Imagine uma área utilizada desde o começo do século XIX como um dos mais ativos distritos industriais da Europa. Ar com alto nível de poluentes, solo e água totalmente comprometidos. Esse era o cenário de Stratford, zona do nordeste de Londres onde está sendo construído o complexo destinado aos próximos jogos olímpicos, no ano que vem.
A pouco mais de um ano da cerimônia de abertura, os ingleses já estão comemorando os resultados do que intitulam como as olimpíadas mais verdes da história. Promessa que os ajudou a vencer a disputa entre as cidades concorrentes, a concepção de um projeto de jogos mais sustentáveis começou pelo terreno do próprio parque, que teve descontaminadas mais de 2 milhões de toneladas de terra.
O Parque Olímpico de Londres ocupará uma área de 2,5 km2 (246 hectares), correspondente ao tamanho do Hyde Park, um dos maiores de Londres. Depois de pronto, será o maior parque público construído no Reino Unido nos últimos 150 anos.
Cerca de 97% de todo o resíduo gerado nas demolições das antigas edificações da região foram reciclados ou reutilizados nas fundações das novas construções. Dos novos materiais, 60% chegaram por meio de ferrovia ou hidrovia, superando a meta de 50%, inicialmente estabelecida pela comissão organizadora.
O projeto ainda prevê que 100% dos espectadores chegarão aos jogos utilizando meios de transporte públicos, pedalando ou caminhando. Para atender a essa demanda, 10 linhas de trem passarão pela área do parque.
A fim de abastecer essa estrutura, a comissão projetou um sistema de energia movido a gás natural e biomassa, capaz de emitir até 50% menos carbono do que os mecanismos das construções tradicionais. Além disso, as instalações do parque também gastarão 40% a menos de água em comparação aos sistemas convencionais.
Segundo Dan Epstein, da Autoridade Olímpica Britânica, a principal diferença em relação aos outros jogos é que Londres foi a primeira sede a incorporar a preocupação com a sustentabilidade desde o início dos projetos.
“Aprendemos muitas lições com os australianos [por conta das Olimpíadas de Sydney, em 2000], mas não havia ainda um sistema integrado de gerenciamento da sustentabilidade. Foi a primeira vez que isso se tornou o centro dos projetos, como cultura da sustentabilidade”, afirmou.
Os trabalhos de definição dos fornecedores que atuariam nas obras dos jogos começaram cerca de um ano antes da abertura das licitações. A Autoridade Olímpica realizou uma série de atividades com as empresas interessadas a fim de prepará-las para as exigências que seriam contempladas nos mais de 60.000 contratos de todo o projeto.
“Desde o início, nossa proposta alinhada à sustentabilidade se comprometia em utilizar, sempre que possível, edificações já existentes e construir instalações que pudessem ser utilizadas depois dos jogos ou projetar estruturas temporárias para o restante”, disse o embaixador do Reino Unido no Brasil, Alan Charlton, durante a apresentação do filme Going for Green: Britain’s 2012 Dream (O sonho britânico para 2012), em São Paulo (veja trecho ao lado).
As edificações esportivas terão arquibancadas removíveis e arenas, como a de basquete, serão completamente desmontadas e vendidas. Dos 2.800 apartamentos da Vila Olímpica, metade já está reservada por lei à população de baixa renda. Segundo Epstein, o parque olímpico será aproveitado como centro comunitário para promover os esportes na região.
“As instalações definitivas do Estádio Olímpico poderão ser convertidas para alguma equipe de futebol. Muitas das estruturas são temporárias. No Parque Aquático, por exemplo, há piscinas de aço que serão removidas e reutilizadas em outros espaços após os jogos”.