Vivemos em um mundo repleto de informações que chegam a nós em forma de ruído. Nossa capacidade de acumular conhecimento depende de melhorar a relação sinal-ruído
Você conseguiria identificar uma pessoa fantasiada de gorila? Caso esteja focando sua atenção em outros detalhes, é possível que não, concluíram os autores do estudo Gorilas entre nós. Desafiados a contar o número de passes de bola entre jogadores, apenas metade dos voluntários notou o gorila. Em uma variação do estudo publicada no início deste ano, 83% dos radiologistas pesquisados não perceberam a figura de um gorila em imagens de raios X enquanto procuravam por nódulos no pulmão. Os pesquisadores reconhecem que os radiologistas não procuravam por gorilas, mas alertam que o fenômeno da “cegueira de mudança” identificado no experimento também pode dificultar a detecção de outros problemas de saúde.
Edward Tufte (“ET”), “o Galileu dos gráficos” segundo a revista Businessweek, defende que aprendamos a dominar o poder da nossa visão, e para isso é preciso que dediquemos a ela um quinhão maior da nossa atenção. “Se lhe for dito o que deve ser observado, você não consegue enxergar nada além disso”, afirmou ET em entrevista recente à rádio pública americana. Diante da pletora de informações enviadas ao nosso córtex visual a cada segundo, o cérebro vai economizar esforço sempre que puder, e tanto registros visuais passados quanto o ambiente ao nosso redor (ruídos, contexto etc.) influenciam o resultado final do que achamos que estamos enxergando – nossos olhos captam apenas uma parte do que entendemos por “visão”.
“Ruídos” alteram nossa percepção do mundo, afetando nosso julgamento. Alunos de graduação da Universidade de Stanford foram convidados a participar de um experimento. Em uma sala, recebiam um número que, uma vez memorizado, precisava ser recitado numa sala adjacente. No corredor, eram interceptados por uma pessoa carregando uma bandeja de sobremesa que lhes oferecia duas opções: uma tigela de salada frutas ou um delicioso (leia-se: não tão bom para a saúde) bolo de chocolate. O experimento, na verdade, estava interessado no processo de tomada de decisão, e os alunos estavam divididos em dois grupos, que receberam números de dois e de sete dígitos, respectivamente.
Enquanto os alunos que memorizaram números pequenos tendiam para a salada de frutas, muitos daqueles que lutavam para memorizar números de sete dígitos acabaram sucumbindo à tentação açucarada. O que aconteceu em ambos os grupos foi uma batalha entre dois sistemas do cérebro: um mais rápido, emocional, impulsivo, e outro mais lento, racional, analítico – mais sobre isso no livro Rápido e Devagar: Duas formas de pensar. Essa disputa se repete constantemente em nossos cérebros e, no último grupo de voluntários, o primeiro sistema acabou levando vantagem.
Nate Silver, o “mago” estatístico que previu corretamente grande parte dos resultados das últimas eleições americanas, atribuiu o feito à sua capacidade de perceber o que era “sinal” e separá-lo do que era “ruído”. Vivemos em um mundo repleto de informações que, no entanto, chegam a nós principalmente em forma de ruído (agravado, ainda, pela poluição visual, sonora, e mesmo a luminosa, que nos impede de observar as estrelas à noite). Nossa capacidade de acumular conhecimento depende de melhorar a relação sinal-ruído.
*Fabio F. Storino é coordenador de TI e Gestão do Conhecimento do Centro de Estudos em Sustentabilidade (GVces)[:en]Vivemos em um mundo repleto de informações que chegam a nós em forma de ruído. Nossa capacidade de acumular conhecimento depende de melhorar a relação sinal-ruído
Você conseguiria identificar uma pessoa fantasiada de gorila? Caso esteja focando sua atenção em outros detalhes, é possível que não, concluíram os autores do estudo Gorilas entre nós. Desafiados a contar o número de passes de bola entre jogadores, apenas metade dos voluntários notou o gorila. Em uma variação do estudo publicada no início deste ano, 83% dos radiologistas pesquisados não perceberam a figura de um gorila em imagens de raios X enquanto procuravam por nódulos no pulmão. Os pesquisadores reconhecem que os radiologistas não procuravam por gorilas, mas alertam que o fenômeno da “cegueira de mudança” identificado no experimento também pode dificultar a detecção de outros problemas de saúde.
Edward Tufte (“ET”), “o Galileu dos gráficos” segundo a revista Businessweek, defende que aprendamos a dominar o poder da nossa visão, e para isso é preciso que dediquemos a ela um quinhão maior da nossa atenção. “Se lhe for dito o que deve ser observado, você não consegue enxergar nada além disso”, afirmou ET em entrevista recente à rádio pública americana. Diante da pletora de informações enviadas ao nosso córtex visual a cada segundo, o cérebro vai economizar esforço sempre que puder, e tanto registros visuais passados quanto o ambiente ao nosso redor (ruídos, contexto etc.) influenciam o resultado final do que achamos que estamos enxergando – nossos olhos captam apenas uma parte do que entendemos por “visão”.
“Ruídos” alteram nossa percepção do mundo, afetando nosso julgamento. Alunos de graduação da Universidade de Stanford foram convidados a participar de um experimento. Em uma sala, recebiam um número que, uma vez memorizado, precisava ser recitado numa sala adjacente. No corredor, eram interceptados por uma pessoa carregando uma bandeja de sobremesa que lhes oferecia duas opções: uma tigela de salada frutas ou um delicioso (leia-se: não tão bom para a saúde) bolo de chocolate. O experimento, na verdade, estava interessado no processo de tomada de decisão, e os alunos estavam divididos em dois grupos, que receberam números de dois e de sete dígitos, respectivamente.
Enquanto os alunos que memorizaram números pequenos tendiam para a salada de frutas, muitos daqueles que lutavam para memorizar números de sete dígitos acabaram sucumbindo à tentação açucarada. O que aconteceu em ambos os grupos foi uma batalha entre dois sistemas do cérebro: um mais rápido, emocional, impulsivo, e outro mais lento, racional, analítico – mais sobre isso no livro Rápido e Devagar: Duas formas de pensar. Essa disputa se repete constantemente em nossos cérebros e, no último grupo de voluntários, o primeiro sistema acabou levando vantagem.
Nate Silver, o “mago” estatístico que previu corretamente grande parte dos resultados das últimas eleições americanas, atribuiu o feito à sua capacidade de perceber o que era “sinal” e separá-lo do que era “ruído”. Vivemos em um mundo repleto de informações que, no entanto, chegam a nós principalmente em forma de ruído (agravado, ainda, pela poluição visual, sonora, e mesmo a luminosa, que nos impede de observar as estrelas à noite). Nossa capacidade de acumular conhecimento depende de melhorar a relação sinal-ruído.
*Fabio F. Storino é coordenador de TI e Gestão do Conhecimento do Centro de Estudos em Sustentabilidade (GVces)