Estudo do Iema mostra os locais georreferenciados onde falta o recurso. Com essas informações, é possível realizar políticas específicas para cada caso respeitando as características socioculturais de comunidades diversas e buscando utilizar tecnologias apropriadas para os diferentes locais
[foto: Giuliana Xavier/ Flickr Creative Commons]
Se você está lendo este texto pelo computador, provavelmente, faz parte da parcela da população brasileira com acesso à energia elétrica em casa ou no trabalho. Enquanto vivemos a era da Quarta Revolução Industrial, onde a internet permeia o nosso cotidiano, 990.103 brasileiros estão sem energia elétrica na Amazônia Legal. Eles nem sequer têm uma tomada para ligar um refrigerador.
Esse dado faz parte de uma análise feita pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema), que aponta os locais onde vivem os brasileiros sem acesso ao serviço público de energia elétrica na região. A organização desenvolveu uma metodologia analítica georreferenciada especialmente para estimar e acompanhar a evolução desse número, em diferentes demarcações territoriais e classes populacionais como povos indígenas, extrativistas, quilombolas e assentados.
“Com os resultados desse trabalho, é possível planejar o montante de recursos para suprir o problema, em quanto tempo se quer atingir a universalização da energia elétrica na Amazônia e como ir além do acesso à energia para o bem-estar social ao promover também as atividades produtivas comunitárias”, explica Pedro Bara, pesquisador sênior do Iema.
Por exemplo, devido a esse estudo, estima-se que 19% da população que vive em Terras Indígenas na Amazônia esteja sem acesso à energia elétrica. Para a população que vive em Unidades de Conservação, esse número chega a 22% e, para assentados rurais, é de 10%. Com essas informações, é possível realizar políticas específicas para cada caso respeitando as características socioculturais de comunidades diversas e buscando utilizar tecnologias apropriadas para os diferentes locais.
Onde estão as pessoas sem energia elétrica
Antes deste estudo realizado pelo Iema, não existia um conjunto de dados georreferenciado e atualizado que permitisse monitorar a evolução do atendimento com diferentes recortes territoriais. Uma base de dados disponível era o Censo Demográfico de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ele incluía o acesso à energia elétrica como uma das perguntas em seu questionário básico, porém está desatualizado pois deixa de fora as ligações realizadas nos últimos nove anos. Além disso, tal informação já não vai fazer parte do questionário a ser aplicado ao Censo 2020.
Por fim, as distribuidoras responsáveis por cada estado têm estimativas em seus planos de universalização para suas áreas de concessão, mas nem sempre são de fácil acesso a toda a população e falta transparência sobre a sua metodologia. “Segundo as próprias distribuidoras, os levantamentos de campo são muito custosos e demorados para realizar, principalmente para comunidades em áreas remotas. Assim, estimativas como essa tornam-se uma opção importante principalmente na fase de planejamento”, explica Camila Cardoso, pesquisadora do Iema.
Em cinza, 20% do território brasileiro estão no escuro: