“Sigam-nos” é a mensagem que os países menos desenvolvidos do mundo querem passar às nações desenvolvidas e em desenvolvimento quanto à mudança climática. Cansados de esperar alguma ação para reduzir as emissões de carbono, decidiram se mover.
Um representante dos 49 países menos desenvolvidos (LDC na sigla em inglês) afirmou no final de março que, embora sejam os que menos possam arcar com os custos de mitigação, estão dispostos a aceitar compromissos obrigatórios para reduzir emissões. Pelo Protocolo de Kyoto, apenas os países desenvolvidos eram obrigados a cortar emissões.
“Os LDC vão liderar pelo exemplo, fazendo”, disse Quamrul Chowdury, negociador do grupo. “Não vão mais esperar pelos outros”.
A decisão dos LDC vai ao cerne da questão diplomática climática: quem deve dar o primeiro passo? Países desenvolvidos como Estados Unidos ficaram de fora do Protocolo de Kyoto argumentando que não agiriam enquanto os países em desenvolvimento não o fizessem. Esses, por sua vez, recusavam-se a pagar o preço de um problema que, em grande parte, não ajudaram a criar.
Os países mais pobres, por sua vez, lembravam que sua contribuição para as emissões globais de gases de efeito estufa é mínima e suas populações são economicamente vulneráveis.
Ao mesmo tempo, alguns desses países são os que mais sofrem com os efeitos cada vez mais visíveis da mudança do clima. Pequenas ilhas do Pacífico correm o risco de desaparecer com a subida do nível do mar, países africanos sofrem com seca e desertificação e a maioria segue presa em uma armadilha de pobreza.
O gesto dos países mais pobres é puramente diplomático e visa chacoalhar as negociações internacionais sobre o clima. Difícil imaginar que qualquer ação por parte dessas nações tenha impacto significativo sobre as emissões globais, mas o anúncio é mais um sinal de quão aguda é a crise climática.
Os países menos desenvolvidos não são os únicos a lançar mão de táticas novas. Ambientalistas recorrem à desobediência civil e, recentemente, o cientista James Hansen renunciou ao cargo de diretor de um insituto da Nasa para dedicar-se inteiramente ao ativismo climático. Até o Fundo Monetário Internacional (FMI), normalmente mais afeito a questões do mainstream financeiro, ousou sugerir o fim dos subsídios aos combustíveis fósseis como forma de mitigar a mudança do clima.
O FMI lançou relatório há poucos dias onde estima que o mundo gasta 1,9 trilhão de dólares por ano em subsídios a combustíveis fósseis. Se tais subsídios fossem substituídos por impostos sobre o carbono, argumenta o Fundo, haveria uma redução de até 13% nas emissões globais, além de outros benefícios econômicos.
É bem provável que o cálculo do FMI seja subestimado. Mesmo assim, não há como dizer que faltam ideias ou argumentos para que os países desenvolvidos e aqueles em desenvolvimento atendam ao apelo das nações mais pobres do mundo.