Nadadores vencedores têm uma característica em comum que os diferencia de seus competidores: eles estão mais sujeitos ao autoengano. Estudo de 1991 concluiu que os campeões estavam mais sujeitos ao “viés de otimismo” – a tendência de alguns de nós de subestimar riscos e superestimar acontecimentos positivos (veja o estudo).
Em uma divertidíssima apresentação no TED, Shawn Achor lista os efeitos benéficos da psicologia positiva. Achor argumenta que uma atitude mais positiva em relação à vida é na verdade causa, e não consequência, de sucesso: aumenta as chances de um bom emprego (preferimos “otimistas” a “derrotistas”), está associada a maior produtividade (encaramos um desafio como oportunidade e não como ameaça), reduz estresse, aumenta a disposição, a capacidade cerebral etc. Tali Sharot, pesquisadora do viés de otimismo, parece concordar. Será que isso teria efeito positivo também para a saúde?
Usado no século XIX como uma técnica “para agradar o paciente mais do que para beneficiá-lo”, o efeito placebo tornou-se em meados do século XX a régua contra a qual a eficácia real das drogas precisa ser testada: não basta saber se administrar uma determinada droga é melhor do que não tratar o paciente; ela precisa ter um desempenho melhor do que uma “falsa droga”, de efeito inerte para a enfermidade sendo pesquisada.
O “poder curativo” de um placebo – na verdade, um atestado da influência de nosso cérebro na regulação de nossa saúde – pode ser impressionante: sabe-se hoje que duas “pílulas de açúcar” tem efeito melhor e mais rápido para tratar de úlcera gástrica, e que uma injeção de água com sal é ainda melhor do que as pílulas de açúcar – não pelo efeito curativo da água com sal em si, que é inerte, mas por se tratar de uma intervenção percebida como mais “drástica” pelo paciente. Falsas operações podem “curar”, e marca-passos melhoram o problema de insuficiência cardíaca congestiva depois de instalados… mas antes mesmo de serem ligados!
Ben Goldacre, psiquiatra e epidemiologista britânico, autor do livro Bad Science e da coluna semanal homônima no jornal The Guardian, apresenta essas e outras curiosidades do efeito placebo e de seu “irmão gêmeo maligno”, o efeito nocebo: pacientes não apenas apresentam melhorias tomando substâncias inertes, mas também apresentam os efeitos adversos esperados da droga verdadeira. É o caso de pacientes com asma respirando uma substância salina por meio de um nebulizador: quando informados de que se tratava de um alergênico, metade deles teve uma crise de asma.
O placebo pode funcionar até mesmo na direção contrária de uma substância com efeito ativo: em um experimento, um grupo recebeu uma substância inerte e outro, um relaxante muscular, mas a ambos foi dito que se tratava de um estimulante (que enrijeceria seus músculos). Em ambos os grupos este foi o efeito encontrado, mas aqueles que receberam o relaxante tiveram seus músculos ainda mais tensionados: seus cérebros interpretaram o início do efeito do relaxamento como prova de que haviam recebido a substância verdadeira (veja o estudo).
Termino com uma frase de Henry Ford: “Quer você ache que consiga, quer ache que não, você geralmente está correto.”
*Fabio F. Storino é coordenador de TI e Gestão do Conhecimento do Centro de Estudos em Sustentabilidade (GVces).