Pesquisadores mostram que soluções para frear o aquecimento global estão disponíveis a custo acessível. O que falta às empresas e aos governos é serem proativos
Se o combate ao aquecimento global por parte das empresas não se dará pura e simplesmente em prol do bem comum, que se dê então para evitar a bancarrota delas mesmas. Em artigo publicado no último dia 20, o Boston Consulting Group (BCG) traz um alerta sobre uma forte recessão prevista para as próximas décadas em razão dos efeitos da mudança climática.
A análise foi feita com base em dados da Universidade de Stanford, que apontam uma queda, em média, de 30% do Produto Interno Bruno per capita no mundo até o fim deste século em decorrência dos efeitos do clima – a se seguir o cenário atual, que levaria as temperaturas globais ao patamar de 4° C até 2100. O IPCC projeta que, se o aumento fosse limitado a 1,5° C, o PIB médio per capita seria apenas 8% menor.
Os autores do artigo, intitulado Flipping the Script on Climate Action (Invertendo o Script da Ação Climática), afirmam que, para muitos setores, os avanços tecnológicos na área de redução das emissões de carbono já são economicamente viáveis. Há apenas uma década, o custo das energias eólica e solar era de fato proibitivo e havia uma preocupação significativa de que sua volatilidade ameaçaria a estabilidade da rede elétrica.
Atualmente, segundo o BCG, ambas as fontes se tornaram mais baratas do que o carvão, o gás e a nuclear na maioria dos países desenvolvidos. “A possibilidade de se ter um suprimento de energia 100% renovável não parece mais ser uma questão de ‘se’ ou ‘como’, mas sim de ‘quando’, pelo menos em parte da Europa”. A pesquisa do BCG mostra ainda que a maioria dos países já pode atender cerca de 80% de suas contribuições ao Acordo de Paris sem recorrer a tecnologias novas ou não comprovadas.
Há inclusive países que já começam a ver na redução de emissões uma oportunidade de negócio com expectativas até de aumento do PIB. Esses pioneiros na economia sustentável, além de cumprirem os compromissos firmados em Paris, serão futuramente os mais bem sucedidos em termos de crescimento econômico, prevê o estudo.
Apesar disso, e do aumento da pressão pública em todo o mundo, o debate econômico em torno da ação climática continua dominado pelo ceticismo. “Os reguladores e as empresas seguem relutantes em promover uma redução ambiciosa por medo de prejudicar a competitividade e o crescimento econômico.”
Como não há esperança de que um mecanismo global mais eficaz e mais ágil de redução de emissões surja como uma epifania, o Centro para Ações Climáticas (CAC), braço do BCG criado para ajudar setores público e privado a gerir as transformações necessárias para enfrentar os desafios do clima, recomenda: aos governos, que insistam em políticas nacionais de redução de emissões e eliminem gradualmente os combustíveis fósseis; e às empresas, que sejam proativas em tornar os seus modelos de negócios e operações resilientes às alterações climáticas, até para se alinhar aos interesses de investidores – mesmo que isso signifique ter de superar desvantagens comerciais no curto prazo.
O debate sobre se a mudança climática está mesmo ocorrendo ou se a atividade humana é a causa dominante ficou no passado. A discussão atual gira em torno de quão grave podem ser os impactos que virão. Segundo o artigo, ainda estamos mal equipados para captar e quantificar os efeitos colaterais do clima. “Mas quanto mais os cientistas os compreendem, mais terríveis são suas previsões”. Por exemplo:
Elevação do nível do mar: A velocidade do aumento do nível do mar foi subestimada. O colapso da plataforma de gelo Larsen B, na Antártica Ocidental, tem demonstrado a rapidez com que a desestabilização subaquática já está ocorrendo hoje.
Incêndios: Este ano houve incêndios em larga escala na taiga russa e na Amazônia brasileira, dois dos maiores ecossistemas globais. O risco de novos incêndios aumenta na mesma proporção que a temperatura sobe, mas os modelos climáticos de hoje dificilmente captam os impactos subsequentes nesses biomas.
Ondas de calor e secas: Florestas estão morrendo e as terras agrícolas se degradando. No entanto, o que vimos no Oriente Médio, na Europa e em partes da América do Norte nos últimos anos marca apenas o início de um declínio de longo prazo.
Escassez de água: Em megacidades globais como Chennai, na Índia, e Cidade do Cabo, na África do Sul, a escassez cada vez mais severa de água potável ameaça o bem-estar físico e econômico de milhões de cidadãos. Mais se seguirá, mesmo se limitarmos o aquecimento a 2° C.
Acesse aqui o artigo completo dos pesquisadores Jens Burchardt, Michel Frédeau, Philipp Gerbert, Patrick Herhold e Cornelius Pieper.