A capital mineira tem o potencial de economizar R$ 2 milhões por ano com restauração florestal nas principais áreas de captação, enquanto a renda de produtores rurais pode ser elevada em até 28%, segundo estudo
Nem todos os consumidores sabem, mas deixar a água que sai da torneira límpida e cristalina tem custo – e faz parte da tarifa paga mensalmente. Entre os fatores que causam a turbidez da água captada para fornecimento estão os sedimentos gerados pela erosão do solo. Como as florestas evitam a erosão e a descarga de sedimentos nos rios, pesquisadores do WRI Brasil estudaram qual seria seu impacto sobre o abastecimento de água da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH).
Os resultados mostram que a restauração florestal de 900 hectares de pastagens altamente degradadas nas áreas de captação de água nas bacias do Alto Rio das Velhas e do Rio Manso, responsáveis por 80% do abastecimento hídrico da RMBH, tem o potencial de gerar uma economia de R$ 2 milhões por ano em custos evitados no tratamento da água. Além disso, se direcionada a modelos que atendam a agricultura familiar, essa restauração pode aumentar em 28% a renda dos produtores locais.
“A restauração e as agroflorestas possuem grande potencial para gerar renda para populações de baixa renda, impulsionando o desenvolvimento socioeconômico em áreas afetadas pela degradação ambiental, pois melhoram as condições de solo e água, contribuindo diretamente com a melhoria da produção agrícola”, diz Luciana Alves, coordenadora de projetos e pesquisas no WRI Brasil e uma das autoras do relatório Infraestrutura Natural para Água na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
O estudo mostra que a restauração melhora a qualidade da água que abastece atualmente mais de 6 milhões de pessoas na região metropolitana, e gera benefícios diretos para cerca de 170 mil pessoas que vivem na zona rural das duas bacias.
Infraestrutura verde, ou infraestrutura natural, são Soluções baseadas na Natureza, como a conservação de áreas de mata nativa e a restauração florestal, que fornecem benefícios ambientais, sociais e econômicos por meio de serviços ecossistêmicos.
Um número crescente de pesquisas – a exemplo deste estudo – tem demonstrado que a infraestrutura natural melhora os serviços e gera economia de recursos financeiros aos fornecedores de água, podendo atuar de forma complementar à infraestrutura cinza tradicional.
O estudo do WRI Brasil concentrou-se na análise do potencial da restauração florestal em pastagens degradadas das bacias do Alto Rio das Velhas e do Rio Manso e mostrou que investimentos em infraestrutura natural nessas duas principais bacias podem prevenir uma descarga de sedimentos de até 200 toneladas ao dia.
Isso resultaria em uma redução de 26,5% no uso de produtos químicos para o tratamento de água. A partir de dados de custos do tratamento de água fornecidos pela Copasa, a empresa que abastece a região, foi possível estimar a economia de R$ 2 milhões por ano no tratamento da água.
Já os benefícios para os produtores rurais foram calculados a partir de um cenário que considera a implantação de Sistemas Agroflorestais em pastagens degradadas. Segundo o estudo, a implantação de SAFs em pastagens degradadas prioritárias pode gerar um incremento de renda de até 28% para os pequenos agricultores, combinando os benefícios ecológicos com a dimensão de aporte de renda e segurança alimentar ao incluir arranjos produtivos à infraestrutura natural.
Outros estudos na região Sudeste
O WRI Brasil pesquisa o impacto da infraestrutura natural sobre sistemas de abastecimento de água potável em regiões metropolitanas desde 2018. De lá para cá, o instituto já avaliou os benefícios da restauração florestal em áreas de captação dos sistemas Cantareira (São Paulo), Guandu (Rio de Janeiro), nas bacias dos rios Jucu e Santa Maria do Vitória (Vitória) e Atibaia (Campinas).
- Em São Paulo, o WRI Brasil descobriu que a restauração de 4 mil hectares levaria a uma economia total de US$ 105 milhões que, descontados os investimentos, geraria uma economia líquida de aproximadamente US$ 69 milhões.
- No Rio de Janeiro, a restauração de três mil hectares de pastagens com alto grau de erosão resultaria em uma economia total de R$ 259 milhões e de R$ 156 milhões, deduzindo-se os investimentos.
- No Espírito Santo, a restauração de apenas 2,5 mil hectares de pastagens degradadas ao longo das duas principais bacias que abastecem a população da região Metropolitana da Grande Vitória (RMGV) pode gerar uma economia de R$ 92,9 milhões nos custos de tratamento de água em 20 anos.
- Na região de Campinas, conservar e restaurar florestas pode gerar economia de até R$ 8,3 mi por ano em tratamento de água.
Em todas as cidades analisadas pelo WRI Brasil, o retorno sobre o investimento é compatível com o que é obtido na infraestrutura convencional.
A Região Metropolitana de Belo Horizonte é a terceira maior do Brasil, na sequência de São Paulo e Rio de Janeiro. Abrange 34 municípios, onde vivem aproximadamente 6 milhões de pessoas. A maioria desses municípios (22) é atendida pelo Sistema Integrado de Abastecimento de Água (Siaa), que cobre 98% da demanda total de água da RMBH. Sua gestão está sob a responsabilidade da Copasa MG. O Siaa é composto pelos seguintes sistemas produtores:
- Paraopeba (reservatórios Rio Manso, Vagem das Flores e Serra Azul): 50,93%
- Rio das Velhas (Bela Fama): 43,31%
- Demais sistemas (Cercadinho, Morro Redondo, Ibirité, Catarina, Barreiro, Vale do Sol): 5,76% Os sistemas do Rio das Velhas e do Rio Manso são atualmente os principais sistemas de abastecimento da RMBH e juntos totalizam quase 80% da água produzida e distribuída para a população.