A França acaba de lançar um plano de adaptação ‘do país às consequências da elevação da temperatura global ao longo desse século – primeira iniciativa no gênero na Europa. “Até o final do século, teremos um cenário global de alta das temperaturas, períodos de secas mais frequentes e intensos, e redução das precipitações”, declarou na última quarta a ministra do Meio Ambiente, Nathalie Kosciusko-Morizet, sem deixar qualquer espaço para dúvidas quanto ao que nos espera. O governo francês trabalha com a hipótese de que as temperaturas médias do país se elevarão entre 2 e 5 graus centígrados até 2100. Os extremos serão particularmente visíveis no verão e nas regiões mais quentes do sudoeste da França, que também terão redução do volume de chuvas.
O plano de adaptação prevê investimentos diretos governamentais da ordem de 170 milhões de euros (R$ 380 milhões) em 230 novas medidas a serem tomadas no período até 2015. É um investimento relativamente modesto – a própria ministra admite -, que vai sobretudo para mudanças normativas. O governo já havia destinado 391 milhões de euros para a resistência à elevação da temperatura nas áreas de biodiversidade, saúde e agricultura e mais 500 milhões para combater secas e inundações.
O plano anunciado na semana passada concentra-se em quatro grandes temas: água, saúde, gestão do território e florestas. A seguir, algumas das medidas propostas:
- O governo estima que haverá um déficit de 2 bilhões de metros cúbicos de água por ano em 2050, caso a demanda mantenha os padrões atuais. Por isso, o seu consumo precisará ter uma redução de 20% até 2020. A expectativa é que isto ocorra com uma diminuição das perdas na rede de distribuição de água potável e com um melhor aproveitamento das águas servidas, que podem ser usadas para irrigação ou processo industriais.
- O aquecimento dos ambientes aquáticos poderá favorecer a proliferação de mosquitos. O plano francês propõe a ampliação do controle de insetos vetores de doenças a partir de 2012, para evitar epidemias de dengue e malária.
- Nathalie Kosciusko-Morizet propõe uma adaptação da infra-estrutura ferroviária, rodoviária e habitacional às mudanças climáticas para que ela “dure pelo menos 50 anos”. Novas obras terão de incorporar os riscos associados ao aquecimento e à elevação do nível do mar. Nas cidades costeiras, por exemplo, as regras de construção civil deverão ficar mais duras. “Provavelmente seremos obrigados a proibir obras em uma série de terrenos”, disse Kosciusko-Morizet.
- A ministra falou na necessidade se aumentar a diversidade das florestas plantadas, uma vez que certas espécies empregadas atualmente pelos silvicultores não vão resistir a secas prolongadas. Ela também revelou preocupação a provável expansão dos incêndios, que poderão comprometer as florestas francesas.