Segunda fase de dossiê da articulação Agro é Fogo, com lançamento em 24 de novembro, reúne análises e denúncias sobre as múltiplas dimensões da devastação ambiental e dos conflitos por terra que se dão no rastro do uso criminoso do fogo pelas cadeias do agronegócio e da mineração. Seguem informações da iniciativa:
O fogo é um elemento da natureza que sempre foi utilizado pelo ser humano para vários fins. Os povos originários e comunidades tradicionais sempre souberam usá-lo com o cuidado e a sabedoria herdadas de conhecimentos ancestrais, manejando-o de forma adequada nos mais diversos ecossistemas. O fogo é, neste caso, um elemento de conservação e fortalecimento da sociobiodiversidade.
No entanto, o fogo também é utilizado como uma ferramenta de opressão e violência. É o que acontece no Brasil, onde setores como o agronegócio e a mineração utilizam o fogo para expandir suas fronteiras, destruindo o meio ambiente, ameaçando e violentando povos originários e comunidades tradicionais e promovendo mudanças drásticas nos ambientes e territórios.
Utilizado há décadas pelo agronegócio, esse processo se acentuou com o avanço das “frentes de expansão” e de fronteiras agrícolas, principalmente no Pantanal, Cerrado e Amazônia. Durante a ditadura militar, os direitos humanos foram sistematicamente violados, mas a repressão se direcionou com ainda mais intensidade aos povos e comunidades do campo. Nos últimos anos, principalmente após Jair Bolsonaro ser eleito como presidente da República, esse cenário de destruição, violência e terrorismo através de incêndios criminosos se intensificou. Os atos organizados por fazendeiros no Pará em agosto de 2019, que ficaram conhecidos como o Dia do Fogo, seguidos pelos incêndios no Pantanal, a maior área alagada do mundo, em 2020, tiveram repercussão internacional.
Em tempos de pandemia e com um governo que demonstra abertamente seu desdém por qualquer problemática socioambiental, torna-se difícil acompanhar as informações relacionadas a esses temas e entender, com a clareza e profundidade necessárias, os impactos que os incêndios criminosos e planejados provocam na vida dessas pessoas. O dossiê da articulação Agro é Fogo busca trazer a dimensão das cicatrizes deixadas nos territórios, além de visibilizar as ações de resistência e anúncios de esperança dos povos e comunidades tradicionais.
A história se repete
Em 2021, os incêndios não terminaram. As casas de povos e comunidades tradicionais do Pantanal, Cerrado e Amazônia continuam queimando.
Este ano, o Pantanal está se recuperando com dificuldade, enquanto o número de focos de incêndio continua elevado, totalizando mais de 8 mil em 2021. Já, na Amazônia, só no mês de agosto foram contabilizados 28.060 focos de incêndio, muito acima da média de 18 mil contabilizados na década anterior à chegada de Bolsonaro ao poder. No Cerrado, o número acumulado entre janeiro e setembro foi de 51.505, a maior alta desde 2013, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Foi neste contexto alarmante que se consolidou a Articulação Agro É Fogo, como forma de reação e diante da necessidade de fazer frente aos incêndios criminosos e ao descaso de um governo. Composta por movimentos, organizações e pastorais sociais que atuam há décadas na defesa da Amazônia, do Cerrado e do Pantanal, incluindo seus povos originários e comunidades tradicionais, a articulação elaborou um dossiê que reúne análises e denúncias sobre as múltiplas dimensões da devastação ambiental e dos conflitos por terra que se dão no rastro do uso criminoso do fogo pela cadeia do agronegócio e da mineração.
Esta segunda fase do Dossiê Agro É Fogo é composta por seis artigos analíticos que tratam de temas como o impacto do acordo entre União Europeia e Mercosul, os incêndios no Pantanal, o (sub)desenvolvimento pela mineração, além de sete casos de conflitos nas comunidades envolvendo incêndios que exemplificam essas problemáticas. Através de todo esse material composto por dados e depoimentos concretos, o Dossiê enfatiza que os incêndios não são fatos isolados e sazonais, mas que fazem parte de um projeto político e que continuam assolando os diversos ambientes, as casas de povos originários e comunidades tradicionais.
O lançamento da segunda fase está marcado para esta quarta-feira, 24 de novembro, às 19h de Brasília, pelos canais de Youtube da Mídia Ninja e da Comissão Pastoral da Terra – CPT. Mais informações: agroefogo@gmail.com (65) 9 9970-1354.