Da indústria automotiva ao ramo de decoração, o ecodesigner italiano Marco Capellini trabalha para medir a sustentabilidade dos processos industriais e introduzir matérias-primas e/ou comportamentos que transformem o significado daquele produto para o consumidor. Capellini acha que o design sustentável só tem sentido quando devolve a afetividade perdida no ato de comprar. Por isso, processos sustentáveis devem gerar produtos com identidade e uma mensagem clara sobre o valor ambiental embutido. A seguir, trechos da entrevista concedida pouco antes de sua participação no projeto Diálogo Sustentável Brasil-Itália, em São Paulo.
Em que etapa estamos no tema design e sustentabilidade?
Não gosto de fazer classificações, cada país, cada pessoa tem sua estratégia e identidade. Vejo muita criatividade e originalidade no design sul-americano. É preciso desenvolver uma estratégia local e intercambiar tecnologia sustentável entre os países. Nós gostaríamos de trocar know-how e tecnologia com o Brasil.
Produtos orgânicos são mais caros que os não sustentáveis, por falta de escala e outros fatores. Isso acontece com o design?
“Design” é uma palavra ampla e abrange vários setores. O que há de comum entre eles é esse movimento na busca de componentes, matérias-primas, processos sustentáveis. Quando o preço do petróleo sobe, aumenta o preço do plástico reciclado e isso desequilibra o mercado. No Brasil, vocês consomem muito mais produtos orgânicos que na Itália. Importar seus produtos orgânicos é caríssimo para nós. Por isso, cada estratégia deve estar ligada aos recursos do território. E nós estamos trabalhando, principalmente, na introdução de matérias-primas recicláveis. Por essa razão, é importante o intercâmbio entre os países para valorizar o que cada um tem, nós como país mais industrializado e vocês cheios de recursos naturais. A Comunidade Europeia está continuamente adotando regulamentações que vão controlar a qualidade ambiental dos produtos. As empresas cada vez mais têm de se adaptar, caso contrário não podem vender seus produtos. Estamos na fase da transformação, que chamo de revolução ambiental. Dentro de pouco tempo, o aspecto ambiental será intrínseco ao produto.
Setores ligados ao design, como a moda, têm feito ações de neutralização de carbono em eventos, reciclagem de produtos. Mas o consumismo que pregam – a cada estação tudo deve ser descartado para o consumo do novo – não é incoerente?
Há 20, 30 anos, quando se comprava um produto, era criado um vínculo afetivo com ele, e hoje trocamos de celular, de computador, de roupa a todo momento. Por isso, minha lição principal aqui é a identidade do produto e a responsabilidade que cada um tem por sua compra. Com a crise financeira, na Itália, reduzimos o consumo de objetos em 10% e ninguém morreu, continuamos a comer, a ir ao estádio, a assistir à TV. Quando você compra um livro, não é pela capa ou pelas páginas de papel, mas pela história. Você quer ficar emocionado. Através do valor social e ambiental de um produto, podemos ser responsáveis na compra. Pois é isso que os produtos precisam ter: uma história, um novo significado. – por Ana Cristina D’Angelo