Investimento global de US$ 1,8 trilhão em adaptação à mudança do clima entre 2020 e 2030 pode resultar em benefícios que somam até US$ 7,1 trilhões, informa estudo
Se o mundo investir US$ 1,8 trilhão ao longo da próxima década em iniciativas de adaptação à mudança do clima, o retorno dessa aplicação em termos de benefícios diretos e indiretos poderá ser quase quatro vezes maior para a economia global. Essa é a principal conclusão do relatório publicado hoje, 10 de setembro, pela Comissão Global sobre Adaptação, chefiada pelo ex-secretário-geral das Nações Unidas Ban Ki-moon, pelo fundador da Microsoft Bill Gates e pela CEO licenciada do Banco Mundial Kristalina Georgieva.
O relatório reforça a importância de governos e empresas se esforçarem urgentemente na agenda de adaptação climática, na busca por inovação em soluções que facilitem a absorção do impacto da mudança do clima pelas comunidades, especialmente aquelas mais vulneráveis aos efeitos negativos desse processo.
De acordo com a Comissão, se o mundo não avançar em medidas de adaptação climática na próxima década, milhões de pessoas serão empurradas para abaixo da linha da pobreza, o que resultar em mais conflitos e instabilidade internacional, piorados por conta da intensificação de eventos climáticos extremos, como tempestades e estiagens mais fortes.
“A crise climática não respeita fronteiras: ela é um problema internacional que somente pode ser resolvido por meio da cooperação e da colaboração entre os países”, ressalta Ban Ki-moon.
“A mudança do clima já é realidade em diversas partes do mundo, o que torna a necessidade de adaptação ainda mais urgente. Adaptação não é apenas a coisa certa a ser feita mas também é o mais inteligente para se fazer para impulsionar o crescimento econômico e dar resiliência às pessoas”, completa.
Pelas contas da Comissão, a taxa geral de retorno do investimento em melhoria na resiliência é alta, com proporção de custo-benefício indo desde 2:1 até 10:1; em alguns casos, ela pode ainda mais alta.
Especificamente, a análise aponta que a aplicação de US$ 1,8 trilhão em cinco áreas estratégicas para adaptação climática – sistemas de alerta antecipado, infraestrutura resiliente ao clima, melhoria da agricultura em terras secas, proteção de mananciais, e investimento em resiliência dos recursos hídricos – ao longo da década entre 2020 e 2030 pode gerar até US$ 7,1 trilhões em benefícios líquidos totais. Ainda de acordo com o relatório, essas áreas representam apenas uma porção do total de investimentos necessário e do total de benefícios disponível.
Assim, para a Comissão, a adaptação climática pode gerar um “dividendo triplo”: ela evita perdas futuras, gera ganhos econômicos positivos via inovação, e gera benefícios sociais e ambientais adicionais. Os benefícios podem ser ainda mais sensíveis para os grupos sociais mais vulneráveis aos efeitos da mudança do clima, geralmente negligenciadas no processo decisório de adaptação.
“Os mais impactados pela mudança do clima são os milhões de pequenos agricultores e suas famílias nos países em desenvolvimento, que lutam contra a pobreza e a fome causada pelas perdas na produção resultantes das condições extremas de temperatura e chuvas”, argumentou Bill Gates. “Com maior apoio para inovação, podemos destravar novas oportunidades para essas pessoas. Adaptação é uma questão urgente que precisa do apoio dos governos e das empresas para garantir a oportunidade de prosperar para aqueles que estão sob maior risco climático”.
A análise feita pela Comissão destaca ações como a restauração de florestas de mangue na Tailândia, Índia e Filipinas, que pode proteger comunidades costeiras de tempestades mais fortes e, ao mesmo tempo, prover um habitat essencial para a pesca local, impulsionando a prosperidade regional. Outra ação destacada é a redução de risco de enchente em áreas urbanas, como na região leste de Londres, com a proteção contra inundações do Tâmisa, que viabilizou novos empreendimentos imobiliários no local.
No relatório, a Comissão defende também mudanças estruturais para garantir que riscos, impactos e soluções climáticos sejam levados em consideração no processo decisório em todos os níveis e abarcando o que ela identifica como sete sistemas interligados – alimentação, meio ambiente natural, água, cidades, infraestruturas, gestão de risco de desastre, e finanças.
Ano da Ação por Adaptação Climática
O lançamento do novo relatório da Comissão Global sobre Adaptação marca o começo de uma campanha de redes sociais para destacar a demanda global para adaptar as comunidades para a mudança do clima, com a hashtag #AdaptOurWorld.
O relatório abre também o chamado Ano da Ação por Adaptação Climática, que deve ser formalmente apresentado pelo governo dos Países Baixos um dia depois da Cúpula das Nações Unidas sobre Ação Climática, no dia 24 de setembro em Nova York. O objetivo dessa iniciativa é mobilizar o debate público sobre adaptação à mudança do clima nos próximos meses – que coincide também com o começo da vigência formal do Acordo de Paris – até a realização de um encontro especial sobre o tema, em outubro de 2020 em Roterdã.
O relatório está disponível no site da Comissão Global sobre Adaptação pelo link https://gca.org/global-commission-on-adaptation/report