Incluindo a responsabilidade de todos nós, consumidores, grande parte da saída para a questão dos resíduos está na adoção da economia circular
De quem é a responsabilidade sobre a gestão dos resíduos urbanos? A resposta a essa pergunta evoluiu com o tempo. Até os anos 1990, por exemplo, não estava claro se a reciclagem seria a melhor saída. Talvez a coleta e o descarte, imaginava-se, consumissem menos energia. Nos anos 2000, ficou claro que o esgotamento dos recursos naturais e os danos provocados pela disposição sem critério do lixo eram muito maiores do que qualquer gasto adicional na gestão responsável dos resíduos.
E, então, em 2010 foi promulgada a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Do ponto de vista das intenções, sua concepção era exemplar. Estipulava, entre outras normas, que a gestão das embalagens deveria ser compartilhada por toda cadeia produtiva: fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, municípios e cidadãos. No papel, envolvia todos no processo; na prática, ninguém acabava tomando conta da criança. E assim seguimos.
A PNRS, na verdade, foi mais uma vítima do choque das ideias com a realidade. Como regulamentar, por exemplo, o compartilhamento de responsabilidade na gestão de resíduos urbanos entre todos os elos? No mundo perfeito, o consumidor reduz e separa o seu lixo, o ente público o recolhe por meio de coleta seletiva, o lixo é reciclado apropriadamente, e o restante é destinado a um fim dentro dos melhores padrões mundiais: incineração, aterro etc.
No mundo dos mortais, porém, a coisa é um tanto diferente: a maioria das pessoas não separa adequadamente o lixo – apenas 20% dos municípios no País têm algum tipo de coleta seletiva. Em função disso, a reciclagem de embalagens, de modo geral, é muito baixa (o alumínio é a honrosa exceção). E não existe destinação adequada. O Brasil ainda tem perto de três mil lixões, segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe).
A barafunda se completa com o capcioso raciocínio de alguns fabricantes, que põem na conta da educação ambiental, ou melhor, na falta dela, a responsabilidade pela poluição provocada por certas embalagens. Ou seja, a raiz do problema não é a embalagem, mas o seu descarte inadequado.
O comportamento do consumidor, sem dúvida, contribui com a poluição, tanto quanto o material de que são feitas certas embalagens. Mudar a atitude dos consumidores somente, não vai resolver a questão. A guinada tem de ser abrangente. Estou convencido de que a saída passa por um modelo de produção de bens e serviços diferente, que já existe, mas que precisa ser incentivado: a economia circular, cujo objetivo é diminuir a intensidade de utilização de matérias-primas e de energia, focando na redução, reutilização e reciclagem.
Mas não se trata somente de reciclar ou de recuperar materiais. A economia circular impõe um novo olhar: a economia vista de uma perspectiva de sustentabilidade, traduzida em questões como o impacto das minhas ações no futuro, o equilíbrio entre fazer o melhor produzindo o menor dano.
Dentro dessa visão, os preços – que são mensagens – deveriam refletir a dinâmica de uma sociedade cada vez mais rigorosa em relação aos padrões ambientais. Em outras palavras: o que é sustentável e o que não é sustentável precisam ser precificados. Da mesma forma, as matérias-primas devem ser valoradas não apenas pelo custo, mas pela resiliência, ou seja, pela capacidade de serem reutilizadas com um gasto mínimo de energia.
Voltando ao raciocínio capcioso descrito acima, precisamos, sim, de consumidores conscientes e sustentáveis tanto quanto de produtos sustentáveis. É uma mudança de paradigma.
Estamos diante de grandes decisões que vão impactar a nossa vida e a das próximas gerações. Às vezes, essa perspectiva se perde atrás de uma cortina de fumaça, dos problemas mais imediatos que enfrentamos. Mas são decisões inescapáveis e que necessitam ser debatidas. Como dizia o canadense Maurice Frederick Strong, subsecretário das Organizações das Nações Unidas (ONU) morto em 2015:
“Sustentabilidade significa gerenciar o ambiente global, gerenciar a Terra como uma corporação: com contas de depreciação, amortização e manutenção. Em outras palavras, manter o bem inteiro, em vez de minar seu capital natural.”
*Presidente-executivo da Associação Brasileira do Alumínio (Abal)