A julgar pelos filmes agraciados com mais indicações ao Oscar, ambientalismo e ativismo não estão entre os temas que o cinema trouxe à massa no ano que passou: tanto “O Artista” como “Hugo” enaltecem o passado glorioso da sétima arte. Mas a categoria de documentários mostra que nem todos os cineastas se esquivam de assuntos complexos. “If a Tree Falls”, sobre a Earth Liberation Front (ELF), um coletivo ativo nos anos 90 na Europa e nos Estados Unidos que usava táticas de guerrilha para cessar a destruição do meio ambiente, é um dos indicados como melhor documentário do ano.
Em 2001, antes dos ataques ao World Trade Center, o FBI declarou a ELF como a principal ameaça terrorista doméstica nos Estados Unidos, embora a intenção de seus ataques fosse causar prejuízo econômico e não medo ou mortes. Seguiram-se uma série de prisões de ativistas ligados ao coletivo. O filme acompanha um deles, Daniel McGowan, do momento em que foi acusado de eco-terrorismo por dois incêndios contra companhias madeireiras no estado de Oregon até sua prisão um ano depois. Sua pena, originalmente de prisão perpétua, acabou reduzida para 7 anos e termina em 2014.
Os diretores do documentário ouviram não só Daniel, sua família, e outros ativistas da ELF, mas os promotores do caso, detetives e vítimas dos incêndios. “É uma história que faz perguntas, não tentamos respondê-las”, diz o diretor Marshall Curry. “Como definimos terrorismo? Quando sabotagem ou vandalismo se tornam terrorismo? O que é ativismo, o que é ativismo eficaz, o que é ético?”
Em entrevista ao The New York Times, Curry disse ver uma relação entre o tema de seu filme e o recente movimento Occupy Wall Street. “Acho que o filme é um importante alerta para que ativistas pensem cuidadosamente sobre táticas, e um alerta para a polícia pense sobre suas respostas ao ativismo porque algumas levam as pessoas para a discussão democrática e outras causam a radicalização”.
Os diretores dizem ter embarcado na história de Daniel e da ELF sem uma opinião formada sobre o personagem e o assunto. O resultado, acreditam, é justo. “Se o Daniel tivesse se mostrado um monstro louco, o filme teria refletido isso, e se ele tivesse se revelado como um santo completamente inocente, o filme teria refletido isso”, disse Curry. “Mas, ao contrário, ele – como quase todo mundo que encontramos, e como a maioria dos seres humanos na vida real – mostrou tons de cinza. E foi assim que nós mostramos a ele e aos temas”.