A ideia de conciliar desenvolvimento econômico, conservação ambiental e bem-estar social começou nos meios científicos e acadêmicos, foi difundida pelas ONGs e chegou ao mundo dos negócios. A maior reserva privada de Mata Atlântica do Brasil contribui nesse sentido
Por David Canassa*
Em dezembro de 2015, o Brasil colocou-se como protagonista e deu exemplo ao mundo. Mesmo sendo um país de dimensões continentais, com parcela relevante de florestas conservadas, assumiu o compromisso de recuperar 12 milhões de hectares de florestas e demais formas de vegetação nativa, como parte do Acordo de Paris. Diversos instrumentos foram criados ao longo dos anos para fomentar o cumprimento desse compromisso, mas seus efeitos ainda não chegaram ao campo.
Mas dados do Observatório da Restauração e Reflorestamento indicam que cumprimos somente 0,65% da meta. Outro ponto de preocupação é com a Amazônia pois, segundo monitoramento realizado pela plataforma Terra Brasilis, desenvolvida pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o bioma perdeu 36 mil hectares de floresta em março de 2021. Esse contexto merece nossa reflexão no Dia da Terra, celebrado neste 22 de abril, juntamente com o Descobrimento do Brasil.
Diversos estudos apontam que nosso país tem a maior biodiversidade do mundo. O Catálogo Taxonômico da Fauna do Brasil (CTFB) aponta 116 mil espécies, o que representa 9% da fauna mundial. Nós, como nação, assumimos a responsabilidade de conservar os biomas, que prestam serviços relevantes na regulação do clima, com a manutenção de estoques e sequestro de carbono; a manutenção dos polinizadores, que propiciam o sucesso na agricultura; o zelo para que as florestas continuem propiciando o ciclo de geração de chuvas pelos “rios voadores”; e a saúde de todos os seres viventes, pelo equilíbrio na convivência entre campo e cidade.
O Legado das Águas, a maior reserva privada de Mata Atlântica do Brasil, localizado no Vale do Ribeira, no Sul do estado de São Paulo, tem contribuído nesse sentido. A reserva guarda 13,05% do total de espécies animais ameaçadas na Mata Atlântica, bioma que abriga 383 dos 633 animais em risco de extinção no Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do Instituto Brasileiro de Florestas (IBF).
Localizado entre os municípios de Juquiá, Miracatu e Tapiraí, o Legado tem 31 mil hectares, extensão aproximada à cidade de Belo Horizonte. Cerca de 75% da área é composta por floresta primária, composição que se tornou berço e refúgio para espécies raras e ameaçadas de extinção.
Pesquisas científicas e monitoramento de fauna e flora realizados nos nove anos de existência do Legado registraram 1.765 espécies na área. Deste total, 809 são espécies animais, sendo 50 ameaçadas de extinção. O número inclui 296 espécies de aves catalogadas no local, o que representa 40% de toda a avifauna do Estado de São Paulo. Já na flora, a lista conta com 956 espécies, sendo 9 ameaçadas. O Legado das Águas é administrado pela Reservas Votorantim, empresa do portfólio da Votorantim S.A, criada para estabelecer um novo modelo de área protegida privada, cujas atividades geram benefícios sociais, ambientais e econômicos de maneira sustentável.
A ideia de conciliar desenvolvimento econômico, conservação ambiental e bem-estar social começou nos meios científicos e acadêmicos, foi difundida pelas ONGs e chegou ao mundo dos negócios. Seja pelo enfoque das oportunidades derivadas desses desafios ou pela inovação que eles representam, os investidores já incorporaram essa visão.
Além do potencial de negócios da nova economia, o Legado das Águas demonstra o valor de uma floresta conservada, que estoca 10 milhões de toneladas de carbono, contribuindo para reduzir o aquecimento global, garantindo a quantidade e a qualidade da água do Rio Juquiá e mantendo a biodiversidade da fauna e da flora. Além disso, fomenta novas cadeias produtivas locais, colaborando com o desenvolvimento socioeconômico.
No Dia da Terra, que nos lembra de nossas responsabilidades, o modelo de negócios da Reservas Votorantim aponta soluções, atuando com gestão de territórios e soluções baseadas na natureza para negócios tradicionais e da nova economia. Isso mostra o valor da floresta em pé e prova que é possível gerar negócios com responsabilidade em áreas protegidas.
*David Canassa é mestre em Eficiência Energética, com MBA’s em Sustentabilidade, Gestão de Empresas e Meio Ambiente e Conselheiro do Conselho Superior de Meio Ambiente da Fiesp do Conselho de Gestão Ambiental do Estado de São Paulo. Diretor da empresa Reservas Votorantim, administra duas reservas privadas: o Legado das Águas, em São Paulo, e o Legado Verdes do Cerrado, em Goiás.
[Foto: Luciano Candisani/ Legado das Águas]