Considerar o fator humano nos processos e fluxos de tomada de decisão é fundamental para o sucesso dos projetos e também para o bem-estar dos colaboradores – o que, por sua vez, é determinante na qualidade dos resultados e na produtividade das organizações. Guia traz recomendações práticas
A expressão fator humano – que engloba tudo o que diz respeito ao ser humano – . nos lembra que o indivíduo não é apenas um corpo, ou sua razão, ou sua emoção, mas uma composição dos três. Olhar para o ser humano, levando esse ponto em consideração, é fundamental para não criarmos rótulos ou juízos de valor de maneira equivocada. Esses três aspectos conferem tanto a nossa similaridade enquanto espécie, pois todos nós temos esses elementos, quanto a nossa diversidade, pois cada um pensa, age e sente de forma diferente, de acordo com necessidades próprias, pontos de vista, opiniões e interesses.
E eles influem, de fato, na forma como fazemos nossas escolhas. Todos nós tomamos decisões que não são 100% racionais, já dizia Herbert Simon, Prêmio Nobel de Economia em 1978, que cunhou o conceito de “racionalidade limitada” na década de 1950. Segundo Simon, o ser humano não é capaz de coletar todas as informações necessárias para uma tomada de decisão; nem há informação possível, afirma ele, para que todas as decisões sejam fundamentadas somente em análises objetivas.
Se somos múltiplos, diferentes, possuímos necessidades e interesses variados e, além de tudo, temos uma racionalidade limitada, imagine o impacto, a força e as consequências desse conjunto de características nas tomadas de decisão das organizações.
Por isso, defendo que incluir o fator humano na governança, isto é, nos processos e fluxos de tomada de decisão, é fundamental para o sucesso dos projetos e também para o bem-estar dos colaboradores – o que, por sua vez, é determinante na qualidade dos resultados e na produtividade das organizações.
Quanto mais emocionalmente seguro for o ambiente de trabalho, mais conforto e confiança os colaboradores terão em opinar e expressar necessidades, críticas, pontos de melhoria etc. Uma pessoa que se sinta bem em seu ambiente de trabalho tem muito mais a contribuir na construção e execução de projetos e isso será determinante na qualidade dos resultados da organização.
Os aspectos humanos estão presentes em todos os momentos e podem estar nos pensamentos não ditos, vieses, interesses, necessidades e sentimentos. Tudo isso influi na tomada de decisão.
A partir da minha experiência em projetos multistakeholders e convicta de que é preciso colocar esse tema sobre a mesa das organizações, elaborei um guia com dicas de como inserir o fator humano no dia a dia do trabalho. As principais:
- Crie um ambiente emocionalmente seguro nas organizações
- Promova um ambiente emocionalmente seguro nas reuniões
- Entenda que existe uma diversidade de necessidades
- Faça acordos que acolham todos
- Observe o não dito
- Tenha clareza de informação: tanto do propósito quanto dos encaminhamentos da reunião
- Conte com um facilitador para questões mais delicadas
- Faça rodadas de apreciação e feedbacks
Nessas dicas, o que prevalece é a importância de se construir um ambiente na organização em que as pessoas possam se manifestar de forma genuína, sem receio de serem julgadas de forma equivocada. É sobre tornar as relações de trabalho mais humanas, assertivas e eficazes.
Fator humano na governança é um dos temas que vieram para ficar. Se, antes da pandemia, já era desafiador entender as relações humanas, o mundo virtual as tornou ainda mais complexas, pois aquela opinião que era mais facilmente dita e aquele leve mal-estar que podia ser esclarecido em um cafezinho podem acabar engasgados e tomarem uma dimensão maior do que realmente têm. Mas, mesmo em um momento em que grande parte das relações humanas no trabalho está sendo administrada de forma virtual, é possível buscar caminhos que facilitem o alcance de relações mais humanizadas.
Lidar com as nossas emoções, nosso estado físico e mental é algo importante e intrinsecamente humano. Ao incluir esse fator na governança, os projetos têm melhores chances de trazerem o impacto desejado, por meio da atuação de equipes mais engajadas, contentes e cientes do seu papel e relevância nos resultados.
*Luana Maia é autora do guia Fator Humano na Governança. É mestre em sustentabilidade, apaixonada por psicossíntese, consultora em governança multistakeholder e, atualmente, diretora de operações e planejamento estratégico do CEBDS. Foi, ainda, coordenadora executiva da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura
[Foto: Tengyart/ Unsplash]