Artigo de capa da revista britânica sugere que o mundo alerte o atual presidente de que não irá tolerar seu vandalismo. “Os parceiros comerciais do Brasil devem contingenciar seus acordos às boas práticas ambientais.”
Uma das revistas mais tradicionais, de maior circulação do Reino Unido e de orientação liberal – a Economist –, publica hoje um artigo de capa sobre o aumento desenfreado do desmatamento na Floresta Amazônia, intitulado “Deathwatch for the Amazon” (Velório da Amazônia, em tradução literal).
A maior floresta tropical do mundo, que abriga de 10% a 15% das espécies terrestres, está, segundo a publicação, “perigosamente próxima de seu ponto de inflexão, além do qual não há mais como impedir ou reverter sua gradual transformação em uma região semelhante às estepes [formação vegetal rasteira com predominância de gramíneas insuficientes para cobertura do solo]”.
O artigo afirma que o governo de Jair Bolsonaro está apressando o processo de devastação da floresta em nome do que ele chama de desenvolvimento. “Desde que Bolsonaro assumiu a presidência em janeiro, as árvores estão desaparecendo a uma taxa equivalente a mais de duas Manhattans (cidade de Nova York) por semana”.
De acordo com a publicação, os humanos vêm devastando a Floresta Amazônica desde que ali se estabeleceram, há mais de dez milênios. Nos anos 1970, no entanto, a devastação passou a ser em escala industrial. Só nos últimos 50 anos, a revista diz que o Brasil perdeu 17% da extensão original da floresta, mais do que a área da França, para a construção de estradas e barragens, extração de madeira, mineração, plantio de soja e pecuária.
“Depois de um esforço governamental de sete anos para retardar a destruição, o desmatamento voltou a partir de 2013 por causa do enfraquecimento da fiscalização e da anistia dada aos desmatadores. A recessão e a crise política reduziram ainda mais a capacidade do governo de aplicar as regras de fiscalização”.
Agora, ironiza a revista, Bolsonaro alegremente entrega motosserras aos desmatadores. Embora o Congresso Nacional e a Justiça tenham bloqueado alguns de seus esforços para acabar com o status de Áreas de Preservação Permanente em partes da Amazônia, Bolsonaro deixou claro que os desmatadores não têm nada a temer.
O artigo sugere que o mundo alerte o atual presidente de que não irá tolerar seu vandalismo. “A indústria de alimentos deve rejeitar a soja e a carne produzidas em terras amazônicas exploradas ilegalmente. Os parceiros comerciais do Brasil devem contingenciar seus acordos às boas práticas ambientais. O acordo alcançado em junho entre União Europeia e Mercosul, já inclui dispositivos para proteger a floresta tropical. E o mesmo deve valer para a China, que está preocupada com o aquecimento global e precisa da agricultura brasileira para alimentar seu gado”.
The Economist conclui afirmando que a população brasileira deve pressionar o governo a reverter esse curso. “Eles [os brasileiros] foram abençoados com um patrimônio planetário único, cujo valor é tão intrínseco e sustentador da vida, quanto é comercial. Deixá-lo perecer seria uma catástrofe desnecessária.”
Ontem, em coletiva de imprensa, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, admitiu que o desmatamento vem crescendo. Mas, em vez de apresentar um programa para o combate, criticou o uso de dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Para ele, o sistema Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), não deve ser utilizado para fazer comparações de um mês para o outro. Os dados do Deter mostram alta de 40% de desmatamento, no agregado dos últimos 12 meses, em relação a igual período anterior.
Segundo nota emitida pelo Observatório do Clima (OC), “Salles fracassou quatro vezes em sua performance” na entrevista: não conseguiu descredenciar o Inpe, não apresentou nenhum dado alternativo aos do Deter, não explicou o aumento da devastação na Amazônia, e não disse o que vai fazer para conter a explosão da devastação. “Pior ainda, reafirmou a intenção de usar dinheiro público para contratar mais um sistema de sensoriamento remoto, quando o que falta na Amazônia neste momento é fiscalização e investimento em atividades sustentáveis”, diz o OC.
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