“É a primeira vez que um grupo tão forte de empreendedores e startups se reúne para resolver problemas socioambientais da Amazônia a partir de seus próprios negócios. A solução para o desmatamento da floresta passa pelo desenvolvimento de soluções inovadoras para a economia da região. A Amazônia precisa de uma nova economia. E essa economia começa agora”, diz Mariano Cenamo, co-fundador do Idesam e coordenador executivo da PPA.
As startups amazônicas e a PPA
Os negócios selecionados para participar do Programa ao longo de 2019 oferecem soluções sustentáveis para questões sociais e/ou ambientais, em áreas diversas como gastronomia, resíduos sólidos, piscicultura, meliponicultura, artesanato, agricultura, extrativismo e robótica.
Os formatos e os estágios de evolução são variados. Microempreendedores individuais, sociedades limitadas e cooperativas estarão juntos ao longo do ano, trocando experiências no avanço de seus empreendimentos.
Os 15 participantes do Programa são: Da Tribu, 100% Amazônia, Awí Amazon Fruits, Broto Tecnologia Agrícola, Coopmel, Chocolates De Mendes, Ecopainéis de Fibra de Açaí, Encauchados de Vegetais da Amazônia, Tipiti, Manaos Tech, Onisafra, Sustente Ecosoluções, Ração Mais, Peabiru e Manioca. Grande parte deles trabalha com comunidades de agricultores familiares, extrativistas, ribeirinhos e indígenas em suas cadeias produtivas. Outros, produzem impactos ambientais nas áreas de resíduos sólidos, com reaproveitamento de caroços e sementes de frutos e resíduos orgânicos.
O movimento de apoio aos negócios de impacto amazônicos vem sendo fomentado pela Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA), que reúne empresas e parceiros que atuam no sentido de buscar novos modelos de desenvolvimento não predatórios para a Amazônia.
Desde sua criação, em dezembro de 2017, a PPA realizou uma Chamada de Negócios de Impacto e o 1º Fórum de Investimento de Impacto e Negócios Sustentáveis, ambos em 2018. Investiu mais de um R$ 1 milhão em algumas das startups que iniciam agora o Programa de Aceleração e desenvolveu, junto com parceiros estratégicos, dois estudos voltados a identificar novas oportunidades e caminhos para o investimento sustentável e de impacto na Amazônia. Uma segunda Chamada de Negócios deve ser realizada em breve.
Saiba mais sobre o papel do setor privado na conservação da biodiversidade neste artigo do colunista João Meirelles Filho, escrito conjuntamente com Mariano Cenamo e Vasco van Roosmalen.