Ruas que recebem 350 novos carros por dia, tráfego com velocidade média de 18 km/h e vias perigosas, sem espaço para qualquer ciclista. Familiar? A cidade não é brasileira, mas os números não deixam de impressionar. Trata-se de Guadalajara, a segunda maior concentração urbana do México. Mas a maior imobilidade parece estar nas autoridades locais, que pouco têm feito para reverter isso.
Na tentativa de vencer esse tráfego e ultrapassando o comodismo, um grupo de estudantes organizou, no último dia 10 de janeiro, a construção da primeira “ciclovia cidadã” da cidade. São cerca de 5 km de vias devidamente sinalizadas e reservadas à passagem exclusiva das bicicletas. Com 12 mil pesos (algo correspondente a R$ 1.670,00), eles compraram tintas, pincéis e construíram várias engenhocas para demarcar as pistas (vídeo ao lado).
O principal meio de mobilização foi a Internet, particularmente o twitter, por meio do qual grupos conseguiram reunir interessados e executar a ideia. Um deles é o GDL em Bici, que começou com uma turma de ciclistas que se encontravam à noite para pedalar pela cidade. Hoje eles organizam uma série de atividades como workshops e campanhas sobre mobilidade urbana e discussão dos espaços públicos de convivência.
O doutorando em Planejamento e Estudos Urbanos do MIT, Onésimo Flores, classificou o evento como “obra-prima do wikiurbanismo mexicano”, estimulando a construção de uma cidade menos excludente e chamando o poder público para o centro da discussão. O texto completo pode ser acessado no portal mexicano Animal Político.
Embora pareça original, a ideia da ciclovia cidadã já havia se manifestado por aqui, em um lugar não menos previsível: Curitiba. Em 22 de setembro de 2007, na comemoração do Dia Mundial sem Carro, 50 ciclistas se juntaram e pintaram a primeira ciclofaixa da cidade. Mas o resultado foi diferente: a ação foi interrompida pela guarda municipal sob a alegação de crime ambiental por pichação. Horas depois a tinta da prefeitura já havia coberto todo o trabalho.
Para quem deseja se engajar na inclusão da bicicleta no espaço urbano, vai a dica: no site Bicicletada você fica sabendo de pedaladas organizadas em mais de 80 cidades, de quase todos os estados brasileiros. A ideia é criar massa crítica no trânsito e conquistar o respeito dos motorizados. Tudo sob o lema do “um carro a menos”.