Entrevista com Ricardo Barbosa, gerente de sustentabilidade da Votorantim Metais
É plenamente factível diminuir a exploração mineral com benefícios ambientais significativos, como a menor geração de contaminantes presentes nos rejeitos da mineração. A boa notícia para as empresas é a de que isso pode ser feito com retorno financeiro nada desprezível ao caixa. Ricardo Barbosa, gerente de sustentabilidade da Votorantim Metais, conta a Página22 detalhes da estratégia da empresa para desenvolver novos negócios por meio do aproveitamento de resíduos.
É possível falar em “mineração sustentável”, ou é mais realista pensar em uma atividade “menos impactante”?
Os impactos ambientais são inerentes à atividade mineradora. Mas, se considerarmos que o termo “sustentável” remete ao equilíbrio entre lucro consistente, proteção ambiental e justiça social, podemos, sim, falar em mineração sustentável. Com base no mapeamento dos principais impactos socioambientais de nossas atividades, nós nos comprometemos com uma série de ações, para minimizar suas consequências negativas e potencializar as positivas.
Por isso, a Votorantim Metais prevê, para os próximos cinco anos, investimentos da ordem de R$ 1,3 bilhão em projetos de reciclagem e reaproveitamento de resíduos, adotando essa prática como uma oportunidade para o seu negócio.
A empresa implantou em 2010 o projeto Resíduo Zero, na unidade de Morro Agudo, em Paracatu (MG). Quais são os ganhos ambientais e econômicos do projeto?
O intuito é acabar com a geração de resíduos decorrentes do beneficiamento de zinco, enquanto reduz impactos ambientais, garante a qualidade do produto, gera retorno financeiro com a venda de mais um produto e evita a construção de novas barragens (de contenção de resíduos potencialmente contaminantes). Foram investidos R$ 300 mil no projeto, com economia de R$ 20 milhões, que seriam utilizados na construção de uma nova barragem (depósito de sedimentação). O rejeito do beneficiamento do zinco é transformado em pó calcário agrícola, utilizado como corretivo de acidez do solo na agricultura. Na unidade de Morro Agudo, são produzidas anualmente 880 mil toneladas de pó calcário.
Em agosto, a Votorantim Metais inaugurou sua fábrica de polimetálicos em Juiz de Fora (MG). Que ganhos ambientais e econômicos a unidade está proporcionando ao setor mineral e siderúrgico?
Trata-se de operação na qual aproveitamos o pó das aciarias elétricas da indústria siderúrgica, uma tecnologia inovadora no País. Conferimos valor econômico a esse pó, mediante o aproveitamento dos metais que ele contém. Além de incrementar a produção de zinco, utilizamos menos matéria-prima importada, levando à redução de 80% nos resíduos gerados nessa fábrica. A reciclagem do pó de aciaria elétrica adicionará cerca 20 mil toneladas de zinco ao ano, representando aproximadamente 20% da produção da unidade. Investimos R$ 521 milhões na planta.
As tecnologias de aproveitamento de resíduos utilizadas nos dois projetos serão adotadas em outras fábricas da companhia?
Sem dúvida. A governança da sustentabilidade na Votorantim Metais prevê a formação de grupos temáticos com participação de representantes de todos as áreas de negócios, exatamente para fomentar. O desafio hoje não é apenas adotar ações efetivas voltadas para a sustentabilidade, mas também aprimorá-las cada vez mais.