Ministros de finanças e economia dos 20 países mais ricos do mundo anunciam que vão alinhar a recuperação econômica pós-pandemia aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e a compromissos internacionais relevantes, como o Acordo de Paris sobre mudança do clima. A seguir, informações divulgadas pelo Instituto ClimaInfo:
Os ministros de finanças e economia dos países do G-20, que reúne as 20 nações mais ricas do mundo, comprometeram-se a uma recuperação econômica “ambientalmente sustentável” decorrente da pandemia de Covid-19. No comunicado conjunto, endossado por todos os membros, inclusive Estados Unidos e Brasil, destaca a importância dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas e ressalta a “responsabilidade de longo prazo com nosso planeta” de todos os membros do G-20.
Os ministros também concordaram com um congelamento temporário de pagamentos de dívidas por parte de países menos desenvolvidos e em desenvolvimento. Países que recebem assistência bilateral para o desenvolvimento estimam compromissos de pagamento de cerca de US$ 40 bilhões, agora congelados. Empréstimos de país a país, que também estão com pagamentos suspensos, são estimados em pouco menos de US$ 20 bilhões.
Os ministros de finanças e economia do G-20 discutiram virtualmente a adoção de um Plano de Ação para combate à crise global de Covid-19 e definiram orientações para a recuperação dos países. O comunicado reconhece o “desafio sem precedentes dessa crise sanitária” e se compromete a apoiar os governos dos países em desenvolvimento no esforço de enfrentamento da crise.
Dada a hostilidade recente observada entre os países do G-20 no que diz respeito a ações climáticas – especialmente dos Estados Unidos – o compromisso com uma “recuperação verde” é significativa. Os países do G-20 vão alinhar suas ações de recuperação com os ODS e outros “compromissos internacionais relevantes”, o que pode incluir o Acordo de Paris sobre mudança do clima.
Repercussão sobre o comunicado
Laurence Tubiana, CEO da European Climate Foundation (ECF):
“Os ministros de finanças do G-20 estão assumindo responsabilidade e é positivo que eles tenham identificado sustentabilidade e inclusividade como princípios chave para a recuperação. Isto é exatamente o que precisamos assim que a emergência da Covid-19 for estabilizada. Os ODS e o Acordo de Paris devem ser nossos mapas orientadores para que possamos nos recuperar de maneira mais sustentável. Precisamos agora de medidas claras de apoio a sistemas carbono zero, resilientes, inclusivos e baseados na natureza, que construam um mundo neutro em emissões que permita proteger as pessoas das mudanças do clima e de seus impactos mais poderosos”.
Jesper Brolin, CEO do Ingka Group (Ikea):
“Nós acreditamos que tempos excepcionais exigem uma união excepcional. Agora, mais do que nunca, a comunidade global deve trabalhar junta para reconstruir a economia que foi impactada profundamente pela Covid-19. A recuperação econômica e a resiliência podem e devem ser atingidas através de ações climáticas aceleradas, acompanhadas por medidas que permitam uma transição justa. A Ikea continua comprometida com as metas climáticas positivas para 2030 e com o Acordo de Paris. Agora, o G-20 pode liderar e mostrar ao mundo como essas palavras podem se traduzir em ação – pacotes de estímulo econômico devem nos conduzir a uma transição verde e construir resiliência de longo prazo para nossa economia e sociedade”.
Sharan Burrow, secretária-geral da International Trade Union Confederation:
“As ações do G-20 para apoiar a economia global em meio à pandemia da Covid-19 devem evitar os erros do passado e garantir que os fluxos de capital cheguem aos trabalhadores, comunidades e economias locais que mais necessitam, bem como aprofundar nossos esforços para descarbonizar a economia global de uma maneira justa. O mundo precisa de uma recuperação inclusiva liderada por estímulos fiscais para a economia e real e sem deixar ninguém para trás. Ainda que o plano de ação contenha ferramentas para apoiar os países em desenvolvimento, incluindo a suspensão dos pagamentos de dívidas por 12 meses para permitir investimentos em sistemas de saúde e na proteção das pessoas, uma recuperação global dependerá de uma resposta proporcional à escala da crise, incluindo a emissão pelo FMI de direitos especiais de saque e um plano de longo prazo para construir economias sustentáveis e resilientes”.
María Mendiluce, CEO interina da coalizão empresarial We Mean Business:
“O compromisso dos ministros financeiros do G-20 para apoiar uma recuperação sustentável e inclusiva é criticamente importante no contexto da crise dual da Covid-19 e da mudança do clima. Ambas ameaçam a saúde no longo prazo de nossas comunidades e da economia como um todo. As decisões que os governos estão tomando hoje definiram a direção estratégica de companhias e economias para os próximos anos. Esta é a melhor oportunidade para tomar decisões relacionadas a clima e sustentabilidade, a fim de evitar novos choques econômicos no futuro. A aplicação da ótica do clima e da resiliência nos pacotes de estímulo econômico de longo prazo, e o acompanhamento de medidas de recuperação econômica com ações climáticas, nos permitirá criar empregos e aumentar a resiliência de nossas economias. É essencial que asseguremos que nossas comunidades, empresas e economias possam se reconstruir melhor e emergir mais fortes do que antes”.
Maria Neiva, diretora de Saúde Pública, Meio Ambiente e Determinantes Sociais do Departamento de Saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS):
“Nossa recuperação da Covid-19 deve priorizar o ar limpo. Não podemos seguir com pacotes de estímulos que comprometerão nossa saúde com poluição crônica do ar e destruição de ecossistemas. Precisamos colocar a saúde no centro do processo decisório político para que as economias se recuperem e se tornem mais justas, mais resilientes, e no caminho certo para emissões líquidas zero de carbono”.
Sandrine Dixson-Declève, co-presidente do Clube de Roma:
“É importante reconhecer que, junto com a pandemia de Covid-19, o planeta enfrenta uma crise mais profunda de longo prazo, enraizada em um número de desafios globais interconectados. Qualquer coisa que não seja pacotes de recuperação e estímulo fiscal que facilitem maior resiliência para crises futuras apenas intensificará esses desafios e os impactos sobre a saúde e o bem-estar da humanidade. Em vez de apostar em políticas que subsidiem indústrias poluentes e insustentáveis, precisamos de uma estratégia de recuperação que esteja focada nas pessoas, no planeta e na prosperidade com soluções chave de baixo carbono: investimentos em energias renováveis ao invés de combustíveis fósseis; na natureza e restauração natural; em sistemas alimentares sustentáveis e na agricultura regenerativa; e na mudança para uma economia mais local, circular e de baixo carbono”.
[Foto: Reunião virtual do G20 Saudi Arabia]