Enquanto o novo coronavírus domina as manchetes internacionais, a poluição atmosférica contribui para quase 7 milhões de mortes a mais por ano, alerta relatório mundial. O estudo destaca a queima agrícola como fator poluente no Brasil
A poluição do ar continua a representar uma das maiores ameaças à saúde humana, com 90% da população mundial respirando ar abaixo de níveis seguros. Os últimos dados compilados pela IQAir, plataforma global de informações sobre qualidade do ar, publicados no Relatório Mundial da Qualidade do Ar de 2019 e no ranking das cidades mais poluídas, revelam a mudança do estado da poluição por material particulado (PM2,5) em todo o mundo durante 2019. No mapa interativo do link, é possível buscar uma cidade e consultar o seu nível de poluição.
Os novos dados destacam os níveis elevados de poluição do ar como um resultado de eventos da crise climática, como tempestades de areia e incêndios florestais, e ganhos de poluição pela rápida urbanização das cidades em regiões como o Sudeste Asiático. Embora algumas conquistas tenham sido feitas na infraestrutura de monitoramento da qualidade do ar em todo o mundo, ainda existem grandes lacunas no acesso aos dados em todo o mundo.
Para Frank Hammes, CEO da IQAir, “enquanto o novo coronavírus está dominando as manchetes internacionais, um assassino silencioso está contribuindo para quase 7 milhões de mortes a mais por ano: a poluição do ar. Por meio da compilação e visualização de dados de milhares de estações de monitoramento da qualidade do ar, o Relatório Mundial da Qualidade do Ar de 2019 dá novo contexto à principal ameaça à saúde ambiental do mundo.”
As principais conclusões do relatório incluem:
– Na China: as cidades chinesas alcançaram uma redução média de 9% nos níveis de PM2,5 em 2019, após uma queda de 12% em 2018. Ainda assim, 98% das cidades excederam as diretrizes da Organização Mundial de Saúde (OMS) e 53% das cidades excederam as metas nacionais menos rigorosas da China. Na última década, Pequim cortou em mais da metade seus níveis anuais de PM2,5. Este ano, Pequim saiu das 200 cidades mais poluídas do ranking.
– Na Coréia do Sul: este foi o país mais poluído em PM2,5 entre as nações da OCDE em 2019. Os níveis de qualidade do ar nas principais cidades permaneceram relativamente estagnados nos últimos anos.
– Na Índia: enquanto as cidades da Índia, em média, excedem a meta da OMS para exposição anual a PM2,5 em 500%, a poluição do ar nacional diminuiu 20% de 2018 a 2019, com 98% das cidades experimentando melhorias. Acredita-se que essas melhorias sejam em grande parte resultado da desaceleração econômica.
– No Sul da Ásia: cidades indianas e paquistanesas dominam novamente as cidades mais poluídas do mundo por PM2,5 em 2019. Vinte e uma das 30 principais cidades poluídas estão localizadas na Índia. Cinco das 30 principais cidades mais poluídas estão localizadas no Paquistão.
– No Sudeste da Ásia: em uma mudança histórica que reflete a rápida industrialização da região, os centros urbanos de Jacarta e Hanói ultrapassaram Pequim pela primeira vez, entre as capitais poluídas por PM2,5 do mundo.
– Incêndios florestais e práticas agrícolas de queima aberta tiveram um grande impacto na qualidade do ar de cidades e países ao redor do mundo, incluindo: Cingapura, Austrália, Indonésia, Brasil, Kuala Lumpur, Bangcoc, Chiang Mai e Los Angeles, entre outros.
– A desertificação e as tempestades de areia desempenham um papel importante na má qualidade do ar no Oriente Médio e oeste da China.
– Grandes populações em todo o mundo ainda não têm acesso a dados de poluição do ar em tempo real, especialmente na África e no Oriente Médio. Um número crescente de cidadãos e ONGs globais está implantando seus próprios sensores de qualidade do ar de baixo custo para preencher as lacunas de dados onde elas existem. Devido a esses esforços, dados contínuos de qualidade do ar público estão agora disponíveis pela primeira vez em Angola, Bahamas, Camboja, República Democrática do Congo, Egito, Gana, Letônia, Nigéria e Síria.
Os dados de qualidade do ar de 2019 mostram indicações claras de que a mudança climática pode aumentar diretamente o risco de exposição à poluição do ar, através do aumento da frequência e intensidade de incêndios florestais e tempestades de areia.
Da mesma forma, em muitas regiões, a causa da poluição ambiental por PM2,5 e os gases do efeito estufa que causam mudanças climáticas estão ligados, a saber, a queima de combustíveis fósseis, como o carvão. É necessária uma ação urgente para combater essas fontes de emissão, proteger a saúde pública e os ecossistemas.
“Enquanto o monitoramento da qualidade do ar está aumentando, a falta de dados sobre a qualidade do ar em grandes partes do mundo apresenta um problema sério, pois o que não é medido não pode ser gerenciado. Estima-se que as áreas que não possuem informações sobre a qualidade do ar tenham uma das poluições atmosféricas mais graves do mundo, colocando em risco populações enormes. Atualmente, a África, um continente de 1,3 bilhão de pessoas, possui menos de 100 estações de monitoramento que disponibilizam os dados do PM2,5 ao público em tempo real. Mais dados da qualidade do ar em tempo real levam os cidadãos e os governos a tomar melhores decisões que melhorarão a vida de milhões nas próximas décadas”, acrescentou Hammes.