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O impacto da Covid-19 na temporada de eventos climáticos extremos de 2020 é prova de que os riscos globais estão interligados. Ainda assim, vale evidenciar que a chance de uma pandemia ficou de fora dos 10 principais riscos globais – tanto em probabilidade quanto em impacto – na pesquisa de percepção de ameaças do Relatório de Riscos Globais, apresentado na edição deste ano do Fórum Econômico Mundial, pouco antes da pandemia. Havia um entendimento incompleto da interdependência dos riscos, como a confiabilidade das cadeias alimentares e os ataques cibernéticos – que agora todos estamos enfrentando.
Uma lição importante desta crise é que as empresas devem estar muito conscientes dos eventos de baixa probabilidade, mas com alto impacto potencial. Por isso é essencial estarmos preparados. Se em 2019 os eventos climáticos extremos causaram US$ 100 bilhões em danos, imagine o tamanho do prejuízo em 2020 que, agravado pela pandemia, reordenou nossas preocupações?
Não nos esqueçamos que os riscos econômicos ainda são as consequências mais prováveis e preocupantes da Covid-19. Mas há também implicações ambientais e sociais de longo alcance, que incluem o nível elevado de desemprego estrutural, aumento de desigualdades sociais, sanitárias e de renda, e a falta de coesão social.
Quando analisamos os riscos globais, todos exigem uma avaliação criteriosa para minimizar os impactos. O que esta crise tem nos mostrado é que temos de ser mais ágeis e aprender a nos adaptar à situação.
Essa falta de preparo é algo que as empresas devem evitar a todo o custo ao lidar com condições climáticas extremas. Uma estratégia robusta de gestão de riscos exige que desenvolvam diligentemente um conhecimento detalhado das suas operações, identificando suas partes e locais mais críticos para o negócio e com maior exposição a fenômenos da natureza. Depois disso, é preciso desenvolver planos de preparação de acordo com qualquer evento desencadeador como uma inundação, vendaval ou queimada, por exemplo. Daí a orientação de utilizar a experiência interna e externa para executar todas as ações possíveis que permitam reduzir o impacto desses eventos.
Os planos de preparação devem incluir questões relacionadas à manutenção predial, dos sistemas de drenagem e qualquer outro sistema de proteção e, o quanto antes, fazer uma inspeção visual deles e a execução de ações corretivas, bem como das proteções contra inundações como comportas e ancoragem de equipamentos. Com menos pessoas no local, os procedimentos de parada segura das operações podem levar mais tempo e, portanto, devem ser também ser iniciados mais cedo durante a evolução de um risco natural.
Após a fase preparatória é essencial ter um plano de resposta bem estruturado. O pessoal-chave que compõe a Equipe de Resposta a Emergências deve receber treinamento periódico e estar ciente de suas funções e responsabilidades com bastante antecedência.
Com as cadeias de abastecimento já gravemente comprometidas pela pandemia, devemos estar cientes de que pode ser mais difícil obter os recursos necessários para a recuperação.
Assim como a Covid-19 trará lições, as empresas têm de aprender com cada estação com condições climáticas extremas e incorporar esse feedback à sua estratégia de gestão de risco.
Se antes da crise classificávamos alguns eventos como de baixo risco ou de baixa probabilidade, agora todos precisamos rever a avaliação do impacto potencial sobre nossas organizações, com base nas lições aprendidas com a pandemia atual.
O fato é que, infelizmente, o mundo sempre estará diante de um cenário de riscos globais interdependentes. Nos prepararmos para eles é a chave para a resiliência. O desafio é pensar de forma mais ampla para além do agora. E planejar o futuro.
*Carlos Cortés é superintendente de engenharia de riscos da Zurich