Os arqueólogos não sabem se riem ou choram com o avanço das mudanças climáticas. Já não há dúvidas de que elas podem ter impacto nefasto sobre ruínas localizadas em zonas costeiras, como os templos gregos e romanos insulares que desaparecerão se o Mediterrâneo expandir. Mas os estudiosos da pré-história vão receber um pequeno prêmio de consolação: o progressivo derretimento de geleiras e neves até então eternas está revelando tesouros congelados e preservados há milênios.
Na Noruega, por exemplo, fragmentos de arcos e flechas produzidos por caçadores de renas que viveram há 6 mil anos, na Idade do Ferro, e uma túnica pré-Viking, de 1.700 anos, afloraram em regiões antes encobertas pela neve. A túnica de lã de carneiro, bastante surrada mas muito bem preservada, é uma das raríssimas peças de vestuário que sobreviveram daquele período.
A descoberta de pelo menos 1.600 artefatos nas montanhas do sul do país desde 2006 pode ser atribuída às mudanças climáticas. Na sua maioria, elas estão muito bem conservadas, mas têm de ser recolhidas rapidamente – em alguns casos em poucas horas – para que não se degradem ao entrarem em contato com ar em temperatura amena e microorganismos. Penas usadas em flechas, tecidos, lã e couro são particularmente vulneráveis a esse choque térmico.
Descobertas similares têm sido feitas em todo o norte da Europa, na América do Norte e nos Andes. No Canadá, por exemplo, foi encontrada uma arma para lançamento de dardos, usada por caçadores de caribus há 4 mil anos. O recuo da neve tem dado novas esperanças a Patrick Hunt, um pesquisador da universidade norte-americana de Stanford que tenta descobrir há décadas qual teria sido a rota tomada pelo general cartaginês Aníbal, que atravessou os Alpes em 218 a.C. com um enorme exército e vários elefantes para tentar (sem sucesso) conquistar Roma. Hunt tem feito declarações de que o degelo poderá ser instrumental para que ele conclua sua pesquisa.
“O derretimento dos glaciares é preocupante, mas isso é muito estimulante para nós, arqueologistas”, declarou Lars Piloe, um cientista dinamarquês que tem acompanhado as novas descobertas na Noruega. “Isto é só o começo”. Já existe, inclusive, uma revista especializada para profissionais interessados nessa nova corrente de investigação, o Journal of Glacial Archeology, e a principal publicação arqueológica dos Estados Unidos, Archaeology, acaba de dar um artigo alentado a respeito.
Claro, esses artefatos estão gerando um grande conhecimento sobre a vida e o comportamento dos nossos ancestrais e emoções fortes entre os arqueólogos – uma espécie de prêmio de compensação diante dos custos que pagaremos pelo aquecimento global.[:en]
Os arqueólogos não sabem se riem ou choram com o avanço das mudanças climáticas. Já não há dúvidas de que elas podem ter impacto nefasto sobre ruínas localizadas em zonas costeiras, como os templos gregos e romanos insulares que desaparecerão se o Mediterrâneo expandir. Mas os estudiosos da pré-história vão receber um pequeno prêmio de consolação: o progressivo derretimento de geleiras e neves até então eternas está revelando tesouros congelados e preservados há milênios.
Na Noruega, por exemplo, fragmentos de arcos e flechas produzidos por caçadores de renas que viveram há 6 mil anos, na Idade do Ferro, e uma túnica pré-Viking, de 1.700 anos, afloraram em regiões antes encobertas pela neve. A túnica de lã de carneiro, bastante surrada mas muito bem preservada, é uma das raríssimas peças de vestuário que sobreviveram daquele período.
A descoberta de pelo menos 1.600 artefatos nas montanhas do sul do país desde 2006 pode ser atribuída às mudanças climáticas. Na sua maioria, elas estão muito bem conservadas, mas têm de ser recolhidas rapidamente – em alguns casos em poucas horas – para que não se degradem ao entrarem em contato com ar em temperatura amena e microorganismos. Penas usadas em flechas, tecidos, lã e couro são particularmente vulneráveis a esse choque térmico.
Descobertas similares têm sido feitas em todo o norte da Europa, na América do Norte e nos Andes. No Canadá, por exemplo, foi encontrada uma arma para lançamento de dardos, usada por caçadores de caribus há 4 mil anos. O recuo da neve tem dado novas esperanças a Patrick Hunt, um pesquisador da universidade norte-americana de Stanford que tenta descobrir há décadas qual teria sido a rota tomada pelo general cartaginês Aníbal, que atravessou os Alpes em 218 a.C. com um enorme exército e vários elefantes para tentar (sem sucesso) conquistar Roma. Hunt tem feito declarações de que o degelo poderá ser instrumental para que ele conclua sua pesquisa.
“O derretimento dos glaciares é preocupante, mas isso é muito estimulante para nós, arqueologistas”, declarou Lars Piloe, um cientista dinamarquês que tem acompanhado as novas descobertas na Noruega. “Isto é só o começo”. Já existe, inclusive, uma revista especializada para profissionais interessados nessa nova corrente de investigação, o Journal of Glacial Archeology, e a principal publicação arqueológica dos Estados Unidos, Archaeology, acaba de dar um artigo alentado a respeito.
Claro, esses artefatos estão gerando um grande conhecimento sobre a vida e o comportamento dos nossos ancestrais e emoções fortes entre os arqueólogos – uma espécie de prêmio de compensação diante dos custos que pagaremos pelo aquecimento global.