Em um país onde ainda se descarta lixo nas ruas e sofás em rios, soa inimaginável um cenário de “lixo zero”, em que nada se perde, tudo se transforma e se ressignifica. Empresas e cidades citadas nesta edição de aniversário – 7 anos de PÁGINA22 e 10 anos de GVces – mostram como essa meta aparentemente utópica, inspirada na natureza, pode, sim, concretizar-se. E deve ser tomada como um norte.
Até lá, o caminho é bem longo. Implica produtos, processos e sistemas redesenhados de forma a gerar a menor quantidade possível de resíduos. Requer mudanças de hábitos e comportamento, evitando-se o desperdício, o consumo supérfluo e incentivando-se o reaproveitamento. E, nos casos em que recusar, reduzir e reutilizar não for mesmo viável, que reciclar seja a próxima etapa a ser perseguida.
Somente em último caso um resíduo deve ser descartado em aterros, pois não é demais lembrar que, do “lixo” com que erguemos verdadeiras montanhas, a maior parte é potencial matéria-prima de um novo produto. Deixar de aproveitá-la – ou, ainda, incinerá-la – em um planeta de recursos finitos obviamente não faz o menor sentido. É um luxo inadmissível.
O redesenho que se pede inclui mecanismos tributários e de mercado que punam o poluidor e premiem aqueles que prestam serviços ambientais. Aplicado a instrumentos de comando como a Política Nacional de Resíduos Sólidos, farão com que a redução e a reciclagem de resíduos sejam objetivos naturalmente perseguidos pelos agentes econômicos.
E contribuirão para estimular o novo olhar que é fundamental para transformar uma realidade nada edificante para a espécie humana, a única que gera lixo. Como mostramos na reportagem de capa, a ideia de lixo é impraticável na natureza: esta não permitiria que algo perdesse a finalidade e ficasse depositado em um canto qualquer.
Boa leitura!