O sistema financeiro pode ser um grande indutor da economia em transição para bases mais sustentáveis. Mas falta até mesmo um entendimento conceitual sobre o tema entre os bancos
Fazer com que a bioeconomia da Amazônia se transforme em uma parte importante do PIB nacional é possível, mas ainda existe muita coisa a ser feita até lá, afirmam representantes do setor financeiro que debateram o tema em painel durante o Fórum de Inovação em Investimento na Bioeconomia Amazônica. Até mesmo a definição do que é bioeconomia para os bancos é uma discussão ainda em aberto (saiba mais a respeito aqui). “Se o bioma precisa existir e estar em equilíbrio para a atividade econômica se desenvolver, então é bioeconomia”, define Nabil Kadri, chefe do Departamento de Meio Ambiente e Gestão do Fundo Amazônia do BNDES.
Em termos gerais, afirma Kadri, ainda faltam ações no Brasil que deem mais tangibilidade a temas como o da bioeconomia. “As pessoas que ficam três horas em um ônibus para ir ao trabalho precisam se sentir parte dessa agenda de transformação nacional. O desenvolvimento sustentável precisa mirar na qualidade de vida dos cidadãos. Os temas ambiental e climático fazem parte de agendas de hoje e não de um futuro distante. Elas devem estar voltadas, por exemplo, para a qualidade de vida das pessoas e das cidades”, defende Kadri.
No caso específico de liberação de crédito para atividades da bioeconomia, o representante do BNDES afirma que o caminho escolhido pelo banco é o de estimular instrumentos inovadores, que possam desenvolver negócios preservando os ecossistemas. “A potência do setor, a partir de um empreendedorismo inovador, é muito grande. O que aprendemos, por exemplo, é que parcerias aglutinadoras, que tenham capilaridade para envolver as populações indígenas, os ribeirinhos e os quilombolas são importantes”, diz Kadri.
Em paralelo a isso, construir infraestrutura, como redes fluviais funcionais, acesso a energia por meio de tecnologia solar e conectividade para os povos da floresta também são gargalos que precisam ser considerados.
Mas os obstáculos vão além. Além de aspectos básicos como falta de saneamento e dificuldades de acesso pleno à educação e a saúde, existe também um outro problema a ser enfrentado para se conseguir alavancar a bioeconomia, reflete Carolina Learth, responsável pelo Desenvolvimento de Negócios Sustentáveis do Banco Santander. “Precisamos também encontrar indutores que queiram liderar essa transformação”, afirma a representante do banco privado.
Na avaliação de Learth, dentro do Santander, desde o ano passado – com o anúncio do Plano Amazônia, realizado em conjunto com os bancos Itaú e Bradesco –, passou a se ter uma outra visão sobre a Amazônia dentro na instituição.
“Existe um olhar totalmente diferente sobre a região hoje. Se a gente considerar a castanha, a pimenta o que elas representam em termos econômicos é muito pouco em relação ao potencial que existe. Queremos que a bioeconomia vire um setor importante da economia brasileira. O sistema financeiro pode ter um papel indutor nessa economia de transição”, afirma a gestora do Santander.
Atuando praticamente em todos os municípios da região amazônica, o Banco da Amazônia (Basa) também tem algumas linhas de créditos voltadas para a economia da floresta, afirma Esmar do Prado, superintendente regional do Basa nos estados do Amazonas e de Roraima. “Fazer chegar o crédito nos rincões da Amazônia é um desafio por causa de problemas como informalidade, questões fundiárias e falta de capacitação”, diz Prado.
De acordo com o representante do Basa, o setor agroflorestal é o que mais tem entrado em linhas de financiamento do banco. “Atualmente, a questão econômica, por si só, não é mais suficiente. Dependendo das questões ambientais e sociais, o projeto pode ser tornar inviável para o banco”, afirma. Ou o contrário:
Ele citou o caso de uma indústria de castanha do Brasil em Tefé (AM), que ganhou crédito do banco por movimentar uma cadeia importante na região. “O projeto até tinha algumas interrogações econômicas. Mas o impacto positivo dos desdobramentos sociais e ambientais que ele apresentava fez com que o banco tivesse apetite para apoiá-lo”, diz Prado.
A seguir, as sistematizações gráficas do painel:
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